terça-feira, 30 de junho de 2020

7 CASAS DE ESCRITORES QUE DESPERTAM O TURISMO LITERÁRIO NO BRASIL





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Casa das Rosas em São Paulo. (Foto: divulgação) turísticos que associam locais paradisíacos a discussões literárias e atividades culturais é um segmento que tem ganhado destaque no Brasil. São muitos os escritores que deixaram suas residências em grandes capitais ou em pequenas cidades para a guarda de seus acervos literários e artísticos.

O presidente substituto da Embratur, José Antônio Parente, afirma que é um nicho de turismo cultural dedicado a quem quer conhecer de perto a vida e pensamentos de autores e artistas aclamados. “Procuramos oferecer opções de viagens a todos os públicos e gostos, acalorar as discussões literárias e aproximar fãs e escritores de forma casual”, diz Parente. O Diário do Turismo lista algumas das mais conhecidas casas que recebem visitantes:

Museu Monteiro Lobato (Taubaté/SP)

Taubaté, no interior paulista, é outro município que tem um museu dedicado a um escritor. Neste caso, Monteiro Lobato. O museu oferece uma experiência única no mundo de Pedrinho e Narizinho, personagens do ‘Sítio do Pica pau Amarelo’, a obra mais famosa do escritor. Por lá é possível conhecer a casa que foi de seu avô, o Visconde de Tremembé, e apreciar mobiliário de época.

Museu Monteiro Lobato em Taubaté, SP. (Foto: divulgação)
Museu Monteiro Lobato em Taubaté, SP. (Foto: divulgação)

Cora Coralina (Cidade de Goiás, GO)

Na pequena Cidade de Goiás (GO) uma pequena residência é parada obrigatória para quem chega à cidade. É onde morou Cora Coralina. A casa recebe mais de 30 mil turistas por ano. Por lá, os visitantes têm acesso a objetos pessoais, fotografias, vestidos, livros, cartas e outros manuscritos, além da máquina de escrever usada pela autora. A poetiza produziu obras de renome mundial e o espaço é um verdadeiro museu de acesso às obras e história de sua vida.

Casa de Stefan Zweig (Petrópolis, RJ)

Casa de Stefan Zweig em Petrópolis. (Foto: divulgação)
Casa de Stefan Zweig em Petrópolis. (Foto: divulgação)

Petrópolis (RJ), conhecida como a Cidade Imperial, é outra que tem uma série de empreendimentos ligados a autores e artistas. O município traz em seus casarões e palácios a imponência do período imperial e recebeu muitos intelectuais durante as primeiras décadas da República. A influência europeia, principalmente germânica, é marcante. Foi essa pequena cidade dos trópicos encravada nas montanhas que, em 1936, atraiu a atenção de Stefan Zweig (1881-1942), renomado escritor austríaco de origem judaica. Atualmente, existe um Museu-Casa em sua homenagem.

Casa das Rosas (São Paulo, SP)

Quem visita a famosa Avenida Paulista muitas vezes não imagina que em pleno coração financeiro do Brasil exista um espaço dedicado a memória de um escritor. Pois bem, existe sim e é a Casa das Rosas, instituição ligada a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. A Casa abriga o acervo do poeta Haroldo Eurico Browne de Campos, mais conhecido como Haroldo de Campos.  Atualmente, diversas atividades literárias e culturais acontecem por lá e muitas ligadas à poesia.

Casa de Cultura Mario Quintana (Porto Alegre, RS)

A Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre (RS), é outro exemplo de espaço que promove a vida de um autor. O local é um antigo hotel da cidade onde o poeta morou por 20 anos. Por lá acontecem apresentações de cinema e encontros de literatura e serve de recinto para que artistas de todos os tipos mostrem o próprio trabalho.

Casa de Cultura Mario Quintana em Porto Alegre (Foto: divulgação)
Casa de Cultura Mario Quintana em Porto Alegre (Foto: divulgação)

Casa de Guimarães Rosa (Codisburgo, MG)

A cidade mineira de Codisburgo, no interior mineiro, guarda um acervo de um dos mais importantes escritores brasileiros: Guimarães Rosa. Tudo está em um espaço preservado e concebido como centro de referência para contar um pouco de sua vida e obra. O escritor nasceu e passou a infância no município distante 120 km de Belo Horizonte. São cerca de 700 documentos, como fotos, certidões, mapas, discursos, correspondências e originais manuscritos ou datilografados, a exemplo de ‘Tutaméia’ – sua última obra publicada.

Museu Casa do Rio Vermelho (BA)

Área interna do Museu Casa do Rio Vermelho. (Foto: divulgação)
Área interna do Museu Casa do Rio Vermelho. (Foto: divulgação)

Salvador é uma das recentes capitais brasileiras que ganhou um espaço para relembrar a grande produção de seu autor mais lembrado nacionalmente. O Museu Casa do Rio Vermelho é antiga residência de Jorge Amado e de sua esposa Zélia Gattai. O local abriga 15 ambientes internos que recontam a vida do casal, cujas cinzas estão depositadas no jardim da casa. O museu abriga salas onde ocorrem atividades como projeções de depoimentos sobre o autor e leituras feitas por personalidades, bem como a cozinha de Dona Flor, uma das personagens de Jorge Amado.

ENTREVISTA DE RICHARD BACH








Quem imaginaria que o maior sucesso do escritor, "Fernão Capelo Gaivota", publicado em 1970, foi recusado por todas as editoras de Nova York? Para ele, entretanto, obstáculos como esse, que surgem quando buscamos realizar aquilo que amamos, fazem parte do aprendizado. O que importa, segundo ele, é seguir o que o coração está pedindo, pois a vida se encarregará de nos dar de presente pequenas coincidências que nos ajudarão a perseverar em nossa caminhada.

- Voar está presente na maioria dos seus livros. O que voar significa para você?
Bach - Para mim, é uma expressão do que nós somos. Voar é um passo para expressar o espírito que todos nós sentimos e que é ilimitado. O avião é um meio de descobrir este espírito que está em mim e que não quer estar amarrado pela gravidade ou pelos limites. Somos expressões puras e ilimitadas de vida e de amor. A mágica do avião é um espelho da mágica do nosso espírito. Para voar qualquer avião, você deve acreditar em algo que não vê, na aerodinâmica. Isto é um grande princípio espiritual. Como isso voa, se é mais pesado que o ar? Graças à aerodinâmica. É só nos movermos a 15 milhas por hora e esta mágica acontece, este princípio nos levanta no ar. E quanto mais nós aprendemos sobre aerodinâmica, mais liberdade, vôo e poder nós temos. E quando aprendemos sobre nós mesmos e sobre o que está nos guiando, seguindo aquilo que realmente amamos, um princípio irá nos sustentar.

Que princípio seria esse?
Bach - Nós sempre vivenciamos coincidências em nossas vidas. Há um princípio nestas coincidências. Se nós estamos fazendo o que nós amamos, tentando dar o máximo de nós mesmos para dar de presente para o mundo aquilo que nós aprendemos, aquele princípio pode nos ajudar. Fernão Capelo Gaivota foi rejeitado por todos os grandes editores de Nova York. Mas a coincidência veio para mim na forma de duas pequenas correspondências que chegaram no mesmo dia. Em uma delas, havia meu manuscrito de Fernão Capelo Gaivota e uma nota do meu agente dizendo: "Richard, eu gosto da sua história e eu sei que você ama seu pequeno Fernão, mas ninguém em Manhattan vai imprimir esta história. Vamos deixÁ-la de lado". A outra correspondência era de uma editora de Nova York e dizia "Richard Bach, eu li alguns de seus livros e os achei interessante. Por acaso você tem algum manuscrito que não esteja comprometido com outra editora?". E, claro, eu tinha. Essa carta era de um editor diferente de uma editora que já havia rejeitado a história. Contei que ela já havia sido rejeitada, mas a moça foi cobrar esta decisão. De tanto que insistiu, a editora decidiu publicar, mas deram um orçamento bem baixo. Foram impressas somente 5.000 cópias. Depois que a história foi vendida, a editora pediu para eu encontrar um jeito de ilustrar a história. Então o princípio da coincidência veio novamente. Tenho um grande amigo que é fotógrafo e eu costumava dormir em seu estúdio quando ia para Nova York. Contei a ele que precisava ilustrar o livro e ele perguntou se poderia ser com fotografias. Eu disse que ficaria bem, mas que tínhamos um orçamento muito pequeno e não daria para contratá-lo para fotografar gaivotas. Ele não disse nada, só sorriu, pegou uma caixa e trouxe para eu abrir. Dentro havia 36 fotografias, todas de gaivotas. Dois anos antes, quando ele estudava fotografia, seu instrutor, que gostava do trabalho dele, lhe deu recursos para que tirasse as fotografias que quisesse, onde bem entendesse. Ele sentiu vontade de tirar fotografias de gaivotas. Nunca as tinha usado ou publicado. Estavam guardadas naquela caixa até que eu cheguei perguntando como é que eu ia ilustrar o meu livro. Foi inacreditável.

Foi seu maior sucesso comercial, não foi?
Bach - Fernão Capelo Gaivota foi o meu livro que vendeu o maior número de cópias. Foi traduzido em 45 línguas e é para mim um livro de sucesso. Mas a definição de sucesso para um escritor é quando ele alcança a última página de seu manuscrito, vivencia todo o livro em torno da última frase que escreve e sente que gosta. Naquele ponto o livro é um sucesso. Se vai ou não vender, é uma história completamente diferente, é sucesso comercial. Aquele princípio que eu te falei é atraído por quem leva seu trabalho adiante, por quem faz aquilo que realmente adora. Uma idéia para ser expressa precisa de algumas pessoas. Fernão Capelo Gaivota precisou de mim, porque havia a idéia de que alguma coisa poderia ser dita sobre o espírito humano através da gaivota. Então o princípio disse: pegue esta pessoa que adora voar, que adora gaivotas e lhe dê esta história.

O ponto é fazer o que você quer fazer, o que o fundo da sua alma deseja?
Bach - Não importa o que seja. Pode ser negócio, publicidade, estrelas, qualquer coisa que nos puxe. Nós pegamos a dádiva que é o nosso amor e aplicamos para qualquer lado, e damos este presente para os outros que nos agradecem comprando nossos livros, nossos produtos, indo ao cinema. Temos que acreditar no que amamos. Somos levados. Mas também temos a escolha de virar as costas para isso.

Como você caracterizaria teus livros?
Bach - Se há uma linha que corre por todos os meus livros é a da descoberta daquilo que nós realmente somos, dos dons e poderes que nós temos na ponta dos nossos dedos. Todos nós sentimos isso quando crianças. Todo mundo se sente de alguma maneira especial, mas assim que nós aprendemos a falar e crescemos em sociedade, muito freqüentemente nós somos rebaixados. Então nos dizem que há bilhões de pessoas no planeta, que não somos nada de especial. Então muitas pessoas jogam fora aquela pequena chama. E talvez aquela chama seja diminuída e só sobre uma faísca. Mas nós podemos em qualquer tempo da nossa vida lembrar dela, nos permitindo fazer o que nós sempre quisemos fazer. O que cabe a nós fazer não é o que as outras pessoas queriam que nós fizéssemos. É o que nós sentimos que sempre amamos. Acho que esta é a chave para viver uma vida alegre, mas não é uma vida fácil.

Liberdade e livre-arbítrio são valores muito importantes para você. Você acredita que todo mundo pode fazer escolhas e buscar a liberdade?
Bach - Eu acredito que todos nós ganhamos um presente quando nascemos, e isso pode fazer a gente transformar o mundo a nossa volta. Este presente é chamado imaginação. Muitas vezes nós damos muita importância para o que as pessoas dizem sobre nós e achamos que temos que viver a vida como elas gostariam que nós vivêssemos. É nossa escolha. Se fizermos isso, iremos sentir que "alguma coisa está faltando". Se chegarmos aos 100 anos, continuaremos a sentir que alguma coisa está faltando. Por outro lado, nós também temos a escolha de seguir o que o nosso coração manda. É claro que há um custo, um preço a pagar. No início será muito difícil, a primeira coisa que nós veremos serão obstáculos. E vamos nos perguntar por que erramos ao tomar esta decisão. Encontraremos um caminho cheio de tempestades e neve, mas é tudo parte de um teste, para vermos se realmente estamos dispostos a colocar a nossa vida nisso. Se eu resolver ir por este caminho, mesmo correndo o risco de morrer congelado, alguma coisa mágica irá acontecer. É como fala Paulo Coelho no "Alquimista". É importante saber que vamos morrer congelados, mas irmos mesmo assim. Estarei demonstrando minha verdade, meu amor, e aquilo se tornará uma bênção. Aí vem o próximo passo, cujo obstáculo pode ser fogo, mas nesse momento nós já teremos aprendido com a neve e não teremos mais tanto medo do fogo. Assim nos tornaremos imunes ao gelo, à prova de fogo e o aprendizado terá crescido dentro de nós até que chegaremos a um tipo de serenidade que nada poderá atingir. Quando uma pessoa sabe qual é a sua missão e diz que quer fazer isso, não há nada que poderá paralisá-la.

Você tem religião? Você acredita em Deus?
Bach - Religião para mim é um meio para achar o que é verdade. Por trás da religião pura está a verdade. Para as pessoas que amam a ciência, por trás da ciência há também a verdade. Cada um de nós tem uma intuição que nos conta o que é verdade. Meu jeito de encontrar a verdade é voando. Voar me fez transcender muitas ilusões de ótica. A partir deste tipo de perspectiva, literalmente falando, eu fui capaz de ultrapassar várias das minhas ilusões de quando eu era criança. Esta é minha religião: acreditar em um princípio que eu não posso ver, mas que está lá, guiando a mim e aos meus ideais. Uma das verdades que aprendi voando é de que não há desastre que não possa ser uma bênção e que não há benção que não possa vir a ser desastre também.

Como assim?
Bach - Eu passei por bênçãos e desastres quando Fernão Capelo Gaivota foi publicado. Parecia uma grande bênção, porque muitas pessoas adoraram o livro e eu ganhei uma enorme quantidade de dinheiro. Eu nunca tinha ganho muito dinheiro e, de repente, tinha um milhão de dólares. Era como se eu tivesse um novo anjo da guarda, querendo me dar dinheiro por que eu trabalhei muito duro para escrever o livro e realmente o amava. Mas, ao invés de me dar pouco dinheiro, ele deixou cair um milhão de dólares em dinheiro vivo, que pesa 300 quilos, na minha cabeça. Fui achatado e aquela bênção se tornou um desastre. Imediatamente comprei nove aviões e virei um serviçal deles. Estava me divertindo, mas tinha alguma coisa errada. Mais tarde, como eu não me importava com dinheiro, as pessoas que eu contratei para administrá-lo foram terríveis - assim como as minhas próprias decisões. Perdi tudo. Mas não há desastre que não possa se tornar uma bênção e o que eu aprendi disso é que você pode perder tudo, cada centavo que você tem, mas ninguém pode pegar as suas idéias e as idéias são a fonte dos centavos, dos dólares. Como eu tinha muitas coisas para dizer, muitas coisas para escrever, eu escrevi e os outros livros venderam também, e eu gradualmente me recuperei. Hoje tenho dois aviões e este é o meu limite.

Você começou a voar na Força Aérea Norte-Americana?
Bach - Não. Meu primeiro instrutor foi um colega de faculdade. Também foi uma coincidência impressionante porque ele tinha acabado de concluir um curso de instrutor de vôo e estava procurando alguém que pudesse instruir. Eu lavava e polia seu avião e ele me dava aulas. Gostava tanto daquilo que me alistei na Força Aérea. E tive sorte, porque não tive que matar ninguém. Entrei depois de meu país ter se envolvido na Guerra da Coréia e antes da Guerra do Vietnã. Se eu pudesse voltar agora para aquele jovem que ia se alistar na Força Aérea eu diria "não faça isso". Todas as Forças Aéreas de todos os países do mundo mostram aqueles aviões maravilhosos e dizem que se você se alistar, poderá voar nestes aviões. Mas não falam que você poderá ter que destruir um vilarejo. Até que alguns anos depois, eu estava sentado em um avião às 2 horas da manhã em alerta na França, esperando um ataque do bloco soviético aos países da Otan. Era 1962, foi na crise de Berlin. Eu estava na França, sentado naquele avião, carregado de bombas. E sabe o que eu ia destruir, incinerar? A cidade de Dresden.

O que você acredita que marcará o novo milênio?
Bach - No início do século, muitas pessoas lutaram defendendo ódios até então aceitáveis, vinculados ao um crescente nacionalismo. No final do século 20, o ódio não é mais tão aceitável assim. Ainda existe, mas não é mais socialmente aceitável. Agora é muito mais comum que a maioria de nós pare e pense um pouco antes de atacar e ferir os outros. Acredito que há cada vez mais compreensão e respeito sobre o que nós realmente somos, criaturas cujo objetivo supremo é expressar amor. Todos somos livres para fazermos o que quisermos fazer. Somos livres para odiar, para destruir, mas também livres para encontrar o que há de mais alto e sublime dentro de nós e expressar isso. É uma escolha individual. Todos sabemos que, se buscarmos dinheiro e nos esquecermos do que gostamos de fazer, vai surgir um grande vazio na nossa vida. Iremos aprender que apesar de nós termos todo o dinheiro do mundo, estaremos desesperadamente infelizes até o ponto em que nós iremos deixar ir embora todo o dinheiro. Cada vez mais nos damos conta do nosso poder individual e mais e mais pessoas estão escolhendo viver a vida que querem, dizendo não à vida que foram obrigadas a ter.

sábado, 20 de junho de 2020

DOAÇÃO DE LIVROS PARA O PROJETO PATRULHA DA LEITURA, DA PMSC - BLUMENAU

10º BPM recebe doação de livros para projeto Patrulha da Leitura

Comando-Geral da Polícia Militar - Florianópolis - Por Rafael Fiedler em 06/08/2019 18:45:21

No dia 26 de julho de 2019, o 10º Batalhão de Polícia Militar (BPM) recebeu uma doação de diversos livros, entre literatura infantil e infanto-juvenil, que serão utilizados no projeto “Patrulha da Leitura”, em Blumenau. As obras foram doadas pelo escritor catarinense Renato Lisbôa Müller.

Participaram da entrega representantes da unidade, o comandante do 10º BPM, tenente-coronel Jefferson Schmidt, o chefe da 3ª Seção da unidade, major Márcio Jean Ricardo e o subtenente Paulo Henrique de Almeida.

O projeto “Patrulha da Leitura” tem como objetivo fornecer um livro de leitura infantil sempre que houver criança presente no contexto do atendimento da ocorrência pela Polícia Militar. Além do incentivo à leitura, a intenção é fazer com que os pequenos fiquem entretidos e amparados, enquanto seus pais ou familiares não podem dar a devida atenção, já que prestam informações para a polícia

 https://www.pm.sc.gov.br/noticias/10-bpm-recebe-doacao-de-livros-para-projeto-patrulha-da-leitura


                

segunda-feira, 15 de junho de 2020

ENTREVISTA COM O NAVEGADOR E ESCRITOR AMYR KLINK

https://marsemfim.com.br/amyr-klink-em-entrevista-exclusiva-ao-estadao/






Quando Amyr Klink colocou o Paraty, barco construído por ele mesmo, no mar da Namíbia, em 1984, muita gente imaginou que aquele brasileiro maluco voltaria ao porto em poucas horas. Afinal, ele queria atravessar o Atlântico Sul remando. Pois a aventura, a primeira de sua vida e jamais repetida por outro velejador, acaba de completar 30 anos.


Paixão pelo mar

Nesse tempo todo, este paulistano navegou com sucesso por todas as latitudes possíveis – embora ainda se considere amador e veja sua paixão pelo mar como um hobby. Para comemorar a data, Klink estará, amanhã, na Livraria da Vila do Shopping Higienópolis, onde dará palestra sobre a travessia que o tornou conhecido e reverenciado em todo o planeta.


O capitão, que está sendo entrevistado para um documentário chamado Mar À Vista, falou sobre a fazenda em Paraty que quer transformar em centro cultural, a falácia da solidão no oceano e o quanto uma política inteligente de turismo náutico poderia render ao País.


Por que você decidiu, em 1984, iniciar a travessia na costa da Namíbia?

Enquanto tentava viabilizar a viagem, pesquisei bastante a respeito do trajeto, sobre as correntes. E percebi que o lugar certo para me lançar ao mar era Lüderitz, na Namíbia.


As pessoas achavam que era uma maluquice?

Talvez. Mas a verdade é que, naquela época, eu tinha uma coleção enorme de literatura sobre sobrevivência no mar, uns mil volumes. E só consegui fazer a viagem sob essa justificativa. Tanto que, em uma praça de Lüderitz, próximo a Shark Island, de onde eu parti, há uma placa em minha homenagem, ao remador brasileiro. E o mais interessante é que está no lugar de uma estátua dedicada ao alemão Adolf Lüderitz, fundador da cidade, que sumiu.


Você está com moral na Namíbia, então.

A coisa toda é muito estranha, porque pouca gente sabe da viagem de 1984. E eu descobri, há cerca de um ano, que a tal Shark Island abrigou o primeiro campo de extermínio alemão do século 20, onde desenvolveram a tecnologia que seria usada na Segunda Guerra. Como Lüderitz se tornou um ponto de turismo importante na África, eles querem apagar esse fato da história.


Os alemães, pelo jeito, te perseguem, né? Lá em Paraty você andou às voltas com herdeiros do Thomas Mann. (risos).

Mas agora acabou. Ganhei o último recurso no começo deste ano. Finalmente consegui comprar a fazenda Engenho da Boa Vista, que eu tinha em sistema de comodato com o governo havia vinte anos. A vida inteira eu quis restaurar aquela casa. E há cerca de dez anos surgiu um cidadão chamado Frido Mann, que é neto do escritor, para atrapalhar. Um negócio sem sentido, porque a mãe do Thomas Mann viveu só até os 7 anos no lugar, não há nada que ligue a família à fazenda. O Thomas Mann não tem uma única linha escrita sobre a cidade de Paraty.


O que pretende fazer agora?

Restaurar o alambique, porque aquele engenho tem mais de 300 anos, foi o mais importante de Paraty, e transformá-lo em um “alambique de charme”, com uma espécie de oficina gastronômica. Além disso, o lugar tem quatro salões enormes, que podem se tornar adendos dos eventos culturais da cidade, uma extensão da Flip, por exemplo. Também terá um espaço para exposições permanentes e um auditório.

 

Como foi passar da carreira de economista para navegador?

Não gostei de trabalhar na minha área, embora tenha sido um aprendizado importante, e sempre fui apaixonado pelo universo dos barcos. O que me levou a me aventurar foi uma série de livros franceses chamada Mer Aventure. A coleção tinha textos excelentes. E um deles era do Gerard D’Aboville, que havia remado o Atlântico Norte.


E você achou o máximo?

Não, a primeira reação que eu tive foi: “Que ideia imbecil!”. E até hoje ainda acho que foi. Porque não é uma experiência útil. Os problemas é que são interessantes. O texto do Gerard é tão seco, tão destituído de descrições, sentimentos, interjeições, que acaba sendo muito emocionante. Ele mostra a inutilidade e a beleza da viagem. Fiquei impressionado com as dificuldades enfrentadas por ele. O mais incrível é que ele não usou um assento deslizante para remar…


Foi só com a força dos braços?

Pois é. Essa experiência eu tinha, porque remei muito na USP, durante seis anos. No Paraty (barco que Klink usou para fazer a travessia do Atlântico Sul), eu remo de costas para a proa, com os pés apoiados e sentado sobre um assento que se movimenta. Isso significa que 60% do esforço da remada vêm das pernas.


Você conheceu o D’Aboville?

Conheci. E a primeira coisa que perguntei a ele foi: “Por que você não usou um assento com rodinhas?”. E ele respondeu: “Por que você não me ligou antes, seu imbecil?” (risos). Ele é muito sarcástico.


Quanto o Paraty tem do barco do D’Aboville?

Muito. Ele descobriu uma coisa que é fundamental para esse tipo de travessia, algo que você não encontra na maioria dos barcos modernos, que são ultra eficientes. Os projetistas se esquecem de que um barco a remo é como um barco de trabalho, não é desenhado só para navegar, mas também para não navegar, para os momentos em que se fica à deriva. E a atitude de deriva é passiva, ninguém quer projetar um barco com essa característica.


Em algum momento da viagem você achou que não ia dar certo?

No primeiro dia deu tudo errado, foi um caos. Mas o projeto estava tão bem esmiuçado que eu tinha solução para tudo. E levei um cardápio variado, porque gosto de comer bem.


Nada de enlatados?

Tenho manias ocasionais. Atualmente, estou na fase da polenta com lula e camarão. Ano passado, tive a crise do caranguejo norueguês. Perseguia os estoques nos supermercados com uma planilha, com o código do produto no iPad e um mapa da cidade, para achar os melhores preços.


Metódico em tudo!

Não sou metódico, só tenho pequenas obsessões (risos).


Qual a sensação de estar totalmente sozinho no mar? Tem gente que não aguenta…

Todo mundo aguenta. Isso é uma falácia. Porque, quando você está sozinho, a demanda física para construir uma vida confortável é tão grande que, no final do dia, você está exausto. Não há tempo para filosofar.


Sentiu medo?

O tempo todo, mas era um medo divertido. Ruim foi a burocracia antes de conseguir colocar o barco na água, os carimbos, as assinaturas das autoridades… No mar havia só tubarões (risos), e nada é pessoal para os tubarões, você dá uma espetada e eles vão embora.


Você ainda hoje trata a navegação como um hobby. Por quê?

Não me considero profissional, porque o Brasil tem uma legislação defeituosa, que elimina uma riqueza muito grande que nós temos. Somos o único país do mundo que alega ser o turismo uma parte essencial do PIB, mas que não investe na atividade de charter, que é bilionária. Minha propriedade em Paraty, se tivesse licença para transformar em marina (e pudesse fazer uma concessão para operadores privados), geraria faturamento de mais de R$ 10 bilhões por ano. Um único porto em Palma de Mallorca, nas Ilhas Baleares, gera, por ano, cerca de R$ 14 bilhões. Todos os hotéis e restaurantes do Brasil, somados, não geram esse dinheiro todo.


Por que isso?

Legislação equivocada. Na minha carteira para pilotar barcos está escrito ‘capitão amador’. Não posso exercer atividade remunerada, não posso alugar meu barco.


Mas Paraty está cheia de barcos fazendo turismo.

São quase dois mil. No rigor da lei, nenhum deles poderia operar. Resultado: a indústria de charter, que é virtuosa, não existe no País. O Brasil ainda tem muito a crescer na atividade náutica. Só no Rio de Janeiro era para termos um faturamento de cerca de R$ 20 bilhões por ano.


Você já disse que o Brasil virou as costas para o mar. Como resolver isso?

É preciso investir em infraestrutura e acabar com essa visão de que a atividade náutica é coisa de rico, elitista. Na Europa, não é ‘feio’ ter um barco de luxo. Mas por quê? Porque é um ativo econômico, que gera muito turismo e emprego para um número grande de pessoas. Parece que o Brasil não gosta de fazer dinheiro.


Você prefere o conhecimento informal, de quem trabalha com barcos, ao dos engenheiros navais. Por quê?

Por exemplo, nós fizemos o primeiro veleiro do mundo sem lastro, adorei a ideia. Por que um veleiro tem de carregar 30% de seu peso em chumbo? Para dar estabilidade. Por que um catamarã é mais eficiente? Porque não tem investimento em estabilidade, a estabilidade dele é a sua forma. Estava pensando nisso quando descobri um escritório francês que queria investir em um modelo sem lastro – só que os clientes não tinham coragem. O Paraty 2 foi o primeiro barco monocasco do mundo sem chumbo. Veja o conceito da jangada de piúba, que é um barco genial, não usa leme. Ou da biana do Maranhão. Uma universidade inglesa ficou chocada com a eficiência primitiva das bianas maranhenses, que usam uma vela vagabunda, de algodão todo furadinho. Se o pescador quer mais velocidade, joga água na vela, com uma cuia, para ela ficar mais impermeável. É ultrassofisticado. Esse tipo de tecnologia usamos nos barcos que fabricamos. Quer outro exemplo? Não trabalhamos com motores marinizados.


Diminui a durabilidade?

Exato, a gente queria acabar com esse contato do motor com o sal do mar. Eu detesto sal. O ideal mesmo seria que o mar não tivesse sal (risos). Ele acaba com tudo, enferruja, encarece. Nosso motor é uma adaptação de uma tecnologia criada por barqueiros de Santa Catarina.


Você não gosta dos engenheiros navais brasileiros?

Nosso ensino é altamente precário, em todos os sentidos. E também não temos escolas técnicas. A USP é a única universidade do mundo que ensina Engenharia Naval e nunca construiu um barco. Eu não deixo minhas filhas navegarem em um barco que teve como consultor um engenheiro da USP. Ali está tudo errado: imagina uma universidade em que o reitor é escolhido pelos funcionários, quer dizer, é um castelo de empreguismo. Não tem como funcionar, está fadado a implodir.


É verdade que você está trazendo um modelo de barco anfíbio para o Brasil?

Estou. Descobri um fabricante em um desses Boat Shows de Miami na minha última viagem. O cara construiu uma lancha inflável, mas semirrígida, de alta performance, para resgate. Tem um trem de pouso que abaixa, muito legal. Sabe a primeira coisa que me passou pela cabeça? O potencial que esse barco tem de aumentar o valor do metro quadrado de casas de praia que ficam perto da água, mas não à beira-mar. Já importamos três. E testamos em Santos. Saímos do mar, entramos na cidade e paramos em um posto de gasolina para abastecer e calibrar os pneus (risos).


CASA DA LITERATURA CATARINENSE

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