Por Johnny Taira
Certo dia, me marcaram num post qualquer do Facebook, que tinha o seguinte conteúdo:
Marque seu amigo escritor, se não responder em dez minutos, ele deve escrever algo para você.
Fiquei lisonjeado, mas ao mesmo tempo me livrei da alcunha de escritor, logo de cara. Pois se sou muita coisa nesse mundão, além de achar ser muita coisa - ruínas ou boas - e no fim das contas não ser aquilo que a princípio pensava ser, escritor é algo que me pesa muito, só de almejar sê-lo. No mínimo e no máximo sou alguém que recebe.
E qual é a razão de tanto peso em cima de um título - ou cargo, emprego, característica, elogio, crítica?
É que ser escritor é muito mais do que "só" escrever bem. É capaz de propiciar diversos aspectos não somente em relação ao texto, mas em relação aos diversos aspectos da vida real em que vivemos: alegria, inspiração, tristeza, impotência, raiva, medo, mistério, dentre inúmeros outros e também uma mistura desses todos , citados ou não. Seja através da ficção ou do “baseado em fatos reais”, da fantasia ou do cotidiano, o escritor é capaz de proporcionar uma reflexão que extrapola o momento de leitura, se estendendo para o dia-a-dia daquele que o lê, além de também ser capaz de informar o leitor e trazer conhecimento para tal atividade.
Não é fácil ser escritor, no fim das contas, pois mais do que dominar o idioma do texto no âmbito técnico, é preciso também entender o contexto em que o texto é escrito, para que o efeito seja o desejado. E, ainda assim, como estamos lidando com seres humanos lendo as obras, é preciso também considerar que reações inesperadas virão.
Alguém achará o conto, o romance, a poesia uma merda gigantesca. Assim como aquela obra incompleta, guardada na gaveta por ser considerado aquém de um certo nível de qualidade pode ser considerada incrível. E pensamentos diversos podem surgir ao se terminar de ler um texto, que podem culminar em sentimentos sobre a vida, sendo capaz de ser a pedra angular que direciona a transformação do leitor, seja pelo bem ou pelo mal.
E não é qualquer um que deseje bem pode fazer isso. Nem eu sou capaz de promover reações através daquilo que escrevo.
Até que um certo alguém comenta:
Meu velho, e aquele seu conto, hein? Me senti tão representado por ele.
E outra pessoa afirma:
Sabe, você me inspirou a criar uma conta no Medium e começar a publicar meus textos.
E muitos me aconselham a cogitar escrever um livro.
Meu ego de escritor começa a crescer.
Saiba que ego de escritor é algo difícil de se lidar.
Afinal de contas, sou escritor ou não?
Ego de escritor não implica ser escritor, apenas quer dizer que você é egocêntrico.
É dia 25 de julho, estou diante do espelho do banheiro e vejo o reflexo do arquétipo de um escritor. Cabelos bagunçados, barba por fazer que ornam um rosto cansado, de semblante triste. Depois, vou para o meu quarto, olho para a minha pequena estante de livros, uma garrafa de vinho na mesa atrás de mim e ao lado do notebook - não vamos forçar a barra, máquina de escrever não -, o quarto sempre bagunçado e fedendo cigarro. Sou a definição do escritor fracassado, sem um puto no bolso, alguns contos que somente meus amigos lêem e sem esperança de ter um livro publicado. Estou diante de Kafka, Pepetela, King, Murakami, dentre outros. É o dia deles.
É o meu dia também? Questiono-me, com medo de encontrar resposta. No fundo, gosto de me dizer escritor mas não sei se me sinto pronto para fazer alguém rir ou chorar por conta de algumas linhas que jogo por cima do meu caderno de anotações. Com a mão na taça meio cheia - ou vazia? - ergo-a na altura dos meus olhos e digo, para todos os livros que completam minha coleção e que me fizeram rir, chorar e, principalmente, refletir ao longo da vida:
“Um brinde a todos nós.”
O ego de escritor superou o meu próprio ser.
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