Livros que eu publiquei e também, livros que eu li. Com o passar do tempo, eu atualizarei este blog com informações. Mas como não tenho muita paciência para mexer na página e ter que inserir novos dados, talvez eu demore um pouco para atualizar... Também serão inseridas postagens relacionadas à escrita e à leitura, quando eu julgar que sejam relevantes, com os devidos créditos.
terça-feira, 21 de julho de 2020
PROFISSÕES QUE DEPENDEM DA ESCRITA
terça-feira, 30 de junho de 2020
7 CASAS DE ESCRITORES QUE DESPERTAM O TURISMO LITERÁRIO NO BRASIL
O presidente substituto da Embratur, José Antônio Parente, afirma que é um nicho de turismo cultural dedicado a quem quer conhecer de perto a vida e pensamentos de autores e artistas aclamados. “Procuramos oferecer opções de viagens a todos os públicos e gostos, acalorar as discussões literárias e aproximar fãs e escritores de forma casual”, diz Parente. O Diário do Turismo lista algumas das mais conhecidas casas que recebem visitantes:
Museu Monteiro Lobato (Taubaté/SP)
Taubaté, no interior paulista, é outro município que tem um museu dedicado a um escritor. Neste caso, Monteiro Lobato. O museu oferece uma experiência única no mundo de Pedrinho e Narizinho, personagens do ‘Sítio do Pica pau Amarelo’, a obra mais famosa do escritor. Por lá é possível conhecer a casa que foi de seu avô, o Visconde de Tremembé, e apreciar mobiliário de época.
Cora Coralina (Cidade de Goiás, GO)
Na pequena Cidade de Goiás (GO) uma pequena residência é parada obrigatória para quem chega à cidade. É onde morou Cora Coralina. A casa recebe mais de 30 mil turistas por ano. Por lá, os visitantes têm acesso a objetos pessoais, fotografias, vestidos, livros, cartas e outros manuscritos, além da máquina de escrever usada pela autora. A poetiza produziu obras de renome mundial e o espaço é um verdadeiro museu de acesso às obras e história de sua vida.
Casa de Stefan Zweig (Petrópolis, RJ)
Petrópolis (RJ), conhecida como a Cidade Imperial, é outra que tem uma série de empreendimentos ligados a autores e artistas. O município traz em seus casarões e palácios a imponência do período imperial e recebeu muitos intelectuais durante as primeiras décadas da República. A influência europeia, principalmente germânica, é marcante. Foi essa pequena cidade dos trópicos encravada nas montanhas que, em 1936, atraiu a atenção de Stefan Zweig (1881-1942), renomado escritor austríaco de origem judaica. Atualmente, existe um Museu-Casa em sua homenagem.
Casa das Rosas (São Paulo, SP)
Quem visita a famosa Avenida Paulista muitas vezes não imagina que em pleno coração financeiro do Brasil exista um espaço dedicado a memória de um escritor. Pois bem, existe sim e é a Casa das Rosas, instituição ligada a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. A Casa abriga o acervo do poeta Haroldo Eurico Browne de Campos, mais conhecido como Haroldo de Campos. Atualmente, diversas atividades literárias e culturais acontecem por lá e muitas ligadas à poesia.
Casa de Cultura Mario Quintana (Porto Alegre, RS)
A Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre (RS), é outro exemplo de espaço que promove a vida de um autor. O local é um antigo hotel da cidade onde o poeta morou por 20 anos. Por lá acontecem apresentações de cinema e encontros de literatura e serve de recinto para que artistas de todos os tipos mostrem o próprio trabalho.
Casa de Guimarães Rosa (Codisburgo, MG)
A cidade mineira de Codisburgo, no interior mineiro, guarda um acervo de um dos mais importantes escritores brasileiros: Guimarães Rosa. Tudo está em um espaço preservado e concebido como centro de referência para contar um pouco de sua vida e obra. O escritor nasceu e passou a infância no município distante 120 km de Belo Horizonte. São cerca de 700 documentos, como fotos, certidões, mapas, discursos, correspondências e originais manuscritos ou datilografados, a exemplo de ‘Tutaméia’ – sua última obra publicada.
Museu Casa do Rio Vermelho (BA)
Salvador é uma das recentes capitais brasileiras que ganhou um espaço para relembrar a grande produção de seu autor mais lembrado nacionalmente. O Museu Casa do Rio Vermelho é antiga residência de Jorge Amado e de sua esposa Zélia Gattai. O local abriga 15 ambientes internos que recontam a vida do casal, cujas cinzas estão depositadas no jardim da casa. O museu abriga salas onde ocorrem atividades como projeções de depoimentos sobre o autor e leituras feitas por personalidades, bem como a cozinha de Dona Flor, uma das personagens de Jorge Amado.
ENTREVISTA DE RICHARD BACH
- Voar está presente na maioria dos seus livros. O que voar significa para você?
Bach - Para mim, é uma expressão do que nós somos. Voar é um passo para expressar o espírito que todos nós sentimos e que é ilimitado. O avião é um meio de descobrir este espírito que está em mim e que não quer estar amarrado pela gravidade ou pelos limites. Somos expressões puras e ilimitadas de vida e de amor. A mágica do avião é um espelho da mágica do nosso espírito. Para voar qualquer avião, você deve acreditar em algo que não vê, na aerodinâmica. Isto é um grande princípio espiritual. Como isso voa, se é mais pesado que o ar? Graças à aerodinâmica. É só nos movermos a 15 milhas por hora e esta mágica acontece, este princípio nos levanta no ar. E quanto mais nós aprendemos sobre aerodinâmica, mais liberdade, vôo e poder nós temos. E quando aprendemos sobre nós mesmos e sobre o que está nos guiando, seguindo aquilo que realmente amamos, um princípio irá nos sustentar.
Bach - Nós sempre vivenciamos coincidências em nossas vidas. Há um princípio nestas coincidências. Se nós estamos fazendo o que nós amamos, tentando dar o máximo de nós mesmos para dar de presente para o mundo aquilo que nós aprendemos, aquele princípio pode nos ajudar. Fernão Capelo Gaivota foi rejeitado por todos os grandes editores de Nova York. Mas a coincidência veio para mim na forma de duas pequenas correspondências que chegaram no mesmo dia. Em uma delas, havia meu manuscrito de Fernão Capelo Gaivota e uma nota do meu agente dizendo: "Richard, eu gosto da sua história e eu sei que você ama seu pequeno Fernão, mas ninguém em Manhattan vai imprimir esta história. Vamos deixÁ-la de lado". A outra correspondência era de uma editora de Nova York e dizia "Richard Bach, eu li alguns de seus livros e os achei interessante. Por acaso você tem algum manuscrito que não esteja comprometido com outra editora?". E, claro, eu tinha. Essa carta era de um editor diferente de uma editora que já havia rejeitado a história. Contei que ela já havia sido rejeitada, mas a moça foi cobrar esta decisão. De tanto que insistiu, a editora decidiu publicar, mas deram um orçamento bem baixo. Foram impressas somente 5.000 cópias. Depois que a história foi vendida, a editora pediu para eu encontrar um jeito de ilustrar a história. Então o princípio da coincidência veio novamente. Tenho um grande amigo que é fotógrafo e eu costumava dormir em seu estúdio quando ia para Nova York. Contei a ele que precisava ilustrar o livro e ele perguntou se poderia ser com fotografias. Eu disse que ficaria bem, mas que tínhamos um orçamento muito pequeno e não daria para contratá-lo para fotografar gaivotas. Ele não disse nada, só sorriu, pegou uma caixa e trouxe para eu abrir. Dentro havia 36 fotografias, todas de gaivotas. Dois anos antes, quando ele estudava fotografia, seu instrutor, que gostava do trabalho dele, lhe deu recursos para que tirasse as fotografias que quisesse, onde bem entendesse. Ele sentiu vontade de tirar fotografias de gaivotas. Nunca as tinha usado ou publicado. Estavam guardadas naquela caixa até que eu cheguei perguntando como é que eu ia ilustrar o meu livro. Foi inacreditável.
Bach - Fernão Capelo Gaivota foi o meu livro que vendeu o maior número de cópias. Foi traduzido em 45 línguas e é para mim um livro de sucesso. Mas a definição de sucesso para um escritor é quando ele alcança a última página de seu manuscrito, vivencia todo o livro em torno da última frase que escreve e sente que gosta. Naquele ponto o livro é um sucesso. Se vai ou não vender, é uma história completamente diferente, é sucesso comercial. Aquele princípio que eu te falei é atraído por quem leva seu trabalho adiante, por quem faz aquilo que realmente adora. Uma idéia para ser expressa precisa de algumas pessoas. Fernão Capelo Gaivota precisou de mim, porque havia a idéia de que alguma coisa poderia ser dita sobre o espírito humano através da gaivota. Então o princípio disse: pegue esta pessoa que adora voar, que adora gaivotas e lhe dê esta história.
Bach - Não importa o que seja. Pode ser negócio, publicidade, estrelas, qualquer coisa que nos puxe. Nós pegamos a dádiva que é o nosso amor e aplicamos para qualquer lado, e damos este presente para os outros que nos agradecem comprando nossos livros, nossos produtos, indo ao cinema. Temos que acreditar no que amamos. Somos levados. Mas também temos a escolha de virar as costas para isso.
Bach - Se há uma linha que corre por todos os meus livros é a da descoberta daquilo que nós realmente somos, dos dons e poderes que nós temos na ponta dos nossos dedos. Todos nós sentimos isso quando crianças. Todo mundo se sente de alguma maneira especial, mas assim que nós aprendemos a falar e crescemos em sociedade, muito freqüentemente nós somos rebaixados. Então nos dizem que há bilhões de pessoas no planeta, que não somos nada de especial. Então muitas pessoas jogam fora aquela pequena chama. E talvez aquela chama seja diminuída e só sobre uma faísca. Mas nós podemos em qualquer tempo da nossa vida lembrar dela, nos permitindo fazer o que nós sempre quisemos fazer. O que cabe a nós fazer não é o que as outras pessoas queriam que nós fizéssemos. É o que nós sentimos que sempre amamos. Acho que esta é a chave para viver uma vida alegre, mas não é uma vida fácil.
Bach - Eu acredito que todos nós ganhamos um presente quando nascemos, e isso pode fazer a gente transformar o mundo a nossa volta. Este presente é chamado imaginação. Muitas vezes nós damos muita importância para o que as pessoas dizem sobre nós e achamos que temos que viver a vida como elas gostariam que nós vivêssemos. É nossa escolha. Se fizermos isso, iremos sentir que "alguma coisa está faltando". Se chegarmos aos 100 anos, continuaremos a sentir que alguma coisa está faltando. Por outro lado, nós também temos a escolha de seguir o que o nosso coração manda. É claro que há um custo, um preço a pagar. No início será muito difícil, a primeira coisa que nós veremos serão obstáculos. E vamos nos perguntar por que erramos ao tomar esta decisão. Encontraremos um caminho cheio de tempestades e neve, mas é tudo parte de um teste, para vermos se realmente estamos dispostos a colocar a nossa vida nisso. Se eu resolver ir por este caminho, mesmo correndo o risco de morrer congelado, alguma coisa mágica irá acontecer. É como fala Paulo Coelho no "Alquimista". É importante saber que vamos morrer congelados, mas irmos mesmo assim. Estarei demonstrando minha verdade, meu amor, e aquilo se tornará uma bênção. Aí vem o próximo passo, cujo obstáculo pode ser fogo, mas nesse momento nós já teremos aprendido com a neve e não teremos mais tanto medo do fogo. Assim nos tornaremos imunes ao gelo, à prova de fogo e o aprendizado terá crescido dentro de nós até que chegaremos a um tipo de serenidade que nada poderá atingir. Quando uma pessoa sabe qual é a sua missão e diz que quer fazer isso, não há nada que poderá paralisá-la.
Bach - Religião para mim é um meio para achar o que é verdade. Por trás da religião pura está a verdade. Para as pessoas que amam a ciência, por trás da ciência há também a verdade. Cada um de nós tem uma intuição que nos conta o que é verdade. Meu jeito de encontrar a verdade é voando. Voar me fez transcender muitas ilusões de ótica. A partir deste tipo de perspectiva, literalmente falando, eu fui capaz de ultrapassar várias das minhas ilusões de quando eu era criança. Esta é minha religião: acreditar em um princípio que eu não posso ver, mas que está lá, guiando a mim e aos meus ideais. Uma das verdades que aprendi voando é de que não há desastre que não possa ser uma bênção e que não há benção que não possa vir a ser desastre também.
Bach - Eu passei por bênçãos e desastres quando Fernão Capelo Gaivota foi publicado. Parecia uma grande bênção, porque muitas pessoas adoraram o livro e eu ganhei uma enorme quantidade de dinheiro. Eu nunca tinha ganho muito dinheiro e, de repente, tinha um milhão de dólares. Era como se eu tivesse um novo anjo da guarda, querendo me dar dinheiro por que eu trabalhei muito duro para escrever o livro e realmente o amava. Mas, ao invés de me dar pouco dinheiro, ele deixou cair um milhão de dólares em dinheiro vivo, que pesa 300 quilos, na minha cabeça. Fui achatado e aquela bênção se tornou um desastre. Imediatamente comprei nove aviões e virei um serviçal deles. Estava me divertindo, mas tinha alguma coisa errada. Mais tarde, como eu não me importava com dinheiro, as pessoas que eu contratei para administrá-lo foram terríveis - assim como as minhas próprias decisões. Perdi tudo. Mas não há desastre que não possa se tornar uma bênção e o que eu aprendi disso é que você pode perder tudo, cada centavo que você tem, mas ninguém pode pegar as suas idéias e as idéias são a fonte dos centavos, dos dólares. Como eu tinha muitas coisas para dizer, muitas coisas para escrever, eu escrevi e os outros livros venderam também, e eu gradualmente me recuperei. Hoje tenho dois aviões e este é o meu limite.
Bach - Não. Meu primeiro instrutor foi um colega de faculdade. Também foi uma coincidência impressionante porque ele tinha acabado de concluir um curso de instrutor de vôo e estava procurando alguém que pudesse instruir. Eu lavava e polia seu avião e ele me dava aulas. Gostava tanto daquilo que me alistei na Força Aérea. E tive sorte, porque não tive que matar ninguém. Entrei depois de meu país ter se envolvido na Guerra da Coréia e antes da Guerra do Vietnã. Se eu pudesse voltar agora para aquele jovem que ia se alistar na Força Aérea eu diria "não faça isso". Todas as Forças Aéreas de todos os países do mundo mostram aqueles aviões maravilhosos e dizem que se você se alistar, poderá voar nestes aviões. Mas não falam que você poderá ter que destruir um vilarejo. Até que alguns anos depois, eu estava sentado em um avião às 2 horas da manhã em alerta na França, esperando um ataque do bloco soviético aos países da Otan. Era 1962, foi na crise de Berlin. Eu estava na França, sentado naquele avião, carregado de bombas. E sabe o que eu ia destruir, incinerar? A cidade de Dresden.
Bach - No início do século, muitas pessoas lutaram defendendo ódios até então aceitáveis, vinculados ao um crescente nacionalismo. No final do século 20, o ódio não é mais tão aceitável assim. Ainda existe, mas não é mais socialmente aceitável. Agora é muito mais comum que a maioria de nós pare e pense um pouco antes de atacar e ferir os outros. Acredito que há cada vez mais compreensão e respeito sobre o que nós realmente somos, criaturas cujo objetivo supremo é expressar amor. Todos somos livres para fazermos o que quisermos fazer. Somos livres para odiar, para destruir, mas também livres para encontrar o que há de mais alto e sublime dentro de nós e expressar isso. É uma escolha individual. Todos sabemos que, se buscarmos dinheiro e nos esquecermos do que gostamos de fazer, vai surgir um grande vazio na nossa vida. Iremos aprender que apesar de nós termos todo o dinheiro do mundo, estaremos desesperadamente infelizes até o ponto em que nós iremos deixar ir embora todo o dinheiro. Cada vez mais nos damos conta do nosso poder individual e mais e mais pessoas estão escolhendo viver a vida que querem, dizendo não à vida que foram obrigadas a ter.
sábado, 20 de junho de 2020
DOAÇÃO DE LIVROS PARA O PROJETO PATRULHA DA LEITURA, DA PMSC - BLUMENAU
10º BPM recebe doação
de livros para projeto Patrulha da Leitura
Comando-Geral da
Polícia Militar - Florianópolis - Por Rafael Fiedler em 06/08/2019 18:45:21
No dia 26 de julho de 2019, o 10º Batalhão de Polícia Militar (BPM) recebeu uma doação de diversos livros, entre literatura infantil e infanto-juvenil, que serão utilizados no projeto “Patrulha da Leitura”, em Blumenau. As obras foram doadas pelo escritor catarinense Renato Lisbôa Müller.
Participaram da
entrega representantes da unidade, o comandante do 10º BPM, tenente-coronel
Jefferson Schmidt, o chefe da 3ª Seção da unidade, major Márcio Jean Ricardo e
o subtenente Paulo Henrique de Almeida.
O projeto “Patrulha da Leitura” tem como objetivo fornecer um livro de leitura infantil sempre que houver criança presente no contexto do atendimento da ocorrência pela Polícia Militar. Além do incentivo à leitura, a intenção é fazer com que os pequenos fiquem entretidos e amparados, enquanto seus pais ou familiares não podem dar a devida atenção, já que prestam informações para a polícia
https://www.pm.sc.gov.br/noticias/10-bpm-recebe-doacao-de-livros-para-projeto-patrulha-da-leitura
segunda-feira, 15 de junho de 2020
ENTREVISTA COM O NAVEGADOR E ESCRITOR AMYR KLINK
https://marsemfim.com.br/amyr-klink-em-entrevista-exclusiva-ao-estadao/
Quando Amyr Klink
colocou o Paraty, barco construído por ele mesmo, no mar da Namíbia, em 1984,
muita gente imaginou que aquele brasileiro maluco voltaria ao porto em poucas
horas. Afinal, ele queria atravessar o Atlântico Sul remando. Pois a aventura,
a primeira de sua vida e jamais repetida por outro velejador, acaba de
completar 30 anos.
Paixão pelo mar
Nesse tempo todo,
este paulistano navegou com sucesso por todas as latitudes possíveis – embora
ainda se considere amador e veja sua paixão pelo mar como um hobby. Para
comemorar a data, Klink estará, amanhã, na Livraria da Vila do Shopping
Higienópolis, onde dará palestra sobre a travessia que o tornou conhecido e
reverenciado em todo o planeta.
O capitão, que está
sendo entrevistado para um documentário chamado Mar À Vista, falou sobre a
fazenda em Paraty que quer transformar em centro cultural, a falácia da solidão
no oceano e o quanto uma política inteligente de turismo náutico poderia render
ao País.
Por que você decidiu, em 1984, iniciar a travessia na
costa da Namíbia?
Enquanto tentava
viabilizar a viagem, pesquisei bastante a respeito do trajeto, sobre as
correntes. E percebi que o lugar certo para me lançar ao mar era Lüderitz, na
Namíbia.
As pessoas achavam que era uma maluquice?
Talvez. Mas a verdade
é que, naquela época, eu tinha uma coleção enorme de literatura sobre
sobrevivência no mar, uns mil volumes. E só consegui fazer a viagem sob essa
justificativa. Tanto que, em uma praça de Lüderitz, próximo a Shark Island, de
onde eu parti, há uma placa em minha homenagem, ao remador brasileiro. E o mais
interessante é que está no lugar de uma estátua dedicada ao alemão Adolf
Lüderitz, fundador da cidade, que sumiu.
Você está com moral na Namíbia, então.
A coisa toda é muito
estranha, porque pouca gente sabe da viagem de 1984. E eu descobri, há cerca de
um ano, que a tal Shark Island abrigou o primeiro campo de extermínio alemão do
século 20, onde desenvolveram a tecnologia que seria usada na Segunda Guerra.
Como Lüderitz se tornou um ponto de turismo importante na África, eles querem
apagar esse fato da história.
Os alemães, pelo jeito, te perseguem, né? Lá em Paraty
você andou às voltas com herdeiros do Thomas Mann. (risos).
Mas agora acabou.
Ganhei o último recurso no começo deste ano. Finalmente consegui comprar a
fazenda Engenho da Boa Vista, que eu tinha em sistema de comodato com o governo
havia vinte anos. A vida inteira eu quis restaurar aquela casa. E há cerca de
dez anos surgiu um cidadão chamado Frido Mann, que é neto do escritor, para
atrapalhar. Um negócio sem sentido, porque a mãe do Thomas Mann viveu só até os
7 anos no lugar, não há nada que ligue a família à fazenda. O Thomas Mann não
tem uma única linha escrita sobre a cidade de Paraty.
O que pretende fazer agora?
Restaurar o
alambique, porque aquele engenho tem mais de 300 anos, foi o mais importante de
Paraty, e transformá-lo em um “alambique de charme”, com uma espécie de oficina
gastronômica. Além disso, o lugar tem quatro salões enormes, que podem se
tornar adendos dos eventos culturais da cidade, uma extensão da Flip, por
exemplo. Também terá um espaço para exposições permanentes e um auditório.
Como foi passar da carreira de economista para navegador?
Não gostei de
trabalhar na minha área, embora tenha sido um aprendizado importante, e sempre
fui apaixonado pelo universo dos barcos. O que me levou a me aventurar foi uma
série de livros franceses chamada Mer Aventure. A coleção tinha textos
excelentes. E um deles era do Gerard D’Aboville, que havia remado o Atlântico
Norte.
E você achou o máximo?
Não, a primeira
reação que eu tive foi: “Que ideia imbecil!”. E até hoje ainda acho que foi.
Porque não é uma experiência útil. Os problemas é que são interessantes. O
texto do Gerard é tão seco, tão destituído de descrições, sentimentos,
interjeições, que acaba sendo muito emocionante. Ele mostra a inutilidade e a
beleza da viagem. Fiquei impressionado com as dificuldades enfrentadas por ele.
O mais incrível é que ele não usou um assento deslizante para remar…
Foi só com a força dos braços?
Pois é. Essa experiência
eu tinha, porque remei muito na USP, durante seis anos. No Paraty (barco que
Klink usou para fazer a travessia do Atlântico Sul), eu remo de costas para a
proa, com os pés apoiados e sentado sobre um assento que se movimenta. Isso
significa que 60% do esforço da remada vêm das pernas.
Você conheceu o D’Aboville?
Conheci. E a primeira
coisa que perguntei a ele foi: “Por que você não usou um assento com
rodinhas?”. E ele respondeu: “Por que você não me ligou antes, seu imbecil?”
(risos). Ele é muito sarcástico.
Quanto o Paraty tem do barco do D’Aboville?
Muito. Ele descobriu
uma coisa que é fundamental para esse tipo de travessia, algo que você não
encontra na maioria dos barcos modernos, que são ultra eficientes. Os
projetistas se esquecem de que um barco a remo é como um barco de trabalho, não
é desenhado só para navegar, mas também para não navegar, para os momentos em
que se fica à deriva. E a atitude de deriva é passiva, ninguém quer projetar um
barco com essa característica.
Em algum momento da viagem você achou que não ia dar
certo?
No primeiro dia deu
tudo errado, foi um caos. Mas o projeto estava tão bem esmiuçado que eu tinha
solução para tudo. E levei um cardápio variado, porque gosto de comer bem.
Nada de enlatados?
Tenho manias
ocasionais. Atualmente, estou na fase da polenta com lula e camarão. Ano
passado, tive a crise do caranguejo norueguês. Perseguia os estoques nos
supermercados com uma planilha, com o código do produto no iPad e um mapa da
cidade, para achar os melhores preços.
Metódico em tudo!
Não sou metódico, só
tenho pequenas obsessões (risos).
Qual a sensação de estar totalmente sozinho no mar? Tem
gente que não aguenta…
Todo mundo aguenta.
Isso é uma falácia. Porque, quando você está sozinho, a demanda física para
construir uma vida confortável é tão grande que, no final do dia, você está
exausto. Não há tempo para filosofar.
Sentiu medo?
O tempo todo, mas era
um medo divertido. Ruim foi a burocracia antes de conseguir colocar o barco na
água, os carimbos, as assinaturas das autoridades… No mar havia só tubarões
(risos), e nada é pessoal para os tubarões, você dá uma espetada e eles vão
embora.
Você ainda hoje trata a navegação como um hobby. Por quê?
Não me considero
profissional, porque o Brasil tem uma legislação defeituosa, que elimina uma
riqueza muito grande que nós temos. Somos o único país do mundo que alega ser o
turismo uma parte essencial do PIB, mas que não investe na atividade de
charter, que é bilionária. Minha propriedade em Paraty, se tivesse licença para
transformar em marina (e pudesse fazer uma concessão para operadores privados),
geraria faturamento de mais de R$ 10 bilhões por ano. Um único porto em Palma
de Mallorca, nas Ilhas Baleares, gera, por ano, cerca de R$ 14 bilhões. Todos
os hotéis e restaurantes do Brasil, somados, não geram esse dinheiro todo.
Por que isso?
Legislação
equivocada. Na minha carteira para pilotar barcos está escrito ‘capitão
amador’. Não posso exercer atividade remunerada, não posso alugar meu barco.
Mas Paraty está cheia de barcos fazendo turismo.
São quase dois mil.
No rigor da lei, nenhum deles poderia operar. Resultado: a indústria de
charter, que é virtuosa, não existe no País. O Brasil ainda tem muito a crescer
na atividade náutica. Só no Rio de Janeiro era para termos um faturamento de
cerca de R$ 20 bilhões por ano.
Você já disse que o Brasil virou as costas para o mar.
Como resolver isso?
É preciso investir em
infraestrutura e acabar com essa visão de que a atividade náutica é coisa de
rico, elitista. Na Europa, não é ‘feio’ ter um barco de luxo. Mas por quê?
Porque é um ativo econômico, que gera muito turismo e emprego para um número
grande de pessoas. Parece que o Brasil não gosta de fazer dinheiro.
Você prefere o conhecimento informal, de quem trabalha
com barcos, ao dos engenheiros navais. Por quê?
Por exemplo, nós
fizemos o primeiro veleiro do mundo sem lastro, adorei a ideia. Por que um
veleiro tem de carregar 30% de seu peso em chumbo? Para dar estabilidade. Por
que um catamarã é mais eficiente? Porque não tem investimento em estabilidade,
a estabilidade dele é a sua forma. Estava pensando nisso quando descobri um
escritório francês que queria investir em um modelo sem lastro – só que os
clientes não tinham coragem. O Paraty 2 foi o primeiro barco monocasco do mundo
sem chumbo. Veja o conceito da jangada de piúba, que é um barco genial, não usa
leme. Ou da biana do Maranhão. Uma universidade inglesa ficou chocada com a
eficiência primitiva das bianas maranhenses, que usam uma vela vagabunda, de
algodão todo furadinho. Se o pescador quer mais velocidade, joga água na vela,
com uma cuia, para ela ficar mais impermeável. É ultrassofisticado. Esse tipo
de tecnologia usamos nos barcos que fabricamos. Quer outro exemplo? Não
trabalhamos com motores marinizados.
Diminui a durabilidade?
Exato, a gente queria
acabar com esse contato do motor com o sal do mar. Eu detesto sal. O ideal
mesmo seria que o mar não tivesse sal (risos). Ele acaba com tudo, enferruja,
encarece. Nosso motor é uma adaptação de uma tecnologia criada por barqueiros
de Santa Catarina.
Você não gosta dos engenheiros navais brasileiros?
Nosso ensino é
altamente precário, em todos os sentidos. E também não temos escolas técnicas.
A USP é a única universidade do mundo que ensina Engenharia Naval e nunca
construiu um barco. Eu não deixo minhas filhas navegarem em um barco que teve
como consultor um engenheiro da USP. Ali está tudo errado: imagina uma
universidade em que o reitor é escolhido pelos funcionários, quer dizer, é um
castelo de empreguismo. Não tem como funcionar, está fadado a implodir.
É verdade que você está trazendo um modelo de barco
anfíbio para o Brasil?
Estou. Descobri um
fabricante em um desses Boat Shows de Miami na minha última viagem. O cara
construiu uma lancha inflável, mas semirrígida, de alta performance, para
resgate. Tem um trem de pouso que abaixa, muito legal. Sabe a primeira coisa
que me passou pela cabeça? O potencial que esse barco tem de aumentar o valor
do metro quadrado de casas de praia que ficam perto da água, mas não à
beira-mar. Já importamos três. E testamos em Santos. Saímos do mar, entramos na
cidade e paramos em um posto de gasolina para abastecer e calibrar os pneus
(risos).
sábado, 13 de junho de 2020
ENTREVISTA COM A ESCRITORA CLARICE LISPECTOR
Uma rara entrevista
de Clarice Lispector, concedida em 1977, ao repórter Júlio Lerner, da TV
Cultura. Depois de gravada, Clarice pediu que a entrevista só fosse divulgada
após sua morte. Foi ao ar dez meses depois. Clarice morreu em dezembro de 1977,
aos 57 anos
De minha sala até o
saguão dos estúdios tenho que percorrer cerca de 150 metros. Estou tão aturdido
com a possibilidade de entrevistá-la que mal consigo me organizar naquela curta
caminhada. Talvez falar sobre “A Paixão Segundo G.H”… Ou quem sabe sobre “A
Maçã no Escuro” e “Perto do Coração Selvagem”… Vou recordando o que Clarice
escreveu. Será que li tudo? Em apenas cinco minutos consegui um estúdio para
entrevistá-la.
São quatro e quinze
da tarde e disponho de apenas meia hora. Às cinco entra ao vivo o programa
infantil e quinze minutos antes terei de desocupar o estúdio. Estou correndo e
antes mesmo de vê-la a pressão do tempo começa a me massacrar. Não terei
condições de preparar nada antes, nem mesmo conversar um pouco. Não poderei
sequer tentar criar um clima adequado para a entrevista. Eu odeio a TV
brasileira! Só meia hora para ouvir Clarice. O pessoal da técnica foi novamente
generoso e se empenhou para conseguir essa brecha. Olho o relógio, não consigo
me organizar, estou correndo, olho novamente o relógio. Estou desconcertado,
atinjo o saguão dos estúdios e a vejo ali, dez metros adiante, Clarice de pé ao
lado de uma amiga, perdida no meio do vaivém dos cenários desmontados, de
diversos equipamentos e de técnicos que falam alto, no meio de um grande
alvoroço.
Paro diante dela,
estou um pouco ofegante, estendo-lhe a mão e sou atravessado pelo olhar mais
desprotegido que um ser humano pode lançar a semelhante. Ela é frágil, ela é
tímida, e eu não tenho condições para explicar que o problema do tempo elevou
meus níveis de ansiedade. Clarice me apresenta Olga Borelli, entramos e a
conduzo ao centro do pequeno estúdio. Peço para que ela sente numa poltrona de
couro de tonalidade café-com-leite. Clarice segura apenas um maço de Hollywood
e uma caixa de fósforos, providencio um cinzeiro, os refletores malditos são
ligados. Clarice me olha. O olhar de Clarice me interroga, só disponho de uma
única câmera, o olhar de Clarice suplica, Olga se ajeita numa lateral
escurecida, chega Miriam, a estagiária do programa e fica encolhida e calada, o
calor está ficando insuportável e o ar-condicionado não está ajustado, são
apenas quatro e vinte, Clarice tenta me dizer alguma coisa mas não falo com
ela, preocupado em ajustar uma questão de iluminação, o hálito da fornalha já
nos atinge a todos, devemos ter agora no estúdio uns 50 ou 60 graus, maldita
TV, bendita TV do terceiro mundo que me possibilita estar agora frente a frente
com ela, Clarice me olha melindrosa, assustada e seu olhar me pede para que a
tranquilize.
“OK, Júlio, tudo
pronto”, a voz metálica vem da caixa dos alto-falantes. Peço a toda equipe para
sair, cabo man, iluminador, assistente de estúdio, agradeço. Clarice percebe
que caiu numa arapuca e já não há como voltar atrás. Peço silêncio e depois de
uns dez segundos ecoa um “gravando”.
Não conversamos antes
e disponho apenas de 23 minutos. Estou completamente desconcertado, fico um
minuto em silêncio fitando Clarice. Estou oco, vazio, não sei o que dizer.
Clarice me olha curiosa, mas vigilante, defendida. Sou o senhor do castelo e —
prepotente — guardo comigo a chave desta prisão. Ninguém pode entrar ou sair
sem meu expresso consentimento. Todos devem se submeter à minha autoritária
vontade.
A fornalha arde, meu
coração dispara, minha boca está seca e debaixo destes tirânicos mil sóis sou o
maior dos tiranos. Começa a entrevista. A entrevista avança. Seus olhos
azuis-oceânicos revelam solidão e tristeza. Clarice está nua, não há perdão,
Clarice agora está encapotada, ela se deixa agarrar, mas logo escapa, e volta,
e me pega, e me sugere o longe, o não dizível, depois se cala. E quando nada
mais espero, ela volta a falar. Faço uma antientrevista, pausas, silêncios,
Clarice agora está fugindo para uma galáxia inabitada e inatingível, mas volta
em seguida e, tolerante, suporta toda a minha limitação.
Acho que ela vai se
levantar a qualquer instante e me dizer: “Chega!”. Clarice pressente que por
trás de meu sorriso aparentemente compreensivo e de minha fala suave esconde-se
um ser diabólico autodenominado “repórter” e que quer possuir sua intimidade.
Seu corpo exprime receios, ela me afasta, mas de novo me atrai, suas pernas se
cruzam e se descruzam sem parar e telegrafam que de repente ela poderá se
levantar e partir.
Clarice Lispector, de onde veio esse Lispector?
É um nome latino, não
é? Eu perguntei a meu pai desde quando havia Lispector na Ucrânia. Ele disse
que há gerações e gerações anteriores. Eu suponho que o nome foi rolando,
rolando, rolando, perdendo algumas sílabas e foi formando outra coisa que
parece “Lis” e “peito”, em latim. É um nome que quando escrevi meu primeiro
livro, Sérgio Milliet (eu era completamente desconhecida, é claro) diz assim:
“Essa escritora de nome desagradável, certamente um pseudônimo…”. Não era, era
meu nome mesmo.
Você chegou a conhecer o Sérgio Milliet pessoalmente?
Nunca. Porque eu
publiquei o meu livro e fui embora do Brasil, porque eu me casei com um
diplomata brasileiro, de modo que não conheci as pessoas que escreveram sobre
mim.
Clarice, seu pai fazia o que profissionalmente?
Representações de
firmas, coisas assim. Quando ele, na verdade, dava era para coisas do espírito.
Há alguém na família Lispector que chegou a escrever
alguma coisa?
Eu soube ultimamente,
para minha enorme surpresa, que minha mãe escrevia. Não publicava, mas
escrevia. Eu tenho uma irmã, Elisa Lispector, que escreve romances. E tenho
outra irmã, chamada Tânia Kaufman, que escreve livros técnicos.
Você chegou a ler as coisas que sua mãe escreveu?
Não, eu soube há
poucos meses. Soube através de uma tia: “Sabe que sua mãe fazia um diário e
escrevia poesias?” Eu fiquei boba…
Nas raras entrevistas que você tem concedido surge, quase
que necessariamente, a pergunta de como você começou a escrever e quando?
Antes de sete anos eu
já fabulava, já inventava histórias, por exemplo, inventei uma história que não
acabava nunca. Quando comecei a ler comecei a escrever também. Pequenas
histórias.
Quando a jovem, praticamente adolescente Clarice
Lispector, descobre que realmente é a literatura aquele campo de criação humana
que mais a atrai, a jovem Clarice tem algum objetivo específico ou apenas
escrever, sem determinar um tipo de público?
Apenas escrever.
Você poderia nos dar uma ideia do que era a produção da
adolescente Clarice Lispector?
Caótica. Intensa.
Inteiramente fora da realidade da vida.
Desse período você se lembra do nome de alguma produção?
Bem, escrevi várias
coisas antes de publicar meu primeiro livro. Eu escrevia para revistas —
contos, jornais. Eu ia com uma timidez enorme, mas uma timidez ousada. Eu sou
tímida e ousada ao mesmo tempo. Chegava lá nas revistas e dizia: “Eu tenho um
conto, você não quer publicar?” Aí me lembro que uma vez foi o Raimundo
Magalhães Jr. que olhou, leu um pedaço, olhou para mim e disse: “Você copiou
isso de quem?” Eu disse: “De ninguém, é meu”. Ele disse: Você traduziu?” Eu
disse: “Não”. Ele disse: “Então eu vou publicar”. Era sim, era meu trabalho.
Você publicava onde?
Ah, não me lembro…
Jornais, revistas.
Clarice, a partir de qual momento você efetivamente
decidiu assumir a carreira de escritora?
Eu nunca assumi.
Por quê?
Eu não sou uma
profissional, eu só escrevo quando eu quero. Eu sou uma amadora e faço questão
de continuar sendo amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo
mesmo de escrever. Ou então com o outro, em relação ao outro. Agora eu faço
questão de não ser uma profissional para manter minha liberdade.
A sua produção ocorre com frequência ou você tem
períodos?
Tenho períodos de
produzir intensamente e tenho períodos-hiatos em que a vida fica intolerável.
E esses hiatos são longos?
Depende. Podem ser
longos e eu vegeto nesse período ou então, para me salvar, me lanço logo noutra
coisa, por exemplo, eu acabei uma novela, estou meio oca, então estou fazendo
histórias para crianças.
Como você explica a Clarice Lispector voltada para a
literatura infantil?
Começou com meu filho
quando ele tinha seis anos, seis ou cinco anos, me ordenando que escrevesse uma
história para ele. E eu escrevi. Depois guardei e nunca mais liguei. Até que me
pediram um livro infantil. Eu disse que não tinha. Eu tinha inteiramente
esquecido daquilo. Era tão pouco literatura para mim, eu não queria usar isso
para publicar. Era para o meu filho. Aí lembrei: “Bom, tenho, sim”. Então foi
publicado. Foram publicados três livros de literatura infantil e estou fazendo
o quarto agora.
É mais difícil você se comunicar com o adulto ou com a
criança?
Quando me comunico
com criança é fácil porque sou muito maternal. Quando me comunico com o adulto,
na verdade, estou me comunicando com o mais secreto de mim mesma.
O adulto é sempre solitário?
O adulto é triste e
solitário.
E a criança?
A criança tem a
fantasia solta.
A partir de que momento, de acordo com a escritora, o ser
humano vai se transformando em triste e solitário?
Ah, isso é segredo.
Desculpe, não vou responder. A qualquer momento da vida, basta um choque um
pouco inesperado e isso acontece. Mas eu não sou solitária. Tenho muitos
amigos. E só estou triste hoje porque estou cansada. No geral sou alegre.
Normalmente o contato do jovem estudante com você revela
que tipo de preocupação?
Revela coisas
surpreendentes, que eles estão na minha.
O que significa “estar na sua”?
É que eu penso às
vezes que eu estou isolada e quando eu vejo estou tendo universitários, gente
muito jovem, que está completamente ao meu lado e é gratificante, não é?
Nós ouvimos com frequência que as novas gerações pouco
leem no Brasil. Você confirma isso?
Bem, os
universitários são obrigados a ler porque impõem a eles a obra. Agora não estou
a par dos outros.
De seus trabalhos qual aquele que você acredita que mais
atinja o público jovem?
Depende. Por exemplo,
o meu livro “A Paixão Segundo G.H”, um professor de português do Pedro II veio
até minha casa e disse que leu quatro vezes e ainda não sabe do que se trata.
No dia seguinte uma jovem de 17 anos, universitária, disse que este é o livro
de cabeceira dela. Quer dizer, não dá para entender.
E isso acontece em relação a outros trabalhos seus?
Também em relação ao
outros trabalhos, ou toca ou não toca. Suponho que não entender não é uma
questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. Tanto que o
professor de português e literatura, que deveria ser o mais apto a me entender,
não me entendia. E a moça de 17 anos lia e relia o livro, não é? O que é um
alívio.
Antes de nos encontrarmos aqui no estúdio você me dizia
que está começando um novo trabalho agora, uma novela…
Não, eu acabei a
novela.
Que novela é essa, Clarice?
É a história de uma
moça que só comia cachorro-quente. A história é de uma inocência pisada, de uma
miséria anônima…
O cenário dessa novela é…
É o Rio de Janeiro…
Mas o personagem é nordestino, é de Alagoas…
Onde você foi buscar a inspiração, dentro de si mesma?
Eu morei no Recife,
me criei no Nordeste. E depois, no Rio de Janeiro tem uma feira de nordestinos
no Campo de São Cristóvão e uma vez eu fui lá. E peguei o ar meio perdido do
nordestino no Rio de Janeiro. Daí começou a nascer a ideia. Depois eu fui a uma
cartomante e ela disse várias coisas boas que iam acontecer e imaginei, quando
tomei o táxi de volta, que seria muito engraçado se um táxi me atropelasse e eu
morresse depois de ter ouvido todas aquelas coisas boas. Então a partir daí foi
nascendo também a trama da história.
Qual o nome da heroína da novela?
Não quero dizer. É
segredo.
E o nome da novela, você poderia revelar?
Treze nomes, treze
títulos.
Rilke, em seu livro “Cartas a um Jovem Poeta”,
respondendo a uma das missivas, pergunta a um jovem que pretendia se tornar
escritor: se você não pudesse mais escrever, você morreria? A mesma pergunta eu
transfiro a você.
Eu acho que, quando
não escrevo estou morta.
Esse período?
É muito duro, esse
período entre um trabalho e outro, e ao mesmo tempo é necessário para haver uma
espécie de esvaziamento para poder nascer alguma outra coisa, se nascer. É tudo
tão incerto…
Clarice, mas como é que você escreve? Existe algum
horário específico?
Em geral de manhã
cedo. As minhas horas preferidas são as da manhã.
Você acorda a que horas?
Quatro e meia, cinco
horas. Fico fumando, tomando café, sozinha sem nenhuma interferência. Quando
estou escrevendo alguma coisa eu anoto a qualquer hora do dia ou da noite,
coisas que me vêm. O que se chama inspiração, não é? Agora quando estou no ato
de concatenar as inspirações, aí sou obrigada a trabalhar diariamente.
Você se considera uma escritora popular?
Não.
Por qual razão?
Me chamam de
hermética. Como é que eu posso ser popular sendo hermética?
E como você vê esta observação “hermética”?
Eu me compreendo. De
modo que não sou hermética para mim. Bom, tem um conto meu que não compreendo
muito bem…
Que conto?
“O ovo e a galinha”.
Entre seus diversos trabalhos existe um filho predileto.
Qual aquele que você vê com maior carinho até hoje?
“O ovo e a galinha”,
que é um mistério para mim. Uma coisa que eu escrevi sobre um bandido, um
criminoso chamado Mineirinho, que morreu com três balas quando uma só bastava.
E que era devoto de São Jorge e que tinha uma namorada.
Sobre esse seu trabalho em torno de Mineirinho, qual o
enfoque você deu?
Eu não me lembro
muito bem, já faz bastante tempo. Há qualquer coisa assim como “o primeiro tiro
me espanta, o segundo tiro não sei o que, o terceiro tiro…” Eu me transformei
no Mineirinho, massacrado pela polícia. Qualquer que tivesse sido o crime dele
uma bala bastava, o resto era vontade de matar. Era prepotência.
Em que medida o trabalho de Clarice Lispector no caso
específico de Mineirinho pode alterar a ordem das coisas?
Não altera em nada.
Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa.
No seu entender, qual é o papel do escritor brasileiro
hoje?
De falar o menos
possível
Você tem mantido contato como outros escritores?
Eventualmente.
Quais aqueles que você acredita serem os mais
significativos?
Eu prefiro não citar
nomes porque eu vou esquecer alguns e vai ofender, vai ferir. Assim, eu não
cito ninguém.
Você discute muito com a Clarice Lispector escritora?
Não. Eu me deixo ser…
E convivem em paz?
Ás vezes não em paz,
mas…
Normalmente, que tipo de problema a Clarice Lispector
escritora traz a você?
Às vezes o fato de me
considerar escritora me isola.
Por qual razão?
Me põe um rótulo.
E você acredita que as pessoas olham para você através
desse rótulo?
Às vezes através
desse rótulo. Tudo o que eu digo, a maior bobagem, é considerada como uma coisa
linda ou uma coisa boba. É por isso que não ligo muito para essa coisa de ser
escritora e dar entrevistas e tudo.
Você acredita que uma pessoa vá a uma livraria comprar
especificamente um livro de Clarice Lispector?
Parece que isso
acontece. Eu sei porque às vezes me telefonam e me perguntam em que livraria
encontram meu livro. Então eu sei que tem pessoas que vão procurar exatamente o
meu livro. É que no fundo eu escrevo muito simples, sabe?
Será que as coisas simples hoje são recebidas de maneira
complicada?
Talvez, talvez… Eu
escrevo simples. Eu não enfeito.
Na sua formação como escritora quais aqueles autores que
você sente que realmente lhe influenciaram, que marcaram?
Eu não sei realmente
porque misturei tudo. Eu lia romance para mocinhas, livro cor-de-rosa,
misturado com Dostoiévski. Eu escolhia os livros pelos títulos e não pelos autores.
Misturei tudo. Fui ler, aos treze anos, Hermann Hesse, [o romance] “O Lobo da
Estepe”, e foi um choque. Aí comecei a escrever um conto que não acabava nunca
mais. Terminei rasgando e jogando fora.
Isso ainda acontece de você produzir alguma coisa e
rasgar?
Eu deixo de lado…
Não, eu rasgo sim.
É produto de reflexão ou de uma emoção?
Raiva, um pouco de
raiva.
De quem?
De mim mesma.
Por que, Clarice?
Sei lá, estou meio
cansada.
Do quê?
De mim mesma.
Mas você não renasce e se renova a cada trabalho novo?
Bom, agora eu morri. Mas vamos ver se eu renasço de novo. Por enquanto eu estou morta. Estou falando do meu túmulo.
Entrevista concedida
ao jornalista Júlio Lerner, em 1 de fevereiro de 1977, para o programa
“Panorama”, da TV Cultura, de São Paulo.
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