PAULO FLORES
1) Na apresentação do
seu blog, assim está escrito: “Flerta com as letras, brinca com as palavras e
nas entrelinhas vai deixando sua marca”. O que ou qual o traço mais marcante
que você deixa nas entrelinhas dos seus textos?
Paulo: Eu acho que um
traço ou característica mais marcante é um pouco de rebeldia naquilo que eu
escrevo, seja em um texto que fale de amor, comportamento, seja em um texto que
fale sobre questões indígenas, racismos, questões sociais. Na maioria dos meus
textos tem um pouco de rebeldia ali. Tem coisas que eu penso de fato e não são
simplesmente retratos de uma personagem, retratos de uma situação que eu vi.
Boa parte dos textos tem uma opinião minha e que e aproveito para extravasar.
Então, o traço mais marcante é a rebeldia.
2) “Ao final de tudo
meu legado terá sido poesia”. Você é o autor desta frase poética, mas será que
a poesia é suficientemente forte e importante para ter valor como algo a se
deixar como legado? A poesia não precisa de complementos?
Paulo: Boa pergunta...
Ali eu estou falando sobre um desejo meu. Apesar da frase ser afirmativa – que
meu legado terá sido poesia -, ali eu acho que é mais um desejo meu. Quando eu
não estiver mais por aqui, que as pessoas continuem lendo aquilo que eu deixei,
os textos que eu deixei. Os poemas que eu escrevi, os textos que eu escrevi
sejam publicados, sejam reverberados, retransmitidos e que passem por gerações,
fazendo sentido para as pessoas. Hoje eu me deparo com algumas publicações
minhas, que pessoas que eu nem conheço estão replicando por aí. Eu não lancei
um livro ainda, mas eu tenho poemas premiados e que foram publicados e que
estão por aí, em alguns livros espalhados. Creio que em algum momento, algumas
pessoas vão se deparar com coisas que eu escrevi e se isso fizer sentido para
elas, já vai ter sido bacana. |E acho que a poesia, o poema pode ser
suficientemente sim, não necessariamente teria que ter complemento. Eu vejo
Paulo Leminsky, Mario Quintana, Mario Prata, entre outros. Leminsky, por
exemplo, não está mais entre nós e a obra dele e as coisas que ele escreveu
estão aí, replicadas, reverberando, fazendo sentido para muita gente, fazendo
refletir e não tem complemento. É o poema, é a letra, pura e simples, cheia de
ideia.
3) Você jogou futebol
de salão, inclusive era um goleiro com muitas qualidades: arrojado, excelente
reflexo, seguro, ágil... Quais destas qualidades de atleta, daquela época em
que jogavas futebol de salão, que você tem como escritor e poeta?
Paulo: O futsal, o
futebol de salão surgiu para mim, para atuar como goleiro, meio que de
paraquedas, meio sem querer. Foi a convite de um amigo, para suprir uma
carência, uma falta que o time tinha e eu fui para uma situação, meio que de
emergência (RISOS), sem ter planejado e acabou acontecendo. Isso se assemelha
com o que eu vivi na escrita. Eu escrevi um poema falando de adoção, que é um
tema que eu sempre atuei, como causa, por ser filho por adoção. E em um momento
eu quis homenagear meus pais e falar de adoção. E não sei porque eu encaminhei
esse poema para um concurso de poesias e esse poema acabou premiado. Foi o
primeiro que escrevi e teve um resultado muito legal e é um poema que quando eu
publico ele, as pessoas gostam muito e dão um feedback muito positivo a
respeito dele. E a partir dali eu tomei coragem para começar a publicar as
coisas que eu ia escrevendo e fui experenciando isso, vivendo isso, vivendo um
mundo novo. Fazendo um paralelo com o futebol de salão foi mais ou menos a
mesma coisa, eu não estava preparado para aquilo, eu fui conhecendo,
explorando, vivenciando e gostando. Isso foi na minha adolescência, essa
experiência com o futebol de salão e trago até hoje grandes lembranças, fiz
grandes amigos naquela época que são amigos até hoje. A poesia, o poema, a
escrita me trouxeram novos amigos de um mundo totalmente diferente, em um mundo
que era totalmente desconhecido para mim e que eu estou adorando viver. Estou
curtindo bastante fazer parte.
4) O que é mais
difícil, treinar futsal e encarar os adversários ou encontrar inspiração e tempo
para escrever? Justifique.
Paulo: O futsal é
mais difícil, porque é um esporte coletivo e ali eu era goleiro. Quem estava na
quadra ali comigo, quem estava no banco de reserva, quem estava envolvido
comigo dependia da minha atuação para ter êxito. Éramos uma equipe. No poema é
mais tranquilo. Eu escrevo quando eu quero, eu escrevo quando aparece
inspiração, eu não sou pressionado a me inspirar, não tenho prazo para entregar
nada, não tenho compromisso com o resultado. Porque eu escrevo o que eu quero,
sobre o que eu quero e na hora que que vem a inspiração. E no futsal não; a
data do jogo está marcada e ninguém vai querer saber se você está inspirado ou
não para jogar. Você vai ter que jogar naquele horário pré-determinado, vai ter
que fazer uma boa atuação e se não fizer, você vai ser cobrado por isso.
5) Há uma frase que
diz: “Avó cria memórias que o coração guarda para sempre”. Que memórias
marcantes os seus avós criaram contigo ou para ti, que o teu coração guarda?
Paulo: Sobre os meus
avós eu tenho muito gosto de falar, porque foram muitas as memórias. Eu tive a
sorte de, durante muito tempo, poder conviver, até com a minha bisavó. Meu avô
paterno faleceu muito cedo infelizmente, eu não o curti. Eu adoraria curtir,
grande flamenguista, meu avô Paulo. Mas a avó Penha, lá do Rio, a memória que
eu tenho dela são as nossas conversas sobre espiritualidade. Eu era criança na
época e ela com muita habilidade me esclarecia, tirava minhas dúvidas com muita
paciência, com muita amorosidade. Minha avó materna, minha avó Valda faleceu
faz pouco tempo, mas foi uma segunda mãe para mim. A casa dela aqui em Floripa
foi o meu segundo lar. Eu passei muitas férias ali na casa dela brincando, os
vizinhos até hoje me conhecem, me chamam por Paulinho, meu apelido na vizinhança.
A comida da minha avó, as comidas dela, as brincadeiras dela, tudo isso são
memórias muito vivas. E o meu avô, que era um “vozão”, aquele cara que você
falava que estava com desejo de comer uma rosca de polvilho, podia ter certeza
que em um ou dois dias ia aparecer uma rosca de polvilho, porque ele não sabia
o que fazer para agradar. Meu avô me levava no desfile de sete de setembro, a
gente saía para passear no centro, comprar tainha no mercado, comprar churros...
Ele sabia as coisas que a gente gostava e trazia... As tardes na casa da minha
avó, com o meu avô assistindo futebol, a gente debatendo futebol, falando sobre
o Flamengo; ele cuidando dos passarinhos dele, ele fazendo caixa de madeira com
divisória para eu guardar meus jogadores de futebol de botão. Nossa! Inúmeras
memórias. Meus avós foram sensacionais para mim. Graças a Deus eu tive a
permissão e a alegria de poder conviver e compartilhar de muitas coisas boas.
6) Qual é o seu poema
mais antigo, que você escreveu e que guardou até os dias de hoje? Pode nos
repassar?
Paulo: Meu primeiro
poema, o mais remoto é O Caminho das Flores, de fato o primeiro poema, que foi
uma homenagem que eu prestei aos meus pais adotivos e que eu acabei
encaminhando ele para o concurso nacional dos novos poetas e ele foi premiado e
publicado. É um poema que eu guardo com muito carinho. E a partir daí que as
coisas começaram a acontecer
7) “Das gavetas da
vida, algumas não abro mais, outras até remexo, há as que esqueço”... esse é um
trecho de um poema seu. Quais as gavetas que você faz questão de esquecer, de
não abrir mais e porquê?
Paulo: Pode parecer
estranho, mas tem coisas que eu gostaria de não reviver, mas esquecer eu não
consigo. E lembrar dessas coisas nos dá o norte para não repeti-las e não
aceitar que elas aconteçam novamente. Não dá para esquecer, mas dá para não
repetir ou não permitir que elas aconteçam. Só o fato da gente pensar nisso nos
faz lembrar, então não tem como esquecer. Mas eu posso citar as situações de
racismo que eu passei na minha infância, preconceito. São coisas que eu
gostaria de não reviver, mas não tem como esquecer. E são coisas atuais, que a
gente carrega ao longo dos anos e são fatos tristes. Esquecer não dá, pelo
contrário, a gente acaba lembrando e lutando contra e fazendo um movimento
diferente, não aceitando mais coisas que a gente aceitava.
8) Você é pai de um
garoto, de nome Artur. Você escreveu o poema O Grande Encontro – o relato feliz
sobre meu filho, descrevendo um pouco da relação dele com a leitura. Você o
estimula a ler de que forma?
Paulo: Meu filho...
eu estimulo muito ele com a leitura. Ele tem oito anos agora, ele lê, ele lê
muito bem. Lê gibi, lê história, lê livros sobre tubarões, sobre bichos – ele
adora. Antes de acontecer a pandemia a gente frequentava muito os sebos que tem
ali na região do centro antigo de Floripa, Fernando Machado, João Pinto. Ali
tem muitos sebos, tinham, eu soube que alguns fecharam. A gente se divertia. Eu
ia para um lado, ele ia para outro. A gente tinha um acordo de, a cada ida lá,
trazer revistinhas, gibis que ele adora, mas em contra partida, trazer um livro
também. E assim a gente vai lendo, contando as histórias para ele, fazendo a
imaginação dele viajar e cultivando o hábito da leitura.
9) O seu filho além
de te inspirar, te dá opiniões sobre seus textos, ou ele desconhece ou não
compreende aquilo que você escreve?
Paulo: O Artur sabe
que eu escrevo mas ele ainda não tem entendimento sobre o que eu escrevo; mas
ele sabe. Tanto que, no dia dos pais ele me deu dois presentes, mas o que eu
mais gostei foi um poema. Ele escreveu um poema para mim (RISOS). Eu fiquei
feliz da vida, um poema com um desenho que eu guardo e em breve vai virar um
quadro.
10) Millôr Fernandes
disse: “Criança é esse ser infeliz que os pais põem para dormir quando ainda
está cheio de animação e arrancam da cama quando ainda está estremunhado de
sono”. Você age assim também com o seu filho ou você é um pai mais flexível?
Paulo: O Artur foi
condicionado desde cedo, a dormir cedo, Geralmente oito horas, oito e meia ele
já está dormindo. Eu e a mãe dele julgamos que isso seria bom e acostumamos
assim. Ele tem, geralmente, onze, doze horas de sono, pelo menos dez horas de
sono; ele dorme muito bem. Ele não troca o dia pela noite, o sono dele é no
horário noturno, de fato. Ele acorda cedo, faz a refeição cedo, É uma criança
saudável, é uma criança que se alimenta muito bem e está sendo legal, foi uma
boa escolha. Depois a gente sabe que não vai ter muita ingerência sobre isso,
mas enquanto a gente puder doutrinando ele desta maneira, a gente vai
continuar. Ele já está com oito anos nessa rotina de dormir bem.
11) A sua escrita é
de fácil compreensão ou você gosta de usar metáforas, duplo sentido,
“pegadinhas”?
Paulo: A minha
escrita é de fácil compreensão, sim; na maioria das vezes, na grande maioria
das vezes. Ela tem uma linguagem direta, creio que ela é de fácil entendimento,
a ponto de numa academia (literária) que eu fazia parte, ela era chamada de
vira lata. Por não ter aquele linguajar antigo, rebuscado, que alguns dos
escritores se utilizam. A minha é mais direta e ela foi chamada de vira lata
lá. Mas a devolutiva que eu tenho das pessoas que leem os textos são muito
boas, elas compreendem. Metáforas, às vezes eu utilizo sim, as pegadinhas... Eu
costumo dizer que o barato do escritor é a inquietude do leitor. Do mesmo texto
escritor podem interpretar de diversas formas, de acordo com o que ele está
sentindo ou vivendo. Isso é um barato, isso é bacana!
12) Francis Bacon
afirmou: “A leitura traz ao homem plenitude; o discurso, segurança; e a
escrita, precisão”. Comente esta afirmação...
Paulo: Para mim essa
afirmação faz todo sentido. Eu sempre li muito, eu sempre gostei muito de ler.
A faculdade na qual eu me formei foi direito, então, é uma academia que você
tem que ler muito e isso se refletia na minha retórica, no meu discurso, na
minha forma de me portar e conversar com as pessoas, na busca por um
vocabulário e uma boa escrita. Então para mim, faz muito sentido esta
afirmação. Tanto faz sentido que neste
viés, eu educo o Artur dessa maneira com muita leitura.
13) Eis um trecho do
seu poema Preto no Branco: “Beijo quente e amasso / Movimento e compasso /
Equilíbrio suave / Entre o carinho e o devasso”. Você pode detalhar ou
aprofundar um pouco, estes versos? Por exemplo, como pode haver um equilíbrio
entre o carinho e o devasso?
Paulo: Preto no
Branco é um poema interessante, legal que você tenha “puxado” ele e feito esta
pergunta. Quando eu escrevi ele, eu imaginei a situação de dois amantes, numa
situação de entrega, onde você tem um amor, nessa entrega, nessa troca, e tem a
coisa devassa da sacanagem ali na hora do sexo, alternando momentos de carinho
e leveza com momentos tórridos, quentes, de uma pegada mais firme, de uma
palavra mais ousada. Aquela coisa de dar o tesão na hora e depois do gozo da
catarse, se abraçarem, trocarem carinho, depois de ter vividos, instantes
atrás, essa devassidão, esse suor pelo corpo.
14) Você costuma ler?
Que tipo de leitura ou qual autor ou autora que te agrada?
Paulo: Eu leio
bastante, eu tenho sempre um livro a mão. Ultimamente eu tenho gostado de ler
biografias e autobiografias, principalmente a de astros do rock. Estou
terminando de ler a do Marky Ramone, que conta a história dos Ramones. Tem um
livro na fila, para começar a ler, do David Grohl, do Foo Fighters. Eu li a do
Keith Richards, dos Rolling Stones – é uma autobiografia. Eu li a do Bruce
Springteen, é sensacional. E são livros que tomam tempo, porque são livros
grossos que contam em detalhes a vida desses caras, a história deles no rock,
com as bandas e isso me fascina. Mas eu gosto também do Billy Reyes, que
escreveu O Expresso da Meia Noite. Gosto muito dos livros baseados em fatos
reais. De autores nacionais eu gosto do Mário Quintana – bastante; do Paulo
Leminski – curitibano Paulo Leminski, do Mário Prata, Ariano Suassuna. Tem uma
turma muito boa escrevendo. Eu estou fascinado. Se eu pudesse ganhar a vida
lendo livro seria sensacional, mas não dá. Mas (ler) é bom demais. É um vício
que eu peguei.
15) Você carioca e
mora há anos em Florianópolis. Estas duas cidades possuem belezas naturais que
inspiram músicos, compositores escritores, poetas, enfim, artistas de diversos
segmentos. É daí que vêm a sua inspiração ou é somente uma coincidência?
Paulo: Rio de Janeiro
e Florianópolis são duas cidades sensacionais. Floripa é quase que uma mini Rio
de Janeiro. São duas cidades que eu amo, não gosto que falem mal de nenhuma das
duas. Com cenários maravilhosos, mas por incrível que pareça, paisagem e
cenário não é o que me inspira. Às vezes, eu gosto de estar neles para
escrever, mas não que isso seja a inspiração, de ver uma praia, uma imagem, uma
montanha. O que me inspira é música. A música me inspira muito, não importa
onde eu esteja. Se eu estiver sentado em uma bela praia escutando uma
musiquinha, vai me inspirar pela música, não pela praia. Até escrevi um poema
sobre isso, sobre o que me inspira e para mim é a música.
16) Você mora na
Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Qual a mágica, ou a magia que este lugar
tem que mais te fascina, encanta e inspira? E por quê?
Paulo: A Lagoa da
Conceição é um lugar fascinante, é um local onde tem cultura – cultura popular.
É um local onde você vê o artesão, as artesãs, onde você vê a turma das
antigas, os oleiros, as rendeiras, onde você vê o feirante. Onde você conversa
com todas estas pessoas e você troca excelentes ideias. Você vê músicos pela
lagoa, você vê músicos de fora, chilenos e peruanos, desfilando a arte deles na
Lagoa. Todo mundo vendendo sua arte, divulgando sua arte, nesse lugar tão
sensacional, de tão bonito que é. Isso tudo inspira; estar na Lagoa inspira.
Não que olhando a lagoa me cause inspiração, não. Morar na Lagoa, estar situado
na Lagoa eu acho sensacional. Parece que você quando sobe o morro da Lagoa, lá
em cima, quando você está naquela vista linda e começa a descer, parece que ali
tem um portal que te leva para um canto da cidade que é especial. Tenho muito
carinho por este canto, moro aqui e gosto muito dessa região: Lagoa, Rio
Tavares, Campeche. Se eu puder escolher, optar, eu não saio dessa região.
17) Existe alguma
coisa ou aspecto na poesia que você não goste ou que te incomode?
Paulo:
18) Na sua página de
Facebook, tem fotos suas praticando corrida. Correr é uma atividade que, muitas
vezes, dá a sensação de liberdade. Como você se sente mais livre: correndo ou
escrevendo poemas?
Paulo: Eu me sinto
mais livre correndo. São tipos de liberdades diferentes. Eu gosto muito de
correr em trilha e na trilha eu sinto o cheiro do mato, tem trilha que eu faço
e fica na beira do mar, tem a maresia junto. Isso me dá uma sensação de
liberdade muito grande, o vento na cara.... O vento na cara é uma coisa que eu
gosto demais, assim como eu sinto quando ando de moto. Quando me falas
liberdade entre essas duas opções, eu acho que a corrida me dá mais essa
liberdade, porque é uma sensação que vem naturalmente. É começar a correr e vem
o ventinho e se sentir livre.
19) Vamos falar sobre
livros: o que falta para que você publique o seu primeiro livro?
Paulo: Para eu publicar
o livro, faltam algumas coisas. Falta eu encontrar a editora, gráfica. A
produção vi ser independente, então falta verba. E acho que eu vou tentar um
financiamento coletivo, tentar não, realizar. Criar um projeto para realizar um
financiamento coletivo para viabilizar a publicação desse livro. Estava meio
morno e agora eu estou com uma vontade tremenda de concluir isso e lançar meu
primeiro livro. Eu quero fazer isso com muito cuidado, com muito carinho nessa
primeira publicação. Eu olho amigos que publicaram, acho um grande barato ter
uma obra constituída. Pois o livro, além da tua expressão que está exposta ali,
são palavras que não voltam mais e ficam aí, para que todo mundo veja, para que
todo mundo perceba tuas intensões, percebam teu pensamento e isso fica para o
mundo e não volta mais.
20) Tens alguma meta
como escritor, seja em remuneração, prêmios a conquistar, reconhecimento da
mídia, dos leitores?
Paulo: Minha meta
como escritor é seguir como escritor, lançar o primeiro livro e continuar tendo
inspiração para lançar o segundo, o terceiro... e não só de poemas, mas
entrando na parte de narrativas. Fazer disso não só um hobby, mas uma forma de
rentabilizar. Não tenho o objetivo de ficar rico, nem nada disso. Mas, dos
livros, dos produtos que eu penso em produzir com os escritos, eu penso em ser
sim, uma maneira de um complemento de sustento. Eu tenho a ideia de fazer uma
Kombi literária e levar a leitura, espalhar a leitura por aí. Agora,
reconhecimento de mídia, esse tipo de coisa, não. Não tenho isso; isso é uma
coisa que pode vir naturalmente, mas eu quero que muitas pessoas leiam o que eu
escrevo. Que aquilo que eu escrevo se espalhe por aí e que faça sentido para as
pessoas. Que as pessoas leiam aquilo e que possa tocá-las de alguma maneira,
como já me apontaram, que determinados textos tocam, servem de incentivo e de
reflexão. Esse é o meu barato.
21) O que te faz
escrever é um sentimento de angústia, dor, mágoa, ou de alegria, felicidade,
euforia, gratidão?
Paulo: O que me faz
escrever depende do momento; tem momento de mágoa, de extrema felicidade,
euforia, gratidão, é um misto, depende muito do momento. Já houve situação em
que eu quis me expressar sobre determinado assunto, algum assunto polêmico que
tenha me causado raiva, mas que naquele momento me faltou a palavra certa e não
me saiu nada. Porque eu venho de inspiração e tem momento de euforia, que bateu
uma música, uma inspiração que em cinco minutos já estava pronto o meu poema.
Mas o motivo em si, posso falar que não há nada muito específico. É muito do
momento e pode ter sim, alegria, euforia, tristeza, angústia, enfim, cada um
dos itens citados na pergunta.
22) Complete esta
afirmação: escrever faz bem porque...
Paulo: Escrever faz
bem porque faz com que eu expresse o que eu penso, na hora que eu penso, do
jeito que eu penso e de uma maneira que ninguém pode me conter. Eu escrevo o
que eu quero e sou responsável pelo o que eu escrevo, publico a hora que eu
quero, jogo para o mundo a hora que eu quero. E essa sensação de liberdade,
assim como a da corrida (RISOS), me faz muito bem. É libertador escrever!
23) Você é mais
apaixonado pelo Flamengo ou pela poesia?
Paulo: O Flamengo
está no meu DNA; está no meu sangue, corre nas minhas veias. E a poesia eu fui
desenvolvendo depois de grande, é uma coisa mais recente e que me apaixonei.
Hoje é uma paixão também. O Flamengo é uma poesia. Se você tirar o Flamengo só
do futebol, ele é uma poesia. Basta ir ao Maracanã para ver a sinergia da
torcida chegando no estádio, subindo a rampa, os cantos, as bandeiras das
torcidas chegando, o ritual antes do time entrar em campo, o frisson, a
batucada da torcida descendo a rampa no final do jogo, a multidão indo pegar o
metrô, o trem, o ambulante vendendo a sua cerveja, vendendo as faixas, seus
produtos, a alegria do torcedor, o sem dente junto do mais abastado... isso
tudo é poesia! O Flamengo é uma grande poesia. Observar o Flamengo em um
domingo no Maracanã é uma grande poesia. E entre p Flamengo e a poesia, se eu
tiver que comparar, o Flamengo dá uma goleada (RISOS).
PAULO FLORES