Celestino Sachet lança inventário da literatura catarinense de ficção
Pesquisa levou uma década para ser concluída e tem mais de 600 páginas na versão integral
A Literatura dos Catarinenses - Espaços e Caminhos de uma Identidade, título da extensa pesquisa de Celestino Sachet, levou mais de uma década para ser concluída, contemplando prosa, poema e teatro de cerca de 1600 autores catarinenses. O estudo ganhou também uma versão reduzida, com ilustrações de Rodrigo de Haro.
Nascido em 1930, no município de Nova Veneza, sul de Santa Catarina, Celestino Sachet foi advogado e professor da Universidade Federal de Santa Catarina. Ao lado do irmão, Sérgio Sachet, comandou o programa de televisivo Santa Catarina: 100 Anos de História, exibido no final da década de 1990. Hoje, aos 82 anos, titular da cadeira número 15 da Academia Catarinense de Letras e com mais de 20 livros publicados, Sachet tem uma certeza: ainda há muito o que fazer.
Confira entrevista com o autor:
DC - Por que uma literatura dos catarinenses?
Celestino Sachet - Quando eu estava fazendo a pesquisa para o livro atual, nesses mais de dez anos, me dei conta de que muita gente, inclusive aqui em Santa Catarina, nega a existência de uma literatura catarinense. Ou seja, negam que tenha uma literatura, com uma marca específica, que se se diferencie ostensivamente das demais, de cada Estado. Eu, então, pensando mais a fundo, achei que, na realidade, quem escreve o livro aqui em Santa Catarina não é a cultura catarinense, mas o homem, o indivíduo. Então, quem é catarinense? Segundo o critério que todo mundo adota, é catarinense quem nasce em Santa Catarina, quem mora em Santa Catarina e também, eu diria, quem esteve em Santa Catarina e que, em determinado momento, foi catarinense. Ou seja, eu de certa forma me livrei do problema da literatura de Santa Catarina e da literatura catarinense, porque, quando eu digo "dos catarineses", nem Jesus Cristo pode negar que seja.
DC - Além do fato de serem catarinenses, há uma identidade possível entre esses textos e autores?
Sachet - Eu diria que há uma identidade em caminho, uma personalidade em caminho. Embora não se possa insistir, o fato é que um livro escrito aqui na região do Litoral, por um pescador, é bastante diferente, por exemplo, de um livro que recebi agora, ali de Orleans, sobre a imigração no século passado. O problema, agora, é daqui para o futuro descobrir o que há por trás dessa literatura que está sendo publicada, já que cada região do estado tem características próprias, pelo menos na questão do conteúdo do que é escrito. Então, eu diria que há alguma coisa em andamento, não se pode negar.
DC - Como foi organizada a pesquisa?
Sachet - Foram dez rápidos anos, durante os quais consultei as publicações das editoras, frequentei sebos e, claro, comprei muitos livros. Hoje estou praticamente dormindo no meio de livros. Também foi preciso coletar jornais e andar por cidades do interior de Santa Catarina. Eu gostaria de ter colocado todos os autores catarinenses nessa pesquisa, mas tenho consciência absoluta de que não consegui. Em geral, peguei os autores que têm no mínimo dois livros publicados. Como eu falo que é uma literatura dos indivíduos catarinenses, foi preciso dar uma pequena biografia de cada um. Então, foi dessa forma: localizar o autor, localizar o livro e fazer algumas observações rápidas sobre o livro.
DC - O que o manteve motivado durante mais de uma década?
Sachet - O meu namoro com a literatura e a minha paixão pelo livro. Sempre gostei muito de ler. Não tenho outro hobby, não jogo futebol, não tenho o hábito de ir à praia, embora até faça algumas caminhadas, mas meu prazer e minha convivência maior sempre foram com o livro. Até porque fui professor de literatura brasileira, então eu tinha a obrigação, para ensinar na universidade, de ter a informação a mais ampla possível.
DC - Quais os próximos planos?
Sachet - Estou finalizando a pesquisa sobre a literatura de não ficção. São ensaios de autores catarinenses sobre História, Economia, Filosofia, Direito etc. Devo ficar envolvido com isso até o final do próximo ano. Depois, então, estou pensando em reunir os textos que escrevi ao longo dessa vida. São análises literárias. Adoro ler e tirar conclusões sobre o que os outros escreveram, é o papel do crítico. Aliás, particularmente, não gosto do termo crítico. Prefiro a palavra analista. Crítico parece uma autoridade. Analista é descompromissado, eu faço uma análise, outro pode fazer uma diferente. Mas isso é um projeto para daqui quatro ou cinco anos...
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