1. Conte-nos
sobre os livros que você publicou...
Leandro
Brandtner: Ainda não publiquei nenhum. Tenho alguns escritos e três ou quatro
livros. Um realmente pronto para ser publicado e outros três ou quatro parados
no computador, que espero por uma revisão, uma releitura. Eu tive um conto
publicado na revista da FURB, a convite de uma professora da faculdade. Também
tenho uma crônica publicada no livro dos quarenta anos da UFSC, onde fui um dos
ganhadores do concurso e, um livro que foi feito com uma pesquisa minha da
faculdade, sendo um livro didático publicado pela UFSC, não havendo retorno,
apenas um trabalho publicado por lá. Também tenho participação no livro “EU
CONTO! TU POEMAS!” com um conto e um poema.
2. A publicação foi você quem pagou ou foi com alguma
editora?
Leandro Brandtner: Destes, eu auxiliei nos custo do livro Eu conto! Tu poemas, os demais não paguei.
3. Seus
livros vendem bem?
Leandro
Brandtner: Nem tanto quanto eu gostaria.
4. Onde seus
livros podem ser encontrados?
Leandro
Brandtner: O livro Eu conto! Tu poemas!, pode ser comprados diretamente comigo.
5. Qual a
pior parte: escrever, publicar ou vender?
Leandro
Brandtner: Eu acredito que seja vender. Escrever é o dom, é o prazer. Com
certeza não é a pior parte. Não participei diretamente de nenhum processo de
publicação. Eu acredito que seja mais a questão da venda; aquela história que
você tenha que pegar teu livro e dizer: “O livro é meu; fui eu que escrevi”! Acredito
que seja vender
6. Você é
natural de Porto Alegre, morou no Rio de Janeiro e em Florianópolis; estas
cidades, te influenciaram ou te inspiraram na escrita, ou não há nenhuma
relação e influência? Justifique...
Leandro
Brandtner: Eu acredito que a única influência que eu tenha tido, em relação à
essas cidades, tenha sido com o nível cultural e formal da linguagem. No sul a
gente é muito mais formal e utiliza muito mais a linguagem de maneira correta,
com menos gírias. Embora cada região tenha suas gírias, mas na hora de escrever
a gente é muito mais formal e tenta ser mais correto. Acho que é a única
influência que eu tenha em relação à isso.
7. A escrita
é mais inspiração ou transpiração? Justifique sua resposta...
Leandro
Brandtner: Com certeza: inspiração! Todas as vezes que me sentei para escrever
forçado, não saiu nada! Então não adianta você sentar na frente do computador e
forçar a barra, que não sai. Estou falando de mim! Eu já escutei a história de
que você tem que transpirar, que é cinco por cento inspiração e noventa e cinco
por sento transpiração... Não! Para mim é exatamente o contrário. Se eu não
tiver inspirado, se eu não tiver a ideia, eu posso ficar sentado na frente do
computador o dia inteiro que não sai nada.
8. “O desejo
lascivo de meus sonhos anormais... Possuí-la”. Estas são palavras suas no poema
“Sobre o pedestal”. Você pode descrever quais são os seus sonhos anormais?
Leandro
Brandtner: Eu sou um escritor bastante complexo; eu escrevo de tudo,
absolutamente de tudo - e tudo que tenha a ver com o ser humano. E como eu
estudei o comportamento humano, como autodidata, por trinta e cinco anos, então
e compreendo que nós temos uma mente muito... como posso te dizer? Para quem estuda,
para quem tem interesse, que é o meu caso, de buscar tudo, todo o tipo de
conhecimento... E naturalmente que quando falamos de amor, de corpo, de sexo e
de prazer. E essas coisas estão todas vinculadas, para mim amor e sexo estão vinculados.
E quando se fala aqui “possuí-la”, nesse trecho onde eu falo “o desejo lascivo
de meus sonhos anormais”, é porque é um embate entre o instinto, propriamente
dito, e o sentimento. Então quando eu falo do desejo lascivo é porque você
simplesmente ignora o sentimento e deixa fluir o lado mais primitivo, o lado
mais animal. Então esses sonhos estão vinculados a esse embate, ou seja, quando
a gente esquece o lado sentimental e deixa sobre o controle, o lado mais
primitivo.
9. Você tem
algum receio ou medo de expressar suas ideias e pensamentos nos seus textos?
Por que?
Leandro
Brandtner: Eu sempre fui uma pessoa que as pessoas não gostam. Sou uma pessoa
que diz na cara, as coisas, a verdade, doa a quem doer. Então eu seria muito
hipócrita ao chegar e dizer, falar coisas que eu não prego, ou seja, não
condizer com aquilo que eu penso. Falar uma coisa e pensar outra, eu não sou
assim. Então, eu não tenho medo nenhum de expressar minhas ideias e
pensamentos, doa a quem doer. Principalmente porque eu escrevo do princípio que
sempre foi o de escrever para mim mesmo. Não foi o de escrever para agradar
ninguém, nem escrever para os outros, nem para um público, nem para comércio,
nada disso! Eu sempre escrevi como uma forma de aliviar o peso da minha alma.
Então eu estou pouco me “lixando” para o que as pessoas vão falar, criticar,
reclamar, se irão entender ou não irão entender. Portanto eu não tenho nenhum
medo de expressar minhas ideias e pensamentos.
10. Qual é o
sentimento ou emoção que você coloca com mais frequência nos seus textos:
alegria, tristeza, sarcasmo? Cite algum exemplo...
Leandro
Brandtner: Com certeza, é a tristeza. Eu acho que estou muito mais inspirado
quando eu estou mais triste. Acho que a tristeza é o momento em que nós estamos
mais em contato com a nossa alma e sempre quando eu escrevo de maneira intensa
e com a alma, então a tristeza está vinculada. E a tristeza, por mais que as
pessoas não gostem de “sofrência”, a tristeza ensina. O sarcasmo vem em segundo
lugar, com certeza, porque às vezes você tem que absolutamente sarcástico, nos
dias de hoje.
11. Luis
Fernando Veríssimo disse uma certa vez: “Nunca tenha medo de tentar algo novo”.
Por falar em medo, quais são os seus medos na escrita?
Leandro
Brandtner: O meu medo na escrita é apenas um, é não encontrar a maneira
adequada da ideia que eu tenho. Muitos dos meus textos são metafóricos, muitos
as pessoas não vão entender quando ler – tenho certeza absoluta disso. Eles
são, às vezes, subliminares, muita coisa está nas entrelinhas, muita coisa que
está sendo dita, na verdade não é aquilo que está sendo dito, é uma metáfora. E
às vezes, com um sentido muito mais profundo do que expressa, porque eu gosto
disso. Eu sou assim. É uma mistura de filosofia, de psicologia,
espiritualidade, tudo junto, tudo da essência do ser humano. A essência pura e
simples; a alma, como eu já disse. O meu medo é na hora que eu estou
escrevendo, eu não conseguir expressar aquilo que estou querendo dizer, mas, em
mim. Por exemplo, se eu quero dizer que a chuva é ácida, eu não vou dizer
simplesmente “a chuva é ácida”, “o ácido sulfúrico está caindo do céu”, não é
bem isso que eu tenho que dizer. Então eu tenho que encontrar um termo mais
adequado para o que eu quero representar com esta chuva ácida. De repente, os
sulcos que ficam na terra depois da água cair e ela derreter a solidez do solo.
Talvez fosse a forma mais adequada. Ou seja, o meu medo é de não estar
satisfeito comigo, ao expressar uma ideia.
12. Você
joga xadrez muito bem. E este jogo necessita de imaginação, raciocínio e
criatividade, assim como a escrita. Você acredita que isso seja verdadeiro ou é
apenas uma mera coincidência? Justifique....
Leandro
Brandtner: Eu acho que existe um componente no xadrez a mais, que é a lógica. O
fato da lógica ser aplicada ao xadrez, te dá uma dinâmica de previsão. A grande
aplicação do xadrez, se a gente fosse aplicar o xadrez no ato de escrever, não
se trata bem da imaginação, raciocínio e da criatividade, mas na percepção
futura dos acontecimentos. Um escritor tem que saber o que vai acontecer, por
mais que, às vezes você perca o controle dos seus personagens, tu sabes, lá na
frente o que vai acontecer. É como você faz no xadrez, tem que prever três,
quatro, cinco jogadas à frente, tuas e de teu adversário. É muito mais nesse
aspecto. E creio que ajuda o raciocínio; o xadrez é algo que te ajuda no
raciocínio, você pensa com mais rapidez, com mais fluência.
13. Muitas pessoas
acham que escrever é difícil? É por causa das regras gramaticais, ou é preguiça
mesmo?
Leandro
Brandtner: Acho que não é nenhum, nem outro. Escrever é um talento, é um dom.
Obviamente nós vivemos em uma sociedade muito comercial, onde muitos escritores
vendem muito mais pela propaganda, do que propriamente por ser uma boa obra.
Vide Cinquenta Tons de Cinza, que, por exemplo, é uma porcaria, no entanto
vendeu muito. Mas como obra, você vai ver, é uma porcaria. Então eu acho que
escrever é um dom. É a mesma coisa que você chegar para mim e me pedir para
desenhar; eu não consigo desenhar nada. Eu amaria saber desenhar, mas eu não
sei desenhar. Então se aplicasse a mesma pergunta assim: “Muitas pessoas acham
que desenhar é difícil, isso por causa do desenho, do lápis ou por preguiça”?
Não! É talento. Regras gramaticais você não precisa saber, porque escrever é
quase como um ato intuitivo, depois quando você for ler e reler o que você
escreveu, aí você vai se preocupar com regras gramaticais. Quantas vezes você
está escrevendo e você simplesmente palavras chave? Você não coloca uma frase
certa, formal, coerente. Você coloca palavras chave para constituir a sua ideia
e depois disso você vai consertar e construir o seu raciocínio e a grafia
correta. Às vezes ocorre isso. Não creio que seja por regras gramaticais. Por
preguiça, sim. Se as pessoas tem preguiça para ler... E às vezes nem é preguiça
para ler... Eu mudei o meu ponto de vista a respeito disso, até porque eu mesmo
parei um pouco de ler. Existe o fato de que você perde quatro, seis horas por
dia lendo um livro e você pensa que poderia fazer outra coisa no momento.
Então, às vezes, não é o fato da preguiça, mas o fato deque você pensa que
poderia fazer outra coisa no momento. Mas o ato de escrever não, porque você,
ao escrever, você está construindo algo, por exemplo, você está fazendo o que
gosta. Então, geralmente, eu acredito que está mais associado ao seu dom e ao
gostar de fazer, do que por regras gramaticais
14. Normalmente,
todo escritor ou escritora tem um jeito peculiar, ou um estilo próprio para
escrever. Qual é o seu estilo de escrita?
Leandro
Brandtner: Eu tenho um estilo próprio. Por exemplo, se for publicado meu conto,
eu não uso nomes, os personagens não tem nomes. Eu não utilizo nomes
especificamente. Obviamente que em um romance sim, é necessário. Outro detalhe:
são mais contos reflexivos, é até difícil de explicar. “As vezes você não sabe
o que realmente está lendo ali”. É um conto, mas ao mesmo tempo é uma reflexão,
mas a reflexão está contando alguma coisa. Então se misturam vários estilos em
um mesmo texto. Muito pouco eu mantenho a linearidade, obviamente, alguns sim.
Principalmente os metafóricos não tem uma linearidade. E como disse
anteriormente, aquilo que você está lendo não é aquilo que você está lendo,
porque são metáforas. Embora o texto seja absolutamente claro a respeito
daquilo que você está lendo ali como um conto. Eu posso, por exemplo, estar
escrevendo o conto da casa e você estar lendo tudo sobre uma casa, só que eu
não estou falando nada sobre casa. Então para quem está lendo é a casa, só que
eu não estou falando da casa. Isso é um estilo meu, justamente pela questão da
alma. Foi o que eu disse, a alma não é tão somente você colocar a sua vontade,
mas alma é algo mais complexo, parece que ela consegue captar algo mais
profundo. E as coisas profundas da alma não são ditas com palavras tão simples,
principalmente quando sua alma é bastante complexa.
15. Você tem
algum texto que escreveu mas não ousa publicar ou mostrar para alguém? Se sim,
o que ele trata? Se não, que tipo de texto você não mostraria para as pessoas?
Leandro
Brandtner: Eu já escrevi pornografia e não mostro para ninguém, porque as
pornografias que eu escrevi foram escritas para pessoas com a qual eu tinha um
convívio íntimo. E acho que determinadas coisas não... (neste momento Leandro
não encontra as palavras certas). Assim como tem muita coisa... Porque nós
vivemos numa sociedade hipócrita. Por exemplo, se ouve falar muito de pedofilia,
pedofilia, pedofilia, porque é isso e aquilo e você entra em chats de sexo e
mais da metade são pedófilos. Eu já fiz essa pesquisa. Então existe uma grande
hipocrisia nessas questões, principalmente ligadas a tabus e sexo. Há coisas
que as pessoas não gostam de ver “na cara”, não gostam que mostrem as verdades;
não querem que peguem a sua sujeira e tire debaixo do tapete e mostrem para
todo mundo ver. As pessoas são assim. Não adianta eu chegar e dizer que vou
escrever um texto pornográfico e vou publicar, porque tem coisas que as pessoas
não vão querer ver, pela hipocrisia. Aí não tem a ver exatamente com o medo,
mas simplesmente porque não vale a pena
16. Atualmente,
a maioria das pessoas vive grudada em um celular, conversando simultaneamente
com várias pessoas ou acessando a internet. Você acredita que essa facilidade
tecnológica seja mais benéfica ou maléfica para um escritor? Por quê?
Leandro Brandtner: A maldade não está na tecnologia, mas em quem faz mal uso dela. A tecnologia ajuda e a gente sabe disso, em muita coisa. O fato e você escrever, você tem um editor de texto, antigamente você pegava uma máquina de escrever, para corrigir você tinha que pegar uma fita, bater a tecla de novo e arrumar. Hoje você chega em um computador você tem o word, bate, corrige, apaga, deleta, faz tudo ali, rapidamente, tabula, enfim... Não tem como negar os benefícios da tecnologia, o problema é para o que que a tecnologia está sendo utilizada. Malefício é o ser humano e não a tecnologia. O ser humano evoluiu tecnologicamente e muito. Só que como ser humano, nada! Até o fato de eu te enviar as respostas via celular; se fosse escrever e enviar por uma carta... Não há dúvida alguma que a tecnologia é benéfica, quem é maléfico é o ser humano que faz mau uso da tecnologia.
17. Millor
Fernandes disse: “Para pensar melhor faça exercícios com a cabeça”. Você pratica
algum exercício para a mente?
Leandro
Brandtner: Eu jogo vários jogos no computador, em que exercito a cabeça. Estou
sempre criando, sou criativo o tempo todo. E quando eu não estou criando um
escrito, eu estou em um jogo que me faça usar a capacidade criativa. Além de
lógica e outras coisas mais. Talvez a única coisa que eu devesse voltar a fazer
é, realmente ler. Embora eu leia notícias, mas é muito pouco, não é uma coisa
que eu fique ali o tempo todo. É importante, sim, fazer exercícios com a
cabeça, só que está mais limitado ao uso do computador.
18. As
palavras difíceis ou incomuns no nosso cotidiano, te fascinam na escrita ou
você faz questão de escrever do jeito mais simples possível? Justifique...
Leandro
Brandtner: Eu sou absolutamente complexo e estou pouco me lixando se a pessoa
vai ter que usar o dicionário procurar o significado da palavra que eu
utilizei. Se eu gosto de uma palavra, aliás o nosso português, às vezes tem um
problema, pois nós temos uma palavra com vários sinônimos, mas ao mesmo tempo
tem algumas palavras que faltam sinônimos. Você não consegue substituir aquilo e
aí você tem que mudar uma frase inteira porque não conseguiu achar uma palavra
que coubesse naquele significado que você gostaria. Como falei anteriormente, por
exemplo, o meu medo de não conseguir encontrar a maneira correta de expressão.
Eu gosto de palavras difíceis, eu gosto da língua culta, eu gosto de escrever correto,
não gosto de gírias. Isso é um problema, por exemplo, se em um romance eu lido
com um personagem pobre, ele fala cheio de gírias e não fala o português
corretamente. Aí sou obrigado a verter, mas de um modo geral. Em textos
reflexivos, dificilmente você vai ler algo muito simples. Se eu estou usando
termos simples, é porque aquele texto tem por objetivo ser simples. Mas no uso
normal, se eu tiver que escolher, optar por uma palavra difícil ou.... Ah!
Exodrama ou um drama de seis faces? É óbvio que eu vou usar um exodrama.
19. Você já
está preparando o próximo livro, ou ainda é cedo para pensar sobre isso?
Leandro
Brandtner: Eu já estou com Limite Zero
pronto. Estou escrevendo Limite Zero – Volume Dois. Estou tendo que fazer a
revisão total, praticamente estou tendo que reescrever o livro Lord da Solidão –
ele foi escrito em oitenta e nove: dois primeiros meses de oitenta e nove, nos
dois primeiro meses de noventa e nos dois primeiros meses de noventa e um. Há
muita coisa lá que não faz mais sentido, no dia de hoje, se ele fosse publicado
no dia de hoje. E algumas coisas eu já amadureci muito mais. E esse livro é “O
LIVRO” para mim. É o meu filho, o filho que e não tive. E continuo a escrever.
Tive uma parada e teve um convite para mandar um poema, na verdade é um concurso
para ver quais poemas serão publicados e o meu poema vai ser publicado. Mas não
estou escrevendo com afinco, estou meio sem vontade. Mas de escrever a gente
não para. E eu também tenho um outro projeto que é escrever meu próprio tarô e
o eixo dele, pelo menos está feito. Não é bem um tarô, mas eu digo tarô para
ficar mais fácil de compreender. É um livro de oráculo, mas está parado também.
Quando as ideias fluem, eu sento e escrevo alguma coisa, mas não estou me
obrigando a nada. Estou apenas me deixando levar, esperando para ver o que
acontece.
Meu amigo, obrigado pela entrevista e pelo seu árduo trabalho de transpor os áudios. Do tanto tempo em que nos conhecemos, penso até que minhas respostas para ti são apenas rememorações apenas, ou respostas diretas à questões direcionadas, porque de certo modo, sabemos como um e o outro pensa. Obrigado pela divulgação. Aquele abraço!
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