domingo, 22 de agosto de 2021

NOVO LIVRO EM 2022

Estou sem publicar um livro há uns três anos, porém, isso não significa que estou sem escrever. Durante este tempo eu estive envolvido com responsabilidades e compromissos pessoais  e familiares, que nem sempre foram felizes e repletos de bons momentos.  Na verdade, em 2019 e 2020, minha vida pessoal foi de um patamar de ruim para péssimo.

O ano de 2022 iniciou e com ele aconteceram mudanças significativas na minha vida. E a partir disso, a escrita voltou a fazer parte da minha rotina, além de ser um remédio para o coração, mente, espírito, alma.... Muitos foram os textos que criei e na maioria deles, eu desabafava os sentimentos e emoções ruins, que me machucavam. Concomitantemente, eu escrevi também, pensando e querendo voltar a sorrir e a ser feliz.

Desta forma, consegui produzir material suficiente para publicar um livro, com aproximadamente 80 páginas. Nele, eu coloco as minhas angústias, tristezas, dores, mágoas e retiro de dentro do coração, os sentimentos ruins que me atormentavam. Mas existem poemas que foram escritos para expressar que a esperança que tenho, em encontrar uma nova companheira. Acabei mesclando dor e esperança; porém existem poemas que eu destilo um pouco de veneno, debochando de algumas pessoas, cujos nomes foram substituídos por nomes fictícios.

Existem duas pessoas que tem os nomes neste livro, que são verdadeiros: minha filha Beatriz e a amiga Laura Flôres. 

Abaixo eu repasso os títulos dos poemas que estão no livro que será publicado, provavelmente no ano de 2022.

Escrevo Freneticamente; Beatriz; Bailarina; Betina; Dalila; Clausura; Desabafo; Caso Perdido; Caminhando; Viva a Fotografia; Volta Por Cima; Eu Acreditei; No Celular; Perdido; A Ponte; A Batalha; Vítima; Seguir em Frente; Pode Ser Você; A Praga; Você Fez Por Merecer; Você Mudou; Reencontro; Dondoca; Vou Escrever; Bancando o Idiota; Eu e Ela; Você me Beijou; Covarde; Instinto Animal; Beijo; Flor do meu Pecado; Beleza Completa; Adormeci Sorrindo; Leve o Tempo que for; Oito ou Oitenta; Felina; Felina (2); Teu Sorriso é Lindo; Cabelo Curto; Zero a Zero; Te Quero; Uma Noite Caliente; Grande Vazio


Acima está a capa provisória do livro, cujo título será: INDIRETAS SENTIMENTAIS.

A foto foi batida (por mim, utilizando o meu celular), quando eu estava passando por os dias tristes, quando escrevi os textos do livro. Creio que reflete bem o momento emocional que eu me encontrava. Mostrei esta imagem para algumas pessoas amigas e de acordo  com o Marcelo Fogaça, a imagem está um pouco austera.... Será?


sábado, 29 de maio de 2021

ENTREVISTA COM JOÃO CHIODINI (retirada da internet)

 

Página inicial 2016 novembro

João Chiodini, autor de Os Abraços Perdidos, fala sobre os temas do seu romance e dá dicas para novos escritores.

Redação Recorte Lírico 25 de novembro de 2016

0  Recorte Entrevista

O bate-papo desse Recorte Entrevista foi com João Chiodini, autor de “Os Abraços Perdidos”, pela Editora da Casa.


RL – Você escreveu um livro em 2005 que não chegou a ser publicado. Quanto evoluiu linguisticamente e em termos dos temas propostos?

Chiodini – Sim, em 2005 escrevi um primeiro romance. Ele não foi publicado por ser um livro muito frágil, com muitas falhas de estrutura, personagens e narrativa. Eu tinha uma grande quantidade de personagens e diversos conflitos que, na época, eu não soube lidar muito bem. Porém, me serviu de aprendizado. Na escrita de Os Abraços Perdidos, antes de ter a história em si, eu sabia que elementos eu queria utilizar e quais erros eu não poderia repetir (se for para ter erros, que sejam novos. Risos…). E falo isso com relação a tudo: tema, personagens… Em Os Abraços Perdidos, houve um grande cuidado em deixar a narrativa bem seca, sempre. Cuidar para não haver rodeios enquanto Pedro relatava sua história e trabalhar os fatos sempre em tom de confissão. De 2005 até 2015 acabei publicando livros em outros gêneros que, de certa forma, colaboraram com meu aprendizado e amadurecimento para encarar a ficção longa novamente.


RL – O principal tema do livro é a relação entre pai e filho. Qual a principal motivação para explorar esse relacionamento familiar?

Chiodini – Como disse, antes de ter a história em si, eu já imaginava os elementos que eu queria utilizar na construção do livro. Um exemplo: Sempre manter um número limitado de personagens nas cenas e diálogos. Criar um protagonista e um antagonista que tivessem relações que não fossem lineares, onde pudesse colocar afeto e rejeição (vamos chamar assim) em cenas muito próximas umas das outras. Por fim, cheguei à relação de pai e filho, um tipo de situação que se encaixa muito bem nesses parâmetros e, além disso, sempre disso que ninguém passa imune por uma relação de pais e filhos. Em algum momento, por menor que este seja, o leitor vai, inevitavelmente, se colocar na história, no lugar de algum dos personagens. Talvez por semelhança, identificação, talvez por testemunhar um choque com a sua própria realidade.


RL – Falando um pouco sobre mercado editorial, qual a maior dificuldade para publicar no Brasil, principalmente atravessando um momento de recessão financeira, e quais dicas você deixa para os novos autores?

Chiodini – Não existe dificuldade para publicar. Hoje, a Amazon, pequenas editoras e impressão sob demanda possibilitam que qualquer pessoa transforme-se, do dia para a noite, em escritor. Arrisco a dizer que o cidadão não precisa nem saber escrever. Se for analfabeto, faz um monte de linhas num livro e vende o novo Jardim Secreto. Vai ser um autor de livro anti-stress. O Osho da Faber Castell. Ou, se for um Youtuber qualquer, com um tanto de seguidores, pede para alguém assistir seus vídeos e transcrever suas frases de maior impacto. Faz um livro de citações de Youtube. Essa facilidade toda cria uma oferta absurda de livros, para um país que não é leitor. Desse jeito, o João, o José e a Maria, que escrevem contos, poemas e romances, ficam perdidos no meio desse mar de livros e vão afundando, afundando, afundando.

E aqui eu começo a minha resposta para a sua pergunta, falando para o João, o José e para a Maria. Essas pessoas que, por alguma razão qualquer, querem/precisam escrever. E, tem uma coisa, depois que o João, o José e a Maria colocaram na cabeça que vão escrever, podemos falar qualquer coisa, isso não vai mudar a atitude deles. Eles não irão deixar de tentar. Então, vamos lá:

Dificuldade 1: Editora. No Brasil, João/José/Maria, como vocês devem saber, poucas são as editoras grandes, que investem em autores e fazem a chamada “compra de direitos autorais para publicação”. São muitos os escritores e poucos os leitores, e as editoras precisam faturar. “Ah, mas meu livro é muito bom. Sou um grande escritor.” Pode ser, João/José/Maria, mas acontece que demanda muito tempo ler um original e chegar a essa conclusão. Por isso, geralmente, o caminho é começar pelas pequenas editoras. Criar um público inicial e ser introduzido no mercado editorial, mas, não se iluda, geralmente isso acontece com vendas tímidas. Existem diversas editoras pequenas com projetos editoriais legais espalhadas pelo Brasil, com vários modelos de negócios que poderão ajudar nessa sua caminhada. Por mais fácil que seja a autopublicação, sempre aconselho um novo autor a buscar uma editora. Por menor que seja ela, vai dar um pouquinho mais de credibilidade para seu trabalho e auxiliar na sua publicação.

Dificuldade 2: Leitores. O universo de leitores é dividido em segmentos, de acordo com o gosto de cada um. Quem gosta de livro sobre a Segunda Guerra, vai sempre buscar aquele tipo de leitura antes de todas as outras… Biografia, história, empresariais, autoajuda, suspense, policiais… E por aí vai. Você precisa entender quem são os seus leitores e conhecer o universo que ele está inserido. Se você escrever poesia, seu público inicial pode ser formado por: outros poetas (15%) + pessoas que leem poesia (5%) + não leitores (80%). A quantidade depende de seu círculo de influência. Vamos supor que você fez um lançamento com 100 livros. Muito provavelmente, a sua venda será esta: 15 livros pros poetas da sua cidade. 5 para leitores gerais da livraria (super otimista esse número para poesia) e 80 para não leitores. Aqui, veja bem, considero não leitores os parentes, amigos e conhecidos do autor. Pessoas que ele arrastou para a livraria, que insistiu, que fez chantagem e que, no final das contas, foi a parcela que mais comprou e que, talvez, não leia o livro. E se você fosse a Kéfera? Ah, aí essa proporção aumentaria, mas a fórmula é mais ou menos a mesma: outros youtubers (15%) + pessoas que leem esse tipo de livro (5%) + não leitores (fãs da Kéfera, seguidores, conhecidos, sósias, crushs) (80%). Entende? A Kéfera não se tornou um best-seller por que todos os leitores do Brasil deixaram de comprar o João/José/Maria e sim por que ela tem uma capacidade gigantesca em atingir não leitores. [Considero não leitores pessoas que não compram livro regularmente e o fazem por um motivo específico. Exemplo: Lançamento do livro do filho.]

Ou seja, não adianta brigar pela falta de leitores. Cada um precisa achar uma maneira própria de atingir uma parcela (a maior possível de não leitores). E, se você for capaz de criar uma boa parcela de não leitores, você até pode ser interessante para as grandes editoras.

Dificuldade 3: Meio de comunicação efetiva. No intervalo da novela da Globo, não vemos propaganda de livros. Livros são “anunciados” em revistas de literatura, blog (de literatura), redes sociais (que nos círculos dos escritores e editoras só tem escritores e editoras e alguns poucos leitores) e canais de Youtube que falam sobre livro. “Literalmente”, uma bolha literária. Nesse meio, um jovem escritor até consegue espaço para falar de sua obra, pagando ou de graça mesmo, mas são tantos livros citados e ofertados que, nem com toda boa vontade do mundo, o “leitor perfeito”, que gosta de ler autores estreantes como o João/José/Maria, consegue ler todo mundo. É muito livro e falta grana para comprar todos os livros que lhe parecem interessantes. Basta assistir um Book Haul de algum Booktuber para ver a quantidade de livro por semana que chega. Acho que o caminho é, justamente, achar uma forma de comunicar e cativar pessoas de fora da bolha, que não recebem ofertas de livros o tempo inteiro. Aqui, tentar cativar e criar novos leitores não é apenas uma ideologia bonita de escritor. É malandragem para sobreviver, para vender um a mais. No meu caso, numa história de um pai alcoólatra, talvez valesse tentar um panfleto para frequentadores de AA: “Até onde o álcool pode destruir sua relação com seus filhos? Leia Os Abraços Perdidos.” Vai que funciona uma coisa dessas? Além de todos os canais do segmento, o novo autor deve tentar os canais de não literatura que esteja relacionado com o tema/assunto do livro. Sim, eu sei que muitos escritores irão dizer que é pedantismo, panfletagem e tal, mas a literatura não pode ser uma arte de terno e gravata. Não pode ser uma arte de gabinete, de cátedra. Ela tem que ir, sim, para a rua e atingir os inatingíveis. Quer um ato de rebeldia maior do que fazer um panfletinho rosinha com sapatinhos de bebê e vender para mamães um livro que conte a história de uma clínica clandestina de abortos? Enquanto os seus 80% de Não Leitores não falarem de você por aí, você terá que fazer por si mesmo.

Conselho 1: Ninguém vai roubar sua obra: Recebo muitos e-mails de novos autores com pedidos de ajuda para publicar, porém, muitos têm medo de mostrar seu livro para terceiros lerem e opinarem sem, primeiro, registrarem a obra. Não tenha medo de mostrar o original para outras pessoas. Dificilmente irá acontecer de alguém roubá-la de você. É bem mais provável que seu livro fique na gaveta do sujeito e nunca seja lido.

Conselho 2: Opiniões não podem formar inimigos. Outro ponto do jovem escritor é achar que, quando um editor ou leitor crítico faz apontamentos em seu texto, que este quer menosprezá-lo, ou mudar seu trabalho. Tem que aprender a aceitar sugestões e ouvir os conselhos dos mais experientes. Aqui, um ponto muito, muitíssimo importante: você pode dar seu original para qualquer pessoa ler, porém, para uma leitura crítica, busque a opinião de editores ou leitores regulares, pessoas que estão habituadas a ler. É muito comum ver um jovem escritor solicitando leitura do primo ou amigo, que sugere coisas, alterações e, no entanto, aquele foi o primeiro livro lido pelo primo ou amigo. Toda opinião é válida. Mas, leve (realmente) em consideração as colocações de quem entende do assunto.

Conselho 3: Cabeça dura, sempre. Muitas vezes será frustrante, desanimador, revoltante. Mas, nunca deixe de escrever. Tente evoluir a cada livro e continue, ano após ano. O tempo é uma grande peneira. Quem persiste e continua fazendo um trabalho sério vai acabar conquistando um espaço. Você deixa de ser um aventureiro e passa a ser alguém que tenta construir um diálogo com a literatura, de alguma forma.

 

Fonte: https://recortelirico.com.br/2016/11/joao-chiodini-autor-de-os-abracos-perdidos-fala-sobre-os-temas-do-seu-romance-e-da-dicas-para-novos-escritores/

segunda-feira, 24 de maio de 2021

ENTREVISTA COM MINHA EX PROFESSORA CLARMI RÉGIS


Em 1985 fui aluno do Colégio de Aplicação, na cidade Florianópolis. Tive bons colegas e excelentes professores. Embora eu fosse um aluno desinteressado e malandro, no que diz respeito aos estudos, eu tinha respeito pelos professores, ainda que muitas vezes eu conversasse bastante. Nunca fui de responder ou bater boca com qualquer professor. Dentre os docentes da época, lembro-me dos seguintes nomes: Clarmi (Português), Herta (Biologia), Jandira (Filosofia), Junior Biava (Física), Cuneo (Química Orgânica), Naoraldo (Matemática), Carmem (História), Elisabete (Inglês), Toninho (Educação Física)... sei que esqueci de alguém e peço desculpas por esta falha... Foi um ano de aprendizado e de amizade. Muitos anos depois reencontrei alguns professores pelas estradas da vida, por acaso... Depois de muitos anos eu fui trabalhar no Colégio Catarinense e conheci muitos alunos. Um dia, ao ler o nome completo de um deles, notei um sobrenome que era familiar e ao questionar o aluno sobre o parentesco com uma pessoa, a resposta foi afirmativa: "É minha mãe". Em seguida eu contei para ele que tinha sido aluno dela e lembrava muito bem da minha ex-professor. Passado mais alguns anos, quando comecei a me interessar pela escrita, eu descobri, pesquisando na internet, sobre autores catarinenses, que aquela minha ex-professora havia publicado um livro e assim, fiz contato com ela, via Facebook. A partir desse contato, eu fiz umas perguntas para ela, que abaixo coloco à disposição de vocês.

1) No seu blog (blogpalavra.com.br), a senhora diz que: “é uma pessoa apaixonada pela língua portuguesa, pela riqueza de seu vocabulário, pela musicalidade com que soam suas palavras, pela interação que possibilita a povos de distantes territórios, pela harmonia em sua sintaxe”. Como essa paixão pela língua portuguesa teve início? Foi no colégio, na universidade, em casa? Comente...

R.: Renato, acho que fui beneficiada pela família em que cresci e pelo momento em que frequentei meus anos básicos de escolaridade. Em minha casa, lia-se muito: meu pai era daqueles senhores que liam jornais, comentavam os fatos políticos, acompanhavam os acontecimentos (Imagine que ele tinha guardados os mapas do avanço dos aliados durante a Segunda Guerra Mundial publicados pela Revista O Cruzeiro!). Minha mãe, embora até os dez anos só falasse alemão, mantinha sua biblioteca em casa e a dividia conosco. Antes dos catorze anos, eu já tinha lido, entre outros, todos os de José de Alencar, Hemingway, os três primeiros volumes de Tarzan dos macacos, de Edgar Rice Burroughs, e até mesmo autores tidos então como perigosos, como Júlio Ribeiro. Eu tinha uma prima, já professora, que narrava com detalhes todos os livros que lia, uma maravilha!

Além disso, sou da geração de O Tico-tico (uma publicação mensal dirigida às crianças): ali se aprendiam jogos, fatos históricos, cantos, lendas; despertava-se para leituras mais complicadas. Na adolescência, lia-se também o Reader’s Digest.

 

2) De acordo com a primeira pergunta, dê um exemplo de musicalidade com que as palavras soam...

R.: Nessa afirmativa vai um pouco de brasilidade: existe algo mais doce e musical do que o Português falado no Brasil? Nossos múltiplos sotaques, que parecem canções? Fico encantada ouvindo os irmãos nordestinos, também os mineiros, os paulistas, os gaúchos... E o nosso manezinho? Onde encontar música mais agradável aos ouvidos?!

 

3) A senhora foi minha professora de português, no ano de 1985, no Colégio de Aplicação – UFSC. Lembro-me de um exercício, de um exemplo, quando fizemos uma leitura e análise da letra da música “Língua”, escrita por Caetano Veloso. Guardo ainda, algumas explicações sobre o conteúdo e seus detalhes. Por exemplo: “Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luis de Camões”; “Gosto de ser e de estar”. Se não me engano e se aprendi direito, o que a senhora ensinou, esses dois trechos fazem referência aos idiomas português e inglês. O verbo to be, que pode ser e estar e que na língua portuguesa utilizamos dois verbos/palavras, pois são duas ações diferentes... Sendo um crítica ao excesso de palavras e expressões da língua inglesa, quando deveríamos nos aproximar mais do português que se origina de Portugal. É isso mesmo?

R.: Sim. Naquela música, Caetano apresenta uma homenagem à Língua Portuguesa, de certa forma, advogando o respeito a suas formas, seja na valorização de sua origem “roçar a língua de Luís de Camões”, seja nas especificidades que a enriquecem “ser e estar” (a maioria dos idiomas tem apenas uma forma para designar o que é permanente e o que é transitório). Não sei o que ele pensaria hoje. Às vezes Caetano me causa espanto.

 

4) Ainda no seu blog, assim está escrito: “Também escrevo, um pouco, nas horas vagas”. Sobre o que a senhora mais gosta de escrever? Contos, poemas, crônicas, artigos científicos?

R.: Não sei trabalhar a poesia! Já desisti.

Escrever crônicas é o mais divertido: surge como um olhar desesperançado sobre o ser humano, mas com um viés bem-humorado, uma certa condescendência, um certo riso.

Os contos se impõem como uma necessidade de dizer, uma percepção que grita, mas se esconde atrás das palavras, atrás de uma história.

Os textos técnicos surgem como uma exigência do trabalho. Procuro usá-los como forma de comunicação com meus alunos. Não têm ambição maior.

 

5) Penso que a escrita e a leitura estão ligadas direta e fortemente, mas geralmente, cada pessoa tem uma preferência. A senhora prefere ler ou escrever? Justifique...

R.: Ler. Ler me alimenta, é quase uma justificativa para continuar. A curiosidade sempre chama para novas leituras. Nos últimos anos, tentando entender o ser humano, tenho escolhido leituras que me permitam acompanhar a trajetória humana.

 

6) Conte para nós sobre o seu livro, Sombras e Silhuetas.

a) Em que ano ele foi publicado?

b) Do que se trata?

c) A publicação foi por conta própria ou foi financiada de outra forma?

d) Quantos exemplares foram publicados?

e) O livro vendeu bem?

R.: Sombras e silhuetas é resultado de uma série de coincidências felizes. Eu estava num daqueles períodos de observação intensa, em que tudo parece virar texto. Reuni um punhado de relatos sobre momentos vividos por mulheres em seu cotidiano e levei para Eglê Malheiros, esposa do escritor Salim Miguel, ela também escritora, ler e avaliar. Ela me incentivou (acredito que, se ela me tivesse desencorajado, eu jamais escreveria uma linha sequer). Talvez eu nunca possa dizer a ela (que hoje mora em Brasília) o quanto seu olhar acolhedor e sua fala tranquila representaram para mim naquele momento.

Também a Editora da UFSC, sob a direção do professor Alcides Buss, oferecia a seus leitores a Coleção Ipsis Litteris, voltada para a poesia, o conto e o romance. Aprovada minha proposta pelo Conselho Editorial, Sombras e silhuetas foi publicado em 1998, numa edição de setecentos exemplares. Sendo uma publicação da EDUFSC, não tive despesas. Não sei dizer se deu algum lucro à Universidade. Hoje só pode ser encontrado em sebos. Preciso pensar em editá-lo novamente.

 

7) No seu blog é possível encontrar dicas de como escrever melhor. Na sua opinião, a maioria dos brasileiros escreve bem ou não? Justifique...

R.: Aprender a escrever é um processo. Algumas profissões exigem essa habilidade. Tenho percebido um crescente abandono no cuidado com a Língua, tanto falada quanto escrita, entre os brasileiros. Na verdade, é um abandono autorizado. Não sei o que se pretende, já que a manutenção da Língua é uma das garantias da sobrevivência de um povo.

 

8) Ser professora é uma vocação, mas também é um desafio. Quais os aspectos e/ou fatores que tornam a arte de ensinar prazerosa e ao mesmo tempo, desafiadora?

R.: Ensinar é sempre um desafio. Ligado ao profissional, está o ser humano, com seus erros e acertos, seus medos, suas inseguranças. Fundamental é acreditar, estabelecer cumplicidade, ter claros os objetivos do trabalho.

Se eu pudesse voltar ao passado, a única coisa que faria diferente seriam as vezes em que perdi a paciência. Foram poucas, e me lembro de cada uma.

Agradecer, agradeceria sempre, por cada vida que se somou à minha, que me deu oportunidade para crescer e aprender.

Para que você acredite em como é funda essa parceria, vou relatar um fato. Teve um período em que minha saúde ficou muito prejudicada e precisei fazer várias cirurgias. Isso mexia muito comigo, me deixava receosa. Numa dessas cirurgias, voltando da anestesia, na sala de recuperação, senti alguém sentado a meu lado, segurando minha mão, e uma voz que me dizia “Eu estou aqui, professora. Está tudo bem. Eu estou aqui”. Quem era? Não importa: era meu aluno. Sim, estava tudo bem.

 

 

9) Quais os problemas mais comuns na docência? É o excesso de aulas a preparar e provas a corrigir? É a falta de interesse dos alunos? É a remuneração baixa?

R.: Para mim, o mais difícil sempre foram as avaliações. Gostaria de ensinar sem avaliar.

No que se relaciona à atividade do magistério, somam-se vários problemas: desvalorização do conhecimento e, consequentemente, do professor; descaso com a educação; abandono das escolas a ponto de se tornarem sucateadas; distanciamento entre os objetivos dos planos de ensino e a realidade da população. São tantas coisas. É preciso um olhar atencioso para o assunto.

 

10) “Se você acha que a educação é cara, experimente a ignorância”, Esta frase é atribuída a Robert Orben. O que a senhora pode comentar sobre ela?

R.: Não há o que discutir: o conhecimento nos torna melhores, mais capazes, mais irmãos. Qualquer povo que apostar na ignorância fica condenado a se destruir.

 

11) Hoje, eu penso que as escolas deveriam ter mais aulas de português, de redação, de oratória... Existem muitas disciplinas que ensinam coisas que a maioria dos alunos não utilizam durante a vida, principalmente química, física, matemática (eu nunca utilizei o que aprendi sobre logaritmo)...

A escola, como espaço de ensino-aprendizagem, ao meu ver, erra de forma grave, na construção da grade curricular e nas ementas. Esta é a minha opinião. A senhora concorda, discorda, enfim, qual a sua opinião?

R.: Minha mãe dizia: “Saber não ocupa lugar”. Fiel a esse raciocínio, penso que tudo o que aprendemos nos aprimora. Pode não ter uso prático na carreira que escolhemos, mas desenvolve o raciocínio, a capacidade de observação, de dedução, de associação. Somos a soma de tudo o que lemos e aprendemos.

 

12) Rubem Alves afirmou: “Escrever e ler são formas de fazer amor. O escritor não escreve com intenções didático-pedagógicas. Ele escreve para produzir prazer. Para fazer amor. Escrever e ler são formas de fazer amor. É por isso que os amores pobres em literatura ou são de vida curta ou são de vida longa e tediosa”. Peço que comente essas palavras...

R.: A leitura só frui se for prazerosa. Ler por obrigação tem outro significado, se bem que possa ser necessária. Escrever é uma forma de comunicar. É um encontro com o outro; um diálogo.

 

13) Um livro que lhe marcou positivamente? E por quais motivos este livro foi marcante?

R.: Os Buddenbrook, de Thomas Mann. Eu já lera E o Vento Levou, de Margaret Mitchell, em minha adolescência, e, ao acompanhar a decadência dos Buddenbrook, despertou em mim a consciência das grandes mudanças que os povos e as sociedades sofrem com o advento de novos valores, novos costumes, grandes tragédias. Passei a olhar a história dos indivíduos de uma forma mais abrangente, imbricada na história da humanidade. Também fiquei mais exigente em minhas leituras.

 

 

14) Muitos homens iniciaram uma nova era na sua vida a partir da leitura de um livro. Essas palavras são de Henry David Thoreau. Indique um bom livro para quem deseja se aventurar no hábito da leitura, independente do gênero...

R.: Meu conselho é: “Leia, leia sempre. Jornal, face, whatsApp, instagram, letra de música. Leia. Você vai encontrar o assunto que lhe agrada, a história que vai transportá-lo para o mundo das descobertas”. Há muito a humanidade deixou de ser uma sociedade ágrafa. Dizer que não gostamos de ler é pura ilusão: lemos o tempo inteiro.

 

15) A língua portuguesa é o idioma oficial em diferentes países, porém, muitas vezes, existem diferenças na forma de escrever e no significado. Essas diferenças podem ser consideradas normais? Explique...

R.: A Língua é um organismo vivo, sofrendo permanentes transformações no tempo e no espaço. Isso é absolutamente normal. Os regionalismos, aqui mesmo, tornam a Língua mais pitoresca.

Mas existe uma linguagem oficial, comum a todos os países que falam Português, mantida de comum acordo. Qualquer alteração exige uma discussão com representantes de todos os países do grupo. Aprovada a alteração por essa comissão, ela é levada ao Congresso de cada um dos países para nova discussão e posterior aprovação. Se não houver consenso, nada se altera. Não é porque um grupo qualquer resolve mudar a Língua que isso será feito.

Já o linguajar adotado por diferentes “tribos” é enriquecedor.

 

16) Portugal tem dentre os escritores famosos: Fernando Pessoa, Eça de Queiroz, Luis de Camões, José Saramargo, etc.

No Brasil temos: José de Alencar, Monteiro Lobato, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis, Clarice Lispector Graciliano Ramos, Mario Quintana.

Santa Catarina possui Cruz e Souza, Lausimar Laus, Flávio José Cardoso, Silveira de Souza, Urda Klueger, Virgílio Várzea, Antonieta de Barros entre outros nomes. Com tantas referências e exemplos, por quais motivos, boa parte das pessoas tem medo de escrever?

R.: Exatamente por isso. Se admiro muito a excelência, tenho medo de me expressar. É preciso primeiro vencer a barreira.

 

17) Já que estou conversando com uma professora de português, eu aproveito para confessar a minha dificuldade com o uso da crase. Como faço para entender a regra e não errar mais nessa questão? A senhora tem algum macete ou dica para me auxiliar?

R.: Renato, é muito simples, desde que você se atenha ao significado da crase. Crase é fusão de preposição com artigo (a+a) ou de preposição com o a dos pronomes aquele, aquela, aquilo (a+aquele, etc.). Quando e por que acontece?

Temos situações em que um termo solicita um complemento. Veja:

        Confio em você.

        Tenho confiança em você.

        Ele está confiante em encontrar um emprego.

Note que confio, confiança e confiante são acompanhados da preposição em.

Observe as orações:

        Ele tem confiança na vida. Aqui empregamos a preposição em contraída ao artigo a = na

        Ele sempre contou com a ajuda da família. Aqui, a preposição com seguida do artigo a

 

O mesmo acontece quando um termo for regido pela preposição a:

Gilberto ficou a esperar.

Gilberto ficou a a (à) espera de Maria.

Dedicou sua obra a a (à) pessoa mais importante de sua vida.

O que chama a atenção é seu amor a a (à) vida.

 

Você já deve ter percebido que só se dá a crase em complementos (objeto direto preposicionado; objeto indireto; complemento nominal) ou em adjuntos (que informam uma circunstância): à vontade, às turras, às cegas e são formados com a+a (as); na entrada= à entrada, na proporção em que= à proporção que. Neles sempre se encontra a fusão da preposição a com o artigo a.

Aquelas dicas todas que a gente aprende são decorrentes dessa norma. Basta entender a relação de complementação.

 

18) Na imprensa brasileira, a senhora consegue perceber, notar erros de português com frequência? Se sim, quais os erros mais comuns, seja nos jornais impressos, televisão, rádio, revistas...?

R.: Erros gravíssimos: abandonaram totalmente as preposições e conjunções; desconhecem as concordâncias, as formas do subjuntivo; não distinguem sequer mal de mau.

Dizem que os textos são elaborados por estagiários sob supervisão. Supervisão de quem? Os jornalistas devem ter abandonado seus estagiários ou já não interessa prezar pela língua portuguesa. Esse descuido se encontra em toda a imprensa escrita, tradicional ou virtual.

 

19) O Brasil por ser um país territorialmente imenso, possui muitos regionalismos, na fala e também na escrita. Essa característica é benéfica ou atrapalha na hora de aprender e de estudar o nosso idioma?

R.: Essa característica nos torna múltiplos e unos a um só tempo. É natural que assim seja.

 

20) A internet, mesmo sendo uma ferramenta incrível, parece que ela atrapalha a atual geração, a desenvolver o raciocínio para escrever bem, assim como está diminuindo o vocabulário das pessoas. A senhora concorda ou discorda com esta afirmação? Justifique...

R.: A internet é um incrível meio de aproximação. Para o bem e para o mal. Basta saber usá-la. O que acontece é que a facilidade que oferece nem sempre é aproveitada.

Com relação à atual geração, essa garotada irá muito mais longe do que supomos. Se lhe for oferecida a Escola de que precisa, a orientação necessária e liberdade para a descoberta, poderemos acreditar no futuro.

 

21) A senhora tem intenção de publicar outro livro? Se sim, o que ele abordará e o que falta para que ele fique pronto?

R.: Tenho participado de algumas publicações coletivas. Também aproveitei a reclusão forçada e escrevi, com minha prima Maria Ester, uma narrativa sobre nossos antepassados germânicos. Foi um mergulho interessante.

Meus irmãos têm pedido que eu escreva algo sobre nosso pai. Talvez... Se eu conseguir levantar os dados necessários.

É claro que esses escritos são destinados à família apenas.

No momento, estou transformando o material que publiquei no blog em um livro sobre redação.

Estou pensando também em reunir algumas dezenas de crônicas já escritas.

Por que a crônica?

Li há algum tempo a declaração de um escritor que afirma que, ao envelhecer, ficamos debochados. Acho que é isto: a crônica permite, talvez não o deboche, mas a ironia que a vida desperta.


terça-feira, 18 de maio de 2021

ENTREVISTA COM LEANDRO ANTÔNIO DE OLIVEIRA BRANDTNER

 

1. Conte-nos sobre os livros que você publicou...

Leandro Brandtner: Ainda não publiquei nenhum. Tenho alguns escritos e três ou quatro livros. Um realmente pronto para ser publicado e outros três ou quatro parados no computador, que espero por uma revisão, uma releitura. Eu tive um conto publicado na revista da FURB, a convite de uma professora da faculdade. Também tenho uma crônica publicada no livro dos quarenta anos da UFSC, onde fui um dos ganhadores do concurso e, um livro que foi feito com uma pesquisa minha da faculdade, sendo um livro didático publicado pela UFSC, não havendo retorno, apenas um trabalho publicado por lá. Também tenho participação no livro “EU CONTO! TU POEMAS!” com um conto e um poema.

 

2. A publicação foi você quem pagou ou foi com alguma editora?

Leandro Brandtner: Destes, eu auxiliei nos custo do livro Eu conto! Tu poemas, os demais não paguei.

 

3. Seus livros vendem bem?

Leandro Brandtner: Nem tanto quanto eu gostaria.

 

4. Onde seus livros podem ser encontrados?

Leandro Brandtner: O livro Eu conto! Tu poemas!, pode ser comprados diretamente comigo.


5. Qual a pior parte: escrever, publicar ou vender?

Leandro Brandtner: Eu acredito que seja vender. Escrever é o dom, é o prazer. Com certeza não é a pior parte. Não participei diretamente de nenhum processo de publicação. Eu acredito que seja mais a questão da venda; aquela história que você tenha que pegar teu livro e dizer: “O livro é meu; fui eu que escrevi”! Acredito que seja vender

 

6. Você é natural de Porto Alegre, morou no Rio de Janeiro e em Florianópolis; estas cidades, te influenciaram ou te inspiraram na escrita, ou não há nenhuma relação e influência? Justifique...

Leandro Brandtner: Eu acredito que a única influência que eu tenha tido, em relação à essas cidades, tenha sido com o nível cultural e formal da linguagem. No sul a gente é muito mais formal e utiliza muito mais a linguagem de maneira correta, com menos gírias. Embora cada região tenha suas gírias, mas na hora de escrever a gente é muito mais formal e tenta ser mais correto. Acho que é a única influência que eu tenha em relação à isso.

 

7. A escrita é mais inspiração ou transpiração? Justifique sua resposta...

Leandro Brandtner: Com certeza: inspiração! Todas as vezes que me sentei para escrever forçado, não saiu nada! Então não adianta você sentar na frente do computador e forçar a barra, que não sai. Estou falando de mim! Eu já escutei a história de que você tem que transpirar, que é cinco por cento inspiração e noventa e cinco por sento transpiração... Não! Para mim é exatamente o contrário. Se eu não tiver inspirado, se eu não tiver a ideia, eu posso ficar sentado na frente do computador o dia inteiro que não sai nada.

 

8. “O desejo lascivo de meus sonhos anormais... Possuí-la”. Estas são palavras suas no poema “Sobre o pedestal”. Você pode descrever quais são os seus sonhos anormais?

Leandro Brandtner: Eu sou um escritor bastante complexo; eu escrevo de tudo, absolutamente de tudo - e tudo que tenha a ver com o ser humano. E como eu estudei o comportamento humano, como autodidata, por trinta e cinco anos, então e compreendo que nós temos uma mente muito... como posso te dizer? Para quem estuda, para quem tem interesse, que é o meu caso, de buscar tudo, todo o tipo de conhecimento... E naturalmente que quando falamos de amor, de corpo, de sexo e de prazer. E essas coisas estão todas vinculadas, para mim amor e sexo estão vinculados. E quando se fala aqui “possuí-la”, nesse trecho onde eu falo “o desejo lascivo de meus sonhos anormais”, é porque é um embate entre o instinto, propriamente dito, e o sentimento. Então quando eu falo do desejo lascivo é porque você simplesmente ignora o sentimento e deixa fluir o lado mais primitivo, o lado mais animal. Então esses sonhos estão vinculados a esse embate, ou seja, quando a gente esquece o lado sentimental e deixa sobre o controle, o lado mais primitivo.

 

9. Você tem algum receio ou medo de expressar suas ideias e pensamentos nos seus textos? Por que?

Leandro Brandtner: Eu sempre fui uma pessoa que as pessoas não gostam. Sou uma pessoa que diz na cara, as coisas, a verdade, doa a quem doer. Então eu seria muito hipócrita ao chegar e dizer, falar coisas que eu não prego, ou seja, não condizer com aquilo que eu penso. Falar uma coisa e pensar outra, eu não sou assim. Então, eu não tenho medo nenhum de expressar minhas ideias e pensamentos, doa a quem doer. Principalmente porque eu escrevo do princípio que sempre foi o de escrever para mim mesmo. Não foi o de escrever para agradar ninguém, nem escrever para os outros, nem para um público, nem para comércio, nada disso! Eu sempre escrevi como uma forma de aliviar o peso da minha alma. Então eu estou pouco me “lixando” para o que as pessoas vão falar, criticar, reclamar, se irão entender ou não irão entender. Portanto eu não tenho nenhum medo de expressar minhas ideias e pensamentos.

 

10. Qual é o sentimento ou emoção que você coloca com mais frequência nos seus textos: alegria, tristeza, sarcasmo? Cite algum exemplo...

Leandro Brandtner: Com certeza, é a tristeza. Eu acho que estou muito mais inspirado quando eu estou mais triste. Acho que a tristeza é o momento em que nós estamos mais em contato com a nossa alma e sempre quando eu escrevo de maneira intensa e com a alma, então a tristeza está vinculada. E a tristeza, por mais que as pessoas não gostem de “sofrência”, a tristeza ensina. O sarcasmo vem em segundo lugar, com certeza, porque às vezes você tem que absolutamente sarcástico, nos dias de hoje.

 

11. Luis Fernando Veríssimo disse uma certa vez: “Nunca tenha medo de tentar algo novo”. Por falar em medo, quais são os seus medos na escrita?

Leandro Brandtner: O meu medo na escrita é apenas um, é não encontrar a maneira adequada da ideia que eu tenho. Muitos dos meus textos são metafóricos, muitos as pessoas não vão entender quando ler – tenho certeza absoluta disso. Eles são, às vezes, subliminares, muita coisa está nas entrelinhas, muita coisa que está sendo dita, na verdade não é aquilo que está sendo dito, é uma metáfora. E às vezes, com um sentido muito mais profundo do que expressa, porque eu gosto disso. Eu sou assim. É uma mistura de filosofia, de psicologia, espiritualidade, tudo junto, tudo da essência do ser humano. A essência pura e simples; a alma, como eu já disse. O meu medo é na hora que eu estou escrevendo, eu não conseguir expressar aquilo que estou querendo dizer, mas, em mim. Por exemplo, se eu quero dizer que a chuva é ácida, eu não vou dizer simplesmente “a chuva é ácida”, “o ácido sulfúrico está caindo do céu”, não é bem isso que eu tenho que dizer. Então eu tenho que encontrar um termo mais adequado para o que eu quero representar com esta chuva ácida. De repente, os sulcos que ficam na terra depois da água cair e ela derreter a solidez do solo. Talvez fosse a forma mais adequada. Ou seja, o meu medo é de não estar satisfeito comigo, ao expressar uma ideia.

 

12. Você joga xadrez muito bem. E este jogo necessita de imaginação, raciocínio e criatividade, assim como a escrita. Você acredita que isso seja verdadeiro ou é apenas uma mera coincidência? Justifique....

Leandro Brandtner: Eu acho que existe um componente no xadrez a mais, que é a lógica. O fato da lógica ser aplicada ao xadrez, te dá uma dinâmica de previsão. A grande aplicação do xadrez, se a gente fosse aplicar o xadrez no ato de escrever, não se trata bem da imaginação, raciocínio e da criatividade, mas na percepção futura dos acontecimentos. Um escritor tem que saber o que vai acontecer, por mais que, às vezes você perca o controle dos seus personagens, tu sabes, lá na frente o que vai acontecer. É como você faz no xadrez, tem que prever três, quatro, cinco jogadas à frente, tuas e de teu adversário. É muito mais nesse aspecto. E creio que ajuda o raciocínio; o xadrez é algo que te ajuda no raciocínio, você pensa com mais rapidez, com mais fluência.

 

13. Muitas pessoas acham que escrever é difícil? É por causa das regras gramaticais, ou é preguiça mesmo?

Leandro Brandtner: Acho que não é nenhum, nem outro. Escrever é um talento, é um dom. Obviamente nós vivemos em uma sociedade muito comercial, onde muitos escritores vendem muito mais pela propaganda, do que propriamente por ser uma boa obra. Vide Cinquenta Tons de Cinza, que, por exemplo, é uma porcaria, no entanto vendeu muito. Mas como obra, você vai ver, é uma porcaria. Então eu acho que escrever é um dom. É a mesma coisa que você chegar para mim e me pedir para desenhar; eu não consigo desenhar nada. Eu amaria saber desenhar, mas eu não sei desenhar. Então se aplicasse a mesma pergunta assim: “Muitas pessoas acham que desenhar é difícil, isso por causa do desenho, do lápis ou por preguiça”? Não! É talento. Regras gramaticais você não precisa saber, porque escrever é quase como um ato intuitivo, depois quando você for ler e reler o que você escreveu, aí você vai se preocupar com regras gramaticais. Quantas vezes você está escrevendo e você simplesmente palavras chave? Você não coloca uma frase certa, formal, coerente. Você coloca palavras chave para constituir a sua ideia e depois disso você vai consertar e construir o seu raciocínio e a grafia correta. Às vezes ocorre isso. Não creio que seja por regras gramaticais. Por preguiça, sim. Se as pessoas tem preguiça para ler... E às vezes nem é preguiça para ler... Eu mudei o meu ponto de vista a respeito disso, até porque eu mesmo parei um pouco de ler. Existe o fato de que você perde quatro, seis horas por dia lendo um livro e você pensa que poderia fazer outra coisa no momento. Então, às vezes, não é o fato da preguiça, mas o fato deque você pensa que poderia fazer outra coisa no momento. Mas o ato de escrever não, porque você, ao escrever, você está construindo algo, por exemplo, você está fazendo o que gosta. Então, geralmente, eu acredito que está mais associado ao seu dom e ao gostar de fazer, do que por regras gramaticais

 

14. Normalmente, todo escritor ou escritora tem um jeito peculiar, ou um estilo próprio para escrever. Qual é o seu estilo de escrita?

Leandro Brandtner: Eu tenho um estilo próprio. Por exemplo, se for publicado meu conto, eu não uso nomes, os personagens não tem nomes. Eu não utilizo nomes especificamente. Obviamente que em um romance sim, é necessário. Outro detalhe: são mais contos reflexivos, é até difícil de explicar. “As vezes você não sabe o que realmente está lendo ali”. É um conto, mas ao mesmo tempo é uma reflexão, mas a reflexão está contando alguma coisa. Então se misturam vários estilos em um mesmo texto. Muito pouco eu mantenho a linearidade, obviamente, alguns sim. Principalmente os metafóricos não tem uma linearidade. E como disse anteriormente, aquilo que você está lendo não é aquilo que você está lendo, porque são metáforas. Embora o texto seja absolutamente claro a respeito daquilo que você está lendo ali como um conto. Eu posso, por exemplo, estar escrevendo o conto da casa e você estar lendo tudo sobre uma casa, só que eu não estou falando nada sobre casa. Então para quem está lendo é a casa, só que eu não estou falando da casa. Isso é um estilo meu, justamente pela questão da alma. Foi o que eu disse, a alma não é tão somente você colocar a sua vontade, mas alma é algo mais complexo, parece que ela consegue captar algo mais profundo. E as coisas profundas da alma não são ditas com palavras tão simples, principalmente quando sua alma é bastante complexa.

 

15. Você tem algum texto que escreveu mas não ousa publicar ou mostrar para alguém? Se sim, o que ele trata? Se não, que tipo de texto você não mostraria para as pessoas?

Leandro Brandtner: Eu já escrevi pornografia e não mostro para ninguém, porque as pornografias que eu escrevi foram escritas para pessoas com a qual eu tinha um convívio íntimo. E acho que determinadas coisas não... (neste momento Leandro não encontra as palavras certas). Assim como tem muita coisa... Porque nós vivemos numa sociedade hipócrita. Por exemplo, se ouve falar muito de pedofilia, pedofilia, pedofilia, porque é isso e aquilo e você entra em chats de sexo e mais da metade são pedófilos. Eu já fiz essa pesquisa. Então existe uma grande hipocrisia nessas questões, principalmente ligadas a tabus e sexo. Há coisas que as pessoas não gostam de ver “na cara”, não gostam que mostrem as verdades; não querem que peguem a sua sujeira e tire debaixo do tapete e mostrem para todo mundo ver. As pessoas são assim. Não adianta eu chegar e dizer que vou escrever um texto pornográfico e vou publicar, porque tem coisas que as pessoas não vão querer ver, pela hipocrisia. Aí não tem a ver exatamente com o medo, mas simplesmente porque não vale a pena

 

16. Atualmente, a maioria das pessoas vive grudada em um celular, conversando simultaneamente com várias pessoas ou acessando a internet. Você acredita que essa facilidade tecnológica seja mais benéfica ou maléfica para um escritor? Por quê?

Leandro Brandtner: A maldade não está na tecnologia, mas em quem faz mal uso dela. A tecnologia ajuda e a gente sabe disso, em muita coisa. O fato e você escrever, você tem um editor de texto, antigamente você pegava uma máquina de escrever, para corrigir você tinha que pegar uma fita, bater a tecla de novo e arrumar. Hoje você chega em um computador você tem o word, bate, corrige, apaga, deleta, faz tudo ali, rapidamente, tabula, enfim... Não tem como negar os benefícios da tecnologia, o problema é para o que que a tecnologia está sendo utilizada. Malefício é o ser humano e não a tecnologia. O ser humano evoluiu tecnologicamente e muito. Só que como ser humano, nada! Até o fato de eu te enviar as respostas via celular; se fosse escrever e enviar por uma carta... Não há dúvida alguma que a tecnologia é benéfica, quem é maléfico é o ser humano que faz mau uso da tecnologia.


17. Millor Fernandes disse: “Para pensar melhor faça exercícios com a cabeça”. Você pratica algum exercício para a mente?

Leandro Brandtner: Eu jogo vários jogos no computador, em que exercito a cabeça. Estou sempre criando, sou criativo o tempo todo. E quando eu não estou criando um escrito, eu estou em um jogo que me faça usar a capacidade criativa. Além de lógica e outras coisas mais. Talvez a única coisa que eu devesse voltar a fazer é, realmente ler. Embora eu leia notícias, mas é muito pouco, não é uma coisa que eu fique ali o tempo todo. É importante, sim, fazer exercícios com a cabeça, só que está mais limitado ao uso do computador.

 

18. As palavras difíceis ou incomuns no nosso cotidiano, te fascinam na escrita ou você faz questão de escrever do jeito mais simples possível? Justifique...

Leandro Brandtner: Eu sou absolutamente complexo e estou pouco me lixando se a pessoa vai ter que usar o dicionário procurar o significado da palavra que eu utilizei. Se eu gosto de uma palavra, aliás o nosso português, às vezes tem um problema, pois nós temos uma palavra com vários sinônimos, mas ao mesmo tempo tem algumas palavras que faltam sinônimos. Você não consegue substituir aquilo e aí você tem que mudar uma frase inteira porque não conseguiu achar uma palavra que coubesse naquele significado que você gostaria. Como falei anteriormente, por exemplo, o meu medo de não conseguir encontrar a maneira correta de expressão. Eu gosto de palavras difíceis, eu gosto da língua culta, eu gosto de escrever correto, não gosto de gírias. Isso é um problema, por exemplo, se em um romance eu lido com um personagem pobre, ele fala cheio de gírias e não fala o português corretamente. Aí sou obrigado a verter, mas de um modo geral. Em textos reflexivos, dificilmente você vai ler algo muito simples. Se eu estou usando termos simples, é porque aquele texto tem por objetivo ser simples. Mas no uso normal, se eu tiver que escolher, optar por uma palavra difícil ou.... Ah! Exodrama ou um drama de seis faces? É óbvio que eu vou usar um exodrama.

 

19. Você já está preparando o próximo livro, ou ainda é cedo para pensar sobre isso?

Leandro Brandtner:  Eu já estou com Limite Zero pronto. Estou escrevendo Limite Zero – Volume Dois. Estou tendo que fazer a revisão total, praticamente estou tendo que reescrever o livro Lord da Solidão – ele foi escrito em oitenta e nove: dois primeiros meses de oitenta e nove, nos dois primeiro meses de noventa e nos dois primeiros meses de noventa e um. Há muita coisa lá que não faz mais sentido, no dia de hoje, se ele fosse publicado no dia de hoje. E algumas coisas eu já amadureci muito mais. E esse livro é “O LIVRO” para mim. É o meu filho, o filho que e não tive. E continuo a escrever. Tive uma parada e teve um convite para mandar um poema, na verdade é um concurso para ver quais poemas serão publicados e o meu poema vai ser publicado. Mas não estou escrevendo com afinco, estou meio sem vontade. Mas de escrever a gente não para. E eu também tenho um outro projeto que é escrever meu próprio tarô e o eixo dele, pelo menos está feito. Não é bem um tarô, mas eu digo tarô para ficar mais fácil de compreender. É um livro de oráculo, mas está parado também. Quando as ideias fluem, eu sento e escrevo alguma coisa, mas não estou me obrigando a nada. Estou apenas me deixando levar, esperando para ver o que acontece.




Leandro Brandtner


terça-feira, 20 de abril de 2021

EDITAR UM LIVRO É SEMPRE UM RISCO - Edição em Portugal

Numa grande estante cheia de livros, cabem histórias provenientes de lugares geograficamente distantes, autores que se cruzaram em vida e outros que nunca se conheceram. Por muito diversas que possam ser as narrativas, as edições e o estilo de escrita dos próprios autores, há um fator que têm sempre em comum: alguém escolheu editá-los. Como escolher um livro para editar? É uma pergunta com múltiplas respostas.


De Carolina Franco


Na viagem que um livro percorre até chegar à estante cheia de outros títulos, seja numa livraria ou numa biblioteca, existe um trabalho demorado, que implica decisões a cada passo que podem ditar o posicionamento desse mesmo livro. No trabalho de edição, o primeiro passo pode ser o mais entusiasmante, mas será, certamente, o que implica mais risco. Escolher editar um autor em detrimento de outro, ou um título desse mesmo autor ao invés de outro, pode representar um risco. Não é fácil prever o seu impacto no panorama literário, sobretudo se for uma voz jovem e dissidente. Mas Carmen Serrano (Grupo Leya), Diogo Madre Deus (editoras Elsinore e Cavalo de Ferro) e Gonçalo Gama Pinto (Agência Literária Ilídio Matos) garantem: vale sempre a pena entrar na viagem.

Os motivos que levam um editor a escolher um livro para editar são variados, encontrando-se intrinsecamente ligados ao perfil literário de cada editora ou chancela editorial. Como se ao escolher um autor e determinado livro para traduzir se estivesse a acrescentar uma camada à identidade do grupo editorial, e uma espécie de membro à sua família sempre em crescimento. No caso de obras traduzidas, optar pela sua edição pode ser, também, o construir de uma ponte com o que foi feito ou o que se está a fazer no contexto literário do país em que foi escrito.

Carmen Serrano, editora do Grupo Leya responsável pela publicação de ficção traduzida, conta que “a definição das linhas orientadoras dos catálogos das chancelas é importante para a criação da identidade de cada uma delas mas, após esse momento inicial, a escolha dos livros é bastante pessoal”. Embora adeque os critérios de seleção aos géneros que publica, dentro do universo da ficção, o que a move é a relação que estabelece com o texto. “Seja pela escrita, pela voz do autor, pelo enredo, o tema, os personagens ou, idealmente, pela junção de todos estes fatores”, a editora mergulha “totalmente nos universos dos escritores”.

Se no caso da Leya o processo de edição parte de um género que se estende a várias editoras de um mesmo grupo, no caso de Diogo Madre Deus, editor na Cavalo de Ferro e Elsinore, existe um olhar para diferentes géneros literários que integram as editoras que gere. “Na Cavalo de Ferro e Elsinore, apesar de distintas, preocupo-me, no interior da literatura, com certa literatura, com a coerência do conjunto, com a construção de um catálogo de autores que sejam afins”, explica.

Editar um livro é, nas palavras da editora da Leya, “uma imprevisibilidade desconcertante, entusiasmante e motivadora”. Optar por editar um livro com bastante sucesso a nível internacional não significa necessariamente que o mesmo terá sucesso em Portugal; aliás, “é impossível prever um grande sucesso”, garante. “Se um livro ou autor ganhar um prémio literário importante ou visibilidade internacional, a probabilidade de se destacar em Portugal é maior, claro, mas será sempre uma incógnita até ao momento em que o livro vai para as livrarias.” Diogo Madre Deus arrisca mesmo dizer que “em Portugal editar um livro é, por si só, um risco”. “Não há propriamente nenhuma garantia, mesmo quando falamos de traduzir um best seller. Só se percebe se o investimento valeu a pena depois de editar”, explica. Além disso, importa referir que “o resultado de vendas não é sempre o único argumento a contribuir para essa validade.” Sobre best sellers, a editora do Grupo Leya acrescenta que “em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Reino Unido, Alemanha, as listas de livros mais vendidos têm inevitavelmente alguns títulos em comum, mas a diversidade é maior do que a homogeneidade”.


FEIRAS E AGENTES LITERÁRIOS: AS PONTES DA EDIÇÃO

Há já 64 anos que a Agência Literária Ilídio Matos tem um papel preponderante na edição de livros em Portugal. Representa editoras e agências estrangeiras e, segundo o atual diretor, Gonçalo Gama Pinto, o seu trabalho passa sobretudo por “proativamente fazer a ponte entre as editoras portuguesas e os catálogos” que representa, “tentando encontrar as editoras certas para determinados títulos e autores”.  No caso dos clientes estrangeiros, Gonçalo Gama Pinto conta que a mais-valia do agente local é “conhecer bem os catálogos estrangeiros com que se trabalha e os catálogos das editoras portuguesas”. “Para além das novidades, um trabalho que considero importante é o de ‘vasculhar’ as backlists e sugerir títulos que, por alguma razão, estão indisponíveis há muito em Portugal ou que nunca foram sequer cá publicados”, partilha.

A agência é responsável por todo o processo que implica o momento inicial da edição: “desde o envio de manuscritos para avaliação à negociação dos direitos de tradução, preparação de contratos, facilitar o contacto com autores para eventuais deslocações ou outras ações de promoção do livro”. O diretor aponta como principais critérios para a escolha de um livro que venha a ser traduzido e publicado em Portugal, “o fator comercial” e, naturalmente, “a qualidade ou pertinência da obra” — sendo que este último se aplica “sobretudo às editoras mais pequenas, independentes, e que fazem hoje um trabalho mais arriscado”.

“É de realçar a importância de certas tendências internacionais, o trabalho das editoras em oferecer aos leitores portugueses o que se passa lá fora”, diz o diretor da Agência Ilídio Matos. Quanto à visibilidade dos autores editados, Carmen acredita que “os agentes literários continuam a desempenhar um papel fundamental, principalmente na divulgação de jovens autores e primeiras obras, uma vez que os autores consagrados já beneficiam de canais de comunicação privilegiados”, sendo, por isso, feiras literárias como as de Londres (março/abril) e de Frankfurt (outubro) lugares importantes para o encontro.
Como lembra Gonçalo Gama Pinto, a dimensão da editora dita algumas das preocupações existentes na seleção. Em grande parte dos casos, os agentes representantes de autores e as feiras internacionais trazem as novidades e oportunidades; segundo Diogo Madre Deus, estes “sugerem novidades editoriais: aquilo que neste momento se produz ou é valorizado”. “É muito importante, essencial, dependendo das editoras, mas nem sempre aquilo que nos é sugerido por esta forma é o melhor ou o que queremos”, diz o editor, acrescentando que, no caso da Cavalo de Ferro, há outros critérios de seleção como “as leituras, as referências pessoais, as conversas e opiniões que nos levam a determinado livro ou autor”.

O QUE PESA NA TRADUÇÃO DE ALEMÃO PARA PORTUGUÊS?

Atendendo às décadas de experiência da sua agência, Gonçalo Gama Pinto nota que “atualmente se publicam mais livros, um pouco por todos os géneros”. No caso dos títulos de língua alemã, a sua “colaboração com várias editoras é mais recente”, uma vez que a língua foi sendo um obstáculo, “já que o acesso ao texto original é mais difícil”. “Mesmo quando o interesse de uma editora num determinado livro é notório, acaba sempre por se perder algum momentum à espera que uma eventual tradução (numa língua “legível”, como o inglês, o francês, o italiano ou o espanhol) fique pronta”, contextualiza. E outra questão a ter em conta é o preço da tradução, questão para a qual os programas de apoio, bem como os portais LETRA e Litrix, são bastante importantes.

Diogo Madre Deus acrescenta que “há muito pouca edição de autores alemães contemporâneos no nosso país”, mas que “não é problema exclusivo desta língua”. Além do custo da tradução, acredita que a expressão ainda pouco pronunciada de autores alemães se deve à “ainda fraca divulgação, aos poucos tradutores disponíveis, o predomínio anglosaxónico, a reduzida dimensão da nossa oferta”. Numa análise positiva, Gonçalo Gama Pinto diz que “talvez se tenha arriscado, timidamente, um pouco mais nos últimos anos, no que diz respeito a nomes desconhecidos ou mesmo novos nomes do panorama literário alemão”.

“Autores clássicos como Mann, Musil, Hesse, Sebald, Fallada, Zweig, Grass, acabamos por encontrar sempre nas livrarias, mas já tem sido possível fazer chegar aos leitores portugueses nomes novos, desconhecidos ou, embora estabelecidos, pouco traduzidos em Portugal, como Sasha Marianna Salzmann, Marion Poschmann, Daniel Kehlmann, Eugen Ruge, Robert Menasse ou Judith Schalansky (a ser publicada em 2021).” Vale sempre a pena arriscar.


AUTORA

Carolina Franco é jornalista no Gerador, e olha para assuntos internacionais no Shifter. Nascida no Porto, aprofundou o seu interesse na cultura e na arte enquanto estudou na Escola Artística de Soares dos Reis. Licenciou-se em Ciências da Comunicação pela Universidade Lusófona do Porto, passou uns tempos em Ljubljana e, na procura por outros olhares sobre o mundo, começou o mestrado em Antropologia – Culturas Visuais da Universidade Nova de Lisboa, onde se encontra agora.


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CASA DA LITERATURA CATARINENSE

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