quarta-feira, 16 de setembro de 2020

ENTREVISTA COM O ESCRITOR SAULO ADAMI

 http://www.diplomatafm.com.br/portal/geral/detalhes.php?id=10078

GERAL || 24 de maio de 2017


Saulo Adami começou escrever aos 9 anos de idade e seu primeiro lançamento foi aos 19

Livro “Estrada de Papel” marca a centésima obra do escritor Saulo Adami

Repórter: Juliane Ferreira

Se chegar a 100 anos de vida já é considerado um marco histórico para a espécie humana, imagina conquistar a marca de 100 títulos lançados em pouco mais de 35 anos.
O escritor Saulo Adami tem motivos para comemorar. Em junho de 2017 lança oficialmente sua centésima obra, ao lado de sua esposa Jeanine Wandratsch Adami, coautora da obra “Estrada de Papel”. Conto, crônica, poesia, novela, romance, peças teatrais, roteiros para cinema. Várias obras dentro de cada gênero em apenas um livro e 199 páginas.
“Não houve um planejamento para chegar ao centésimo livro, não era uma meta, foi uma consequência. A partir dos 17 anos, quando lancei o primeiro livro, começou essa história”, lembra Saulo, em entrevista especial ao Jornal da Diplomata.
Natural de Brusque, desde 2011 Saulo mora em Curitiba, no Paraná. Ainda jovem, lançou seu primeiro livro, intitulado “Cicatrizes”, em 1982, dentro dos gêneros poesia, conto e crônica – gêneros estes que lançaram Saulo no mundo da literatura. “Comecei pela crônica, em 1974, aos nove anos de idade, e peguei gosto pela literatura”. São mais de 200 obras publicadas em quatro idiomas.
A psicóloga Jeanine, esposa de Adami, tem papel fundamental neste trabalho. É responsável por fazer pesquisas, leituras e releituras de várias obras. Foram lidas e relidas obras de mais de 30 anos em que foram escritas, uma a uma.

Alegria em compartilhar histórias
Saulo define o momento que vive em um único sentimento: alegria. Seu 100º livro nasceu, na verdade, há seis anos, começou a tomar corpo em 2014 e em 2015 uma pequena amostra do que seria o livro foi lançada. Agora, finalmente chegou o dia do lançamento oficial. “É uma obra que reconstitui um pouco da vida, da biografia, e dá muitos trechos de obras, e esse é o grande objetivo do Estrada de Papel, é mostrar a obra mais do que o próprio autor”.

Lançamento em Brusque
O livro será lançado em Brusque no dia 10 de junho, num Sábado Fácil, às 11h, na Livraria Graf. “Toda a comunidade está convidada porque vai ser um momento para compartilhar e apresentar esse livro para as pessoas interessadas na aquisição”. Além disso, o livro já pode ser encontrado na Biblioteca Pública Municipal Ary Cabral, na Praça da Cidadania, Centro de Brusque, para quem tem interesse em já ter um primeiro contato com o livro. “Não é nenhum mistério o lançamento”, conta Saulo.

100 livros e uma vida de memórias
Na longa caminhada de Saulo com os livros, existem aquelas obras que, de certa forma ou por um motivo especial, marcaram sua carreira. Saulo cita alguns exemplos, como o “Kuranda”, na área do romance, “Homem não entende nada”, na área de ensaio, que se trata da história das séries de cinema e televisão Planeta dos Macacos, resultado de 40 anos de pesquisa, lançado em 2015.
Na área de poesia, Saulo destaca a obra “Enluarados”, e ainda na área de ensaio, Adami cita o “Shazan, Xerife e companhia”, que destaca a história de um seriado de TV da década de 70. Em crônica e conto, Saulo cita o livro “Cicatrizes” e especificamente no gênero Conto, o livro que Saulo lembra é o “O caso do esqueleto sem cabeça”.
Na área de história, o destaque vai para o premiado “Histórias e Lendas da cidade Schneeburg”. Este livro em questão fechou uma série de cinco livros que Saulo escreveu para comemorar os 150 anos de Brusque. Outro trabalho que Saulo lembra com carinho é a biografia do saudoso médico Dr. Nica, escrito em parceria com a esposa Jeanine, assim como a biografia de Walter Orthmann, que em 2018 completa 80 anos trabalhando em uma mesma empresa de Brusque, a Renaux View.



DICAS DA PROFESSORA E ESCRITORA CLARMI REGIS

 Em 1985, quando estudei no Colégio de Aplicação (UFSC), na terceira série do segundo grau, tive o privilégio de ter excelentes docentes. Mesmo sendo um aluno sem muito interesse pelo estudo e  sendo até mesmo malandro e preguiçoso, eu às vezes me interessava por alguns assuntos e me dedicava com mais atenção... Era a segunda vez que eu estava na terceira série do segundo grau, já que no ano anterior, eu não consegui "passar de ano" e tive que repetir o último ano do ensino médio.
Lembro de colegas de turma, que era composta por cerca de 20 alunos. Rodrigo Búrigo, Geraldo, Renato Rogério, Maurício, Henrique Vahl, Mauro Zanella, Sérgio, Jussara, Sabrina, Giovana, Michele, Roberta, Eleonora...
Recordo dos professores e professoras: Tachini, Paulo Roberto, Cuneo, Junior Biava, Jandira, Toninho, Carmem, Herta, Naoraldo, Clarmi...
A disciplina de português foi ministrada pela professora Clarmi Regis e lembro que uma certa vez, ela trouxe para nossa turma a letra da música "Língua", do Caetano Veloso. A professora fez uma análise interessante sobre os versos e guardo bem, quando ela destacou a parte em que a letra diz: "gosto de ser e de estar", em uma referência aos verbos da língua portuguesa em comparação ao verbo "to be", da língua inglesa. Isso me chamou a atenção e guardo esta explicação de maneira forte, presente e recorrentemente eu lembro do "gosto de ser e de estar".
Depois de alguns anos, fui trabalhar no Colégio Catarinense e dentre os milhares alunos que convivi durante os anos que lá trabalhei, eu acabei conhecendo um garoto, que estudava na oitava série (se não estou equivocado). O aluno, de nome Gustavo, um garoto tranquilo e "boa gente", participou de uma turma que passaria o fim de semana na localidade de Pinheiral, e que, por acaso, eu era o responsável pelo grupo. Ao saber o sobrenome dele, imediatamente perguntei qual o parentesco dele com a minha ex professora - Clarmi -, ele respondeu-me que ele é filho dela. Foi uma grata surpresa que me trouxe lembranças de um tempo escolar que eu curti muito e de docentes excepcionais, inclusive, a professora Clarmi.
Depois de décadas, após ter publicado seis livros e de me interessar um pouco mais pela escrita e literatura, ao pesquisar sobre autores catarinenses, encontrei o link para um blog, de autoria da professora Clarmi Regis.
Assim, eu repasso o link e recomendo a visita (ou o acesso - como você preferir)...




terça-feira, 30 de junho de 2020

7 CASAS DE ESCRITORES QUE DESPERTAM O TURISMO LITERÁRIO NO BRASIL





https://diariodoturismo.com.br/7-casas-de-escritores-que-despertam-o-turismo-literario-no-brasil/



  

Casa das Rosas em São Paulo. (Foto: divulgação) turísticos que associam locais paradisíacos a discussões literárias e atividades culturais é um segmento que tem ganhado destaque no Brasil. São muitos os escritores que deixaram suas residências em grandes capitais ou em pequenas cidades para a guarda de seus acervos literários e artísticos.

O presidente substituto da Embratur, José Antônio Parente, afirma que é um nicho de turismo cultural dedicado a quem quer conhecer de perto a vida e pensamentos de autores e artistas aclamados. “Procuramos oferecer opções de viagens a todos os públicos e gostos, acalorar as discussões literárias e aproximar fãs e escritores de forma casual”, diz Parente. O Diário do Turismo lista algumas das mais conhecidas casas que recebem visitantes:

Museu Monteiro Lobato (Taubaté/SP)

Taubaté, no interior paulista, é outro município que tem um museu dedicado a um escritor. Neste caso, Monteiro Lobato. O museu oferece uma experiência única no mundo de Pedrinho e Narizinho, personagens do ‘Sítio do Pica pau Amarelo’, a obra mais famosa do escritor. Por lá é possível conhecer a casa que foi de seu avô, o Visconde de Tremembé, e apreciar mobiliário de época.

Museu Monteiro Lobato em Taubaté, SP. (Foto: divulgação)
Museu Monteiro Lobato em Taubaté, SP. (Foto: divulgação)

Cora Coralina (Cidade de Goiás, GO)

Na pequena Cidade de Goiás (GO) uma pequena residência é parada obrigatória para quem chega à cidade. É onde morou Cora Coralina. A casa recebe mais de 30 mil turistas por ano. Por lá, os visitantes têm acesso a objetos pessoais, fotografias, vestidos, livros, cartas e outros manuscritos, além da máquina de escrever usada pela autora. A poetiza produziu obras de renome mundial e o espaço é um verdadeiro museu de acesso às obras e história de sua vida.

Casa de Stefan Zweig (Petrópolis, RJ)

Casa de Stefan Zweig em Petrópolis. (Foto: divulgação)
Casa de Stefan Zweig em Petrópolis. (Foto: divulgação)

Petrópolis (RJ), conhecida como a Cidade Imperial, é outra que tem uma série de empreendimentos ligados a autores e artistas. O município traz em seus casarões e palácios a imponência do período imperial e recebeu muitos intelectuais durante as primeiras décadas da República. A influência europeia, principalmente germânica, é marcante. Foi essa pequena cidade dos trópicos encravada nas montanhas que, em 1936, atraiu a atenção de Stefan Zweig (1881-1942), renomado escritor austríaco de origem judaica. Atualmente, existe um Museu-Casa em sua homenagem.

Casa das Rosas (São Paulo, SP)

Quem visita a famosa Avenida Paulista muitas vezes não imagina que em pleno coração financeiro do Brasil exista um espaço dedicado a memória de um escritor. Pois bem, existe sim e é a Casa das Rosas, instituição ligada a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. A Casa abriga o acervo do poeta Haroldo Eurico Browne de Campos, mais conhecido como Haroldo de Campos.  Atualmente, diversas atividades literárias e culturais acontecem por lá e muitas ligadas à poesia.

Casa de Cultura Mario Quintana (Porto Alegre, RS)

A Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre (RS), é outro exemplo de espaço que promove a vida de um autor. O local é um antigo hotel da cidade onde o poeta morou por 20 anos. Por lá acontecem apresentações de cinema e encontros de literatura e serve de recinto para que artistas de todos os tipos mostrem o próprio trabalho.

Casa de Cultura Mario Quintana em Porto Alegre (Foto: divulgação)
Casa de Cultura Mario Quintana em Porto Alegre (Foto: divulgação)

Casa de Guimarães Rosa (Codisburgo, MG)

A cidade mineira de Codisburgo, no interior mineiro, guarda um acervo de um dos mais importantes escritores brasileiros: Guimarães Rosa. Tudo está em um espaço preservado e concebido como centro de referência para contar um pouco de sua vida e obra. O escritor nasceu e passou a infância no município distante 120 km de Belo Horizonte. São cerca de 700 documentos, como fotos, certidões, mapas, discursos, correspondências e originais manuscritos ou datilografados, a exemplo de ‘Tutaméia’ – sua última obra publicada.

Museu Casa do Rio Vermelho (BA)

Área interna do Museu Casa do Rio Vermelho. (Foto: divulgação)
Área interna do Museu Casa do Rio Vermelho. (Foto: divulgação)

Salvador é uma das recentes capitais brasileiras que ganhou um espaço para relembrar a grande produção de seu autor mais lembrado nacionalmente. O Museu Casa do Rio Vermelho é antiga residência de Jorge Amado e de sua esposa Zélia Gattai. O local abriga 15 ambientes internos que recontam a vida do casal, cujas cinzas estão depositadas no jardim da casa. O museu abriga salas onde ocorrem atividades como projeções de depoimentos sobre o autor e leituras feitas por personalidades, bem como a cozinha de Dona Flor, uma das personagens de Jorge Amado.

ENTREVISTA DE RICHARD BACH








Quem imaginaria que o maior sucesso do escritor, "Fernão Capelo Gaivota", publicado em 1970, foi recusado por todas as editoras de Nova York? Para ele, entretanto, obstáculos como esse, que surgem quando buscamos realizar aquilo que amamos, fazem parte do aprendizado. O que importa, segundo ele, é seguir o que o coração está pedindo, pois a vida se encarregará de nos dar de presente pequenas coincidências que nos ajudarão a perseverar em nossa caminhada.

- Voar está presente na maioria dos seus livros. O que voar significa para você?
Bach - Para mim, é uma expressão do que nós somos. Voar é um passo para expressar o espírito que todos nós sentimos e que é ilimitado. O avião é um meio de descobrir este espírito que está em mim e que não quer estar amarrado pela gravidade ou pelos limites. Somos expressões puras e ilimitadas de vida e de amor. A mágica do avião é um espelho da mágica do nosso espírito. Para voar qualquer avião, você deve acreditar em algo que não vê, na aerodinâmica. Isto é um grande princípio espiritual. Como isso voa, se é mais pesado que o ar? Graças à aerodinâmica. É só nos movermos a 15 milhas por hora e esta mágica acontece, este princípio nos levanta no ar. E quanto mais nós aprendemos sobre aerodinâmica, mais liberdade, vôo e poder nós temos. E quando aprendemos sobre nós mesmos e sobre o que está nos guiando, seguindo aquilo que realmente amamos, um princípio irá nos sustentar.

Que princípio seria esse?
Bach - Nós sempre vivenciamos coincidências em nossas vidas. Há um princípio nestas coincidências. Se nós estamos fazendo o que nós amamos, tentando dar o máximo de nós mesmos para dar de presente para o mundo aquilo que nós aprendemos, aquele princípio pode nos ajudar. Fernão Capelo Gaivota foi rejeitado por todos os grandes editores de Nova York. Mas a coincidência veio para mim na forma de duas pequenas correspondências que chegaram no mesmo dia. Em uma delas, havia meu manuscrito de Fernão Capelo Gaivota e uma nota do meu agente dizendo: "Richard, eu gosto da sua história e eu sei que você ama seu pequeno Fernão, mas ninguém em Manhattan vai imprimir esta história. Vamos deixÁ-la de lado". A outra correspondência era de uma editora de Nova York e dizia "Richard Bach, eu li alguns de seus livros e os achei interessante. Por acaso você tem algum manuscrito que não esteja comprometido com outra editora?". E, claro, eu tinha. Essa carta era de um editor diferente de uma editora que já havia rejeitado a história. Contei que ela já havia sido rejeitada, mas a moça foi cobrar esta decisão. De tanto que insistiu, a editora decidiu publicar, mas deram um orçamento bem baixo. Foram impressas somente 5.000 cópias. Depois que a história foi vendida, a editora pediu para eu encontrar um jeito de ilustrar a história. Então o princípio da coincidência veio novamente. Tenho um grande amigo que é fotógrafo e eu costumava dormir em seu estúdio quando ia para Nova York. Contei a ele que precisava ilustrar o livro e ele perguntou se poderia ser com fotografias. Eu disse que ficaria bem, mas que tínhamos um orçamento muito pequeno e não daria para contratá-lo para fotografar gaivotas. Ele não disse nada, só sorriu, pegou uma caixa e trouxe para eu abrir. Dentro havia 36 fotografias, todas de gaivotas. Dois anos antes, quando ele estudava fotografia, seu instrutor, que gostava do trabalho dele, lhe deu recursos para que tirasse as fotografias que quisesse, onde bem entendesse. Ele sentiu vontade de tirar fotografias de gaivotas. Nunca as tinha usado ou publicado. Estavam guardadas naquela caixa até que eu cheguei perguntando como é que eu ia ilustrar o meu livro. Foi inacreditável.

Foi seu maior sucesso comercial, não foi?
Bach - Fernão Capelo Gaivota foi o meu livro que vendeu o maior número de cópias. Foi traduzido em 45 línguas e é para mim um livro de sucesso. Mas a definição de sucesso para um escritor é quando ele alcança a última página de seu manuscrito, vivencia todo o livro em torno da última frase que escreve e sente que gosta. Naquele ponto o livro é um sucesso. Se vai ou não vender, é uma história completamente diferente, é sucesso comercial. Aquele princípio que eu te falei é atraído por quem leva seu trabalho adiante, por quem faz aquilo que realmente adora. Uma idéia para ser expressa precisa de algumas pessoas. Fernão Capelo Gaivota precisou de mim, porque havia a idéia de que alguma coisa poderia ser dita sobre o espírito humano através da gaivota. Então o princípio disse: pegue esta pessoa que adora voar, que adora gaivotas e lhe dê esta história.

O ponto é fazer o que você quer fazer, o que o fundo da sua alma deseja?
Bach - Não importa o que seja. Pode ser negócio, publicidade, estrelas, qualquer coisa que nos puxe. Nós pegamos a dádiva que é o nosso amor e aplicamos para qualquer lado, e damos este presente para os outros que nos agradecem comprando nossos livros, nossos produtos, indo ao cinema. Temos que acreditar no que amamos. Somos levados. Mas também temos a escolha de virar as costas para isso.

Como você caracterizaria teus livros?
Bach - Se há uma linha que corre por todos os meus livros é a da descoberta daquilo que nós realmente somos, dos dons e poderes que nós temos na ponta dos nossos dedos. Todos nós sentimos isso quando crianças. Todo mundo se sente de alguma maneira especial, mas assim que nós aprendemos a falar e crescemos em sociedade, muito freqüentemente nós somos rebaixados. Então nos dizem que há bilhões de pessoas no planeta, que não somos nada de especial. Então muitas pessoas jogam fora aquela pequena chama. E talvez aquela chama seja diminuída e só sobre uma faísca. Mas nós podemos em qualquer tempo da nossa vida lembrar dela, nos permitindo fazer o que nós sempre quisemos fazer. O que cabe a nós fazer não é o que as outras pessoas queriam que nós fizéssemos. É o que nós sentimos que sempre amamos. Acho que esta é a chave para viver uma vida alegre, mas não é uma vida fácil.

Liberdade e livre-arbítrio são valores muito importantes para você. Você acredita que todo mundo pode fazer escolhas e buscar a liberdade?
Bach - Eu acredito que todos nós ganhamos um presente quando nascemos, e isso pode fazer a gente transformar o mundo a nossa volta. Este presente é chamado imaginação. Muitas vezes nós damos muita importância para o que as pessoas dizem sobre nós e achamos que temos que viver a vida como elas gostariam que nós vivêssemos. É nossa escolha. Se fizermos isso, iremos sentir que "alguma coisa está faltando". Se chegarmos aos 100 anos, continuaremos a sentir que alguma coisa está faltando. Por outro lado, nós também temos a escolha de seguir o que o nosso coração manda. É claro que há um custo, um preço a pagar. No início será muito difícil, a primeira coisa que nós veremos serão obstáculos. E vamos nos perguntar por que erramos ao tomar esta decisão. Encontraremos um caminho cheio de tempestades e neve, mas é tudo parte de um teste, para vermos se realmente estamos dispostos a colocar a nossa vida nisso. Se eu resolver ir por este caminho, mesmo correndo o risco de morrer congelado, alguma coisa mágica irá acontecer. É como fala Paulo Coelho no "Alquimista". É importante saber que vamos morrer congelados, mas irmos mesmo assim. Estarei demonstrando minha verdade, meu amor, e aquilo se tornará uma bênção. Aí vem o próximo passo, cujo obstáculo pode ser fogo, mas nesse momento nós já teremos aprendido com a neve e não teremos mais tanto medo do fogo. Assim nos tornaremos imunes ao gelo, à prova de fogo e o aprendizado terá crescido dentro de nós até que chegaremos a um tipo de serenidade que nada poderá atingir. Quando uma pessoa sabe qual é a sua missão e diz que quer fazer isso, não há nada que poderá paralisá-la.

Você tem religião? Você acredita em Deus?
Bach - Religião para mim é um meio para achar o que é verdade. Por trás da religião pura está a verdade. Para as pessoas que amam a ciência, por trás da ciência há também a verdade. Cada um de nós tem uma intuição que nos conta o que é verdade. Meu jeito de encontrar a verdade é voando. Voar me fez transcender muitas ilusões de ótica. A partir deste tipo de perspectiva, literalmente falando, eu fui capaz de ultrapassar várias das minhas ilusões de quando eu era criança. Esta é minha religião: acreditar em um princípio que eu não posso ver, mas que está lá, guiando a mim e aos meus ideais. Uma das verdades que aprendi voando é de que não há desastre que não possa ser uma bênção e que não há benção que não possa vir a ser desastre também.

Como assim?
Bach - Eu passei por bênçãos e desastres quando Fernão Capelo Gaivota foi publicado. Parecia uma grande bênção, porque muitas pessoas adoraram o livro e eu ganhei uma enorme quantidade de dinheiro. Eu nunca tinha ganho muito dinheiro e, de repente, tinha um milhão de dólares. Era como se eu tivesse um novo anjo da guarda, querendo me dar dinheiro por que eu trabalhei muito duro para escrever o livro e realmente o amava. Mas, ao invés de me dar pouco dinheiro, ele deixou cair um milhão de dólares em dinheiro vivo, que pesa 300 quilos, na minha cabeça. Fui achatado e aquela bênção se tornou um desastre. Imediatamente comprei nove aviões e virei um serviçal deles. Estava me divertindo, mas tinha alguma coisa errada. Mais tarde, como eu não me importava com dinheiro, as pessoas que eu contratei para administrá-lo foram terríveis - assim como as minhas próprias decisões. Perdi tudo. Mas não há desastre que não possa se tornar uma bênção e o que eu aprendi disso é que você pode perder tudo, cada centavo que você tem, mas ninguém pode pegar as suas idéias e as idéias são a fonte dos centavos, dos dólares. Como eu tinha muitas coisas para dizer, muitas coisas para escrever, eu escrevi e os outros livros venderam também, e eu gradualmente me recuperei. Hoje tenho dois aviões e este é o meu limite.

Você começou a voar na Força Aérea Norte-Americana?
Bach - Não. Meu primeiro instrutor foi um colega de faculdade. Também foi uma coincidência impressionante porque ele tinha acabado de concluir um curso de instrutor de vôo e estava procurando alguém que pudesse instruir. Eu lavava e polia seu avião e ele me dava aulas. Gostava tanto daquilo que me alistei na Força Aérea. E tive sorte, porque não tive que matar ninguém. Entrei depois de meu país ter se envolvido na Guerra da Coréia e antes da Guerra do Vietnã. Se eu pudesse voltar agora para aquele jovem que ia se alistar na Força Aérea eu diria "não faça isso". Todas as Forças Aéreas de todos os países do mundo mostram aqueles aviões maravilhosos e dizem que se você se alistar, poderá voar nestes aviões. Mas não falam que você poderá ter que destruir um vilarejo. Até que alguns anos depois, eu estava sentado em um avião às 2 horas da manhã em alerta na França, esperando um ataque do bloco soviético aos países da Otan. Era 1962, foi na crise de Berlin. Eu estava na França, sentado naquele avião, carregado de bombas. E sabe o que eu ia destruir, incinerar? A cidade de Dresden.

O que você acredita que marcará o novo milênio?
Bach - No início do século, muitas pessoas lutaram defendendo ódios até então aceitáveis, vinculados ao um crescente nacionalismo. No final do século 20, o ódio não é mais tão aceitável assim. Ainda existe, mas não é mais socialmente aceitável. Agora é muito mais comum que a maioria de nós pare e pense um pouco antes de atacar e ferir os outros. Acredito que há cada vez mais compreensão e respeito sobre o que nós realmente somos, criaturas cujo objetivo supremo é expressar amor. Todos somos livres para fazermos o que quisermos fazer. Somos livres para odiar, para destruir, mas também livres para encontrar o que há de mais alto e sublime dentro de nós e expressar isso. É uma escolha individual. Todos sabemos que, se buscarmos dinheiro e nos esquecermos do que gostamos de fazer, vai surgir um grande vazio na nossa vida. Iremos aprender que apesar de nós termos todo o dinheiro do mundo, estaremos desesperadamente infelizes até o ponto em que nós iremos deixar ir embora todo o dinheiro. Cada vez mais nos damos conta do nosso poder individual e mais e mais pessoas estão escolhendo viver a vida que querem, dizendo não à vida que foram obrigadas a ter.

CASA DA LITERATURA CATARINENSE

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