terça-feira, 8 de dezembro de 2020

ENTREVISTA COM CLÁUDIA KALAFATÁS

CLÁUDIA KALAFATÁS


 1.        Conte um pouco de cada um dos livros que você publicou...

Cláudia: Meu primeiro livro, chamado Dilemas, Reticência – Poemas, eu publiquei em 2015, se não me engano. Quando eu mandei o material para a revisão e para a gráfica, ainda tinha sobrado material para quase que um segundo livro. Ele veio em um momento em que eu achei que tinha uma doença grave e achei que, talvez, não me restasse muito tempo de vida. E pensando nas coisas que já fiz, que coisa faltaria fazer, antes de eu desencarnar, eu pensei nos meus poemas. Essa foi a mola propulsora. Graças à Deus o diagnóstico de câncer na coluna, pelo jeito (RISOS) foi só para que a clínica que fez o laudo do exame, não fosse posteriormente acusada de não ter sequer suspeitado que poderia haver um câncer de coluna. No final, pelo jeito, foi uma grande hérnia extrusa entre a L4 e a L5 e o câncer não se configurou. O segundo livro nasceu pelo feedback que eu recebi do primeiro livro. O primeiro livro eu não me preocupei com capa, com página de dedicatória, com nada. Não me preocupei em pedir para alguém fazer uma crônica, colocar uma opinião no prefácio, então todos estes cuidados eu tive no segundo livro chamado Harpa Inerte. Com todas as poesias que não couberam no primeiro livro. E no segundo livro eu me preocupo mais com rima, com estrutura dos poemas... É claro que também houveram poemas que eu escrevi durante a concepção do segundo livro. Mas eu posso arriscar que sessenta por cento do livro era dos manuscritos, dos rabiscos, fragmentos de poesia, que datam desde os meus dezoito, dezenove anos de idade, então eu tinha muita coisa para poder lançar o segundo. O segundo livro, se não me engano, eu lancei em novembro de 2018. E muito embora meu terceiro livro não tenha sido publicado ainda, oitenta por cento dele já está no computador. Ele vai se chamar A Sala. E nesse livro eu me preocupo mais ainda com a métrica.

 

2. As publicações foi você quem pagou ou foi com alguma editora?

Cláudia: A primeira e a segunda fui em quem pagou e pelo jeito, a terceira também vai ser.


3. Seus livros vendem bem?

Cláudia: Os meus livros vendem bem no lançamento, na noite de autógrafos, depois não vendem bem. Depois a gente tem que ir atrás de feira de artesanato... Agora eu vou deixar vinte exemplares do Harpa Inerte em um bazar de natal, no Ribeirão da Ilha.

 

4. Onde seus livros podem ser encontrados?

Cláudia: O livro Dilemas, Reticências – Poemas, até um tempo atrás, eu tinha deixado cinco exemplares na Livraria Catarinense. O livro Harpa Inerte eu não me movimentei muito, porque eu o lancei no final de 2018 e 2019 foi um ano muito conturbado para mim e, 2020 eu não preciso falar nada (RISOS). Em relação à poesia eu não fui muito proativa em relação ao meu trabalho.

 

5. Qual a pior parte: escrever, publicar ou vender?

Cláudia: Escrever sempre é a melhor parte de qualquer produção literária. Publicar dá um certo “trabalhinho” porque, na minha segunda obra eu tive que mudar palavras por causa de concordância e essas palavras eram importantes. Eu queria fazer um jogo, uma brincadeira com as palavras, porém não era correto eu utilizar daquela forma. Eu não gostei, me senti aprisionada até onde as regras gramaticais da língua portuguesa podem interferir ou não. Nesse meu terceiro livro eu vou utilizar a licença poética e não vou aceitar esse tipo de interferência no que eu escrevo. Mas mesmo assim, publicar não foi ruim. Sem dúvida alguma, vender é sempre a atividade mais desafiadora, complexa e ainda misteriosa.

 

6. As palavras a seguir foram retiradas de um livro seu: “o tempo esclarece dúvidas, mas questiona minhas certezas”. Quais as dúvidas que você tem e que o tempo ainda não esclareceu e que ainda te incomodam?

Cláudia: Esse trecho, quando eu o concebi, representa o quanto oscilam as nossas dúvidas. O que hoje, o que para mim é uma dúvida, amanhã com a minha experiência, com a minha vivência, ou com um simples insight com as coisas que acontecem ao meu redor, eu tenho essas dúvidas esclarecidas. Quanto mais a gente domina um assunto, quanto mais a gente mergulha na vida, nas emoções, quanto mais a gente amadurece, nos seus mais diversos papéis, a Cláudia companheira, a Cláudia mulher, a Cláudia amiga, a Cláudia irmã, a Cláudia filha, a Cláudia profissional, quanto mais a gente evolui em cada um desses papéis, mais surgem questões. Talvez a minha alma seja mais inquisidora mesmo, seja mais de ficar questionando as coisas. Por isso que o tempo também questiona as minhas certezas. O que hoje é uma certeza para mim, em função da minha experiência, amanhã com uma outra experiência eu posso me enveredar por um outro caminho. Porque aquela experiência que me serviu ontem para que eu tivesse algum tipo de conceito, hoje a experiência é outra e está me afetando de uma outra forma, então eu posso mudar. Um dúvida que o tempo ainda não esclareceu e que ainda me incomoda é como é complexo um relacionamento entre as pessoas. Seja de ordem afetiva, seja de ordem profissional, de ordem familiar; e nesse período de pandemia, nesse período de guerras de narrativas, no que se refere ao nosso cenário político, isso está cada vez mais sensível. Para mim, sem dúvida, essa é a pergunta que ainda me incomoda muito.


7. Você tem algum ritual de preparação para escrever?

Cláudia: Eu tenho vários rituais para escrever, tenho uns pré-requisitos. O primeiro é o silêncio; se eu não tiver silêncio, pode, no máximo, estar tocando uma musiquinha calma. De preferência um Madredeus, Enya, pode ser Sara Mc Lachlan, enfim, músicas para interiorização; nada de músicas de baladas para fazer faxina, isso não funciona. Fora isso, eu tenho percebido que quando eu tomo uma cerveja ou um vinho, esse estado que a gente fica, que é um estado de leveza, um estado em que a tua observação fica mais aguçada, os teus sentidos também ficam mais aguçados, isso ajuda bastante. Às vezes, assistir um filme que tem uma mensagem bonita, daquelas que te tocam profundamente no âmago, isso é um start, um pontapé inicial para eu criar uma frase e com base nessa frase e no filme que assisti e naquilo que ele deixou em mim, latejando, e ali eu posso conseguir um bom resultado de escrita. Acho que para mim o pior pré-requisito é quando a gente está passando por um momento de dor – dor afetiva, dor emocional, dor na alma, Eu descobri também que essa é uma forma de eu trabalhar esta tristeza é através da escrita. Mas, infelizmente, essa é aquela de custo-benefício pior para mim. De qualquer forma, acho que é uma maneira válida da gente trabalhar o que está doendo dentro da gente, colocando no papel.


8. Você tem alguma meta de escrita, seja diária, semanal, ou escreve quando “bate” a inspiração?

Cláudia: Não. Não tenho. John Steinbeck é que tinha; eu li a biografia dele e ele tinha meta diária. Eu não sou disciplinada, eu prezo pela qualidade daquilo que eu estou escrevendo e não pela quantidade de letas e palavras, enfim... Às vezes eu fico meses sem escrever uma linha e aí em uma madrugada eu escrevo cinco, sete poemas; inacabados, sempre! É raro escrever um poema que se fecha por si só, no momento da inspiração. Mas tem momento em que muito material chega.

 

9. Quando você tem uma ideia, você a deixa incubando ou escreve imediatamente?

Cláudia: Às vezes eu deixo a ideia matutando na cabeça, para eu extrair dessa ideia uma frase, que seja o título ou o coração do poema. Então eu fico remoendo aquela ideia até que ela se materialize e eu possa escrever. E às vezes, dependendo do lugar que eu estou, se eu estou em um local que eu não consiga escrever, aí eu baixo imediatamente a ideia crua, a ideia que será fonte de inspiração. Tem momento para cada uma das duas situações.

 

10. Você escreve seus rascunhos à mão ou no computador? Justifique sua resposta...

Cláudia: Sempre escrevi meus rascunhos à mão; sempre. Na minha bolsa, até no porta luvas do meu carro, tem sempre um caderno pequeninho, no estilo moleskine; e caneta eu sempre carrego na bolsa. A digitação é para quando eu vou colocar esses poemas no livro, no arquivo do livro. Sempre escrevo o rascunho à mão.

 

11. De acordo com Fernando Pessoa: “Boa é a vida, mas melhor é o vinho. O amor é bom, mas é melhor o sono.” E para você, qual é a ordem de importância entre a vida, o vinho, o amor e o sono? Justifique...

Cláudia: Eu coloco na ordem: a vida, o amor, o sono e por último, o vinho. A vida porque sem ela não tem como amar. O amor, para mim é o chão, é a sustentação de cada um de nós enquanto seres que se relacionam com outros seres, sejam seres humanos, natureza, sejam os animais, seja a espiritualidade, enfim... Então o amor é peça fundamental da nossa existência. Sono, porque o sono restaura tudo: o sono restaura um dia ruim, o sono restaura um rompimento afetivo, o sono restaura o corpo físico, o sono restaura as dores da alma, o sono é tudo de bom. E o vinho porque ele tempera a vida, tempera o amor, embala o sono... Nossa!  Falar sobre o vinho daria, no mínimo, uma poesia

 

12. O que você diria a si mesmo se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?

Cláudia: (RISOS) Em momentos intempestivos, não jogue nada fora (RISOS). Eu joguei algumas coisas fora do que eu escrevi. Hoje, talvez, eu tivesse maturidade para retrabalhar uma coisa que eu criei há trinta anos atrás. Acho que era isso que eu diria para mim.

 

13. Na tua apresentação, você afirma que a música colabora com a tua inspiração. Onde é possível perceber a influência de Guilherme Arantes, RPM, Zizi Possi, Simone e de outros artistas, na tua poesia?

Cláudia: Guilherme Arantes cantou muito o amor nas suas diversas manifestações, Guilherme Arantes colocou amor na melodia das suas músicas. Zizi Possi também, Simone também. RPM, naquela música em particular... (Cláudia começa a cantarolar): “Havia um tempo em que eu vivia um sentimento quase infantil”... Não me lembro agora o nome da música, mas era uma música que me aquietava muito, para que eu me interiorizasse e pudesse falar de amor. O amor permeia a grande maioria das minhas escritas, então é nesse sentido. Como eu respondi anteriormente, a música ajuda muito a me interiorizar e chegar nesse estado de leveza, para que eu possa escrever. Explicitamente, nenhum deles estão nas minhas palavras, mas sem dúvida eles foram pano de fundo, mas eles tiveram o papel de conduzir a minha mente para um estado amoroso, afetivo e talvez até, passional. E uma vez nesse estado, muita coisa foi escrita aos embalos das melodias deles.

 

14. Rubem Alves disse em uma entrevista que: “leitura é algo que se deve fazer por prazer, de forma vagabunda, sem nenhuma obrigação”. E a escrita, também deve ser feita desta forma? Justifique....

Cláudia: Esta pergunta é um tanto quanto intrigante. Os jornalistas são obrigados a escrever, eles tem editoriais em jornais, em sites, então eles são obrigados a fazer, a produzir escrita. A minha escrita, ela sempre foi feita de forma prazerosa, sem nenhuma obrigação, de forma vagabunda (RISOS) – eu não gosto do adjetivo vagabunda, então eu vou deixar este trecho, para o Rubem Alves depois se explicar... Eu acho que o processo de escrita tem que ser prazeroso, tem que ser leve, a gente não pode receber nenhum tipo de pressão.

 

15. Você acredita que os jovens, atualmente, estão lendo muito, pouco ou quase nada?

Cláudia: Eu precisaria ter dados para poder afirmar, não gosto de “chutômetro” e eu não tenho filho; tenho um afilhado que está com quatorze anos. Do pouco que eu tenho observado, eu acho que eles estão lendo muito pouco, mas muito pouco mesmo – o que é uma pena. Mas como eu te disse, eu não tenho fundamentação, eu não tenho pesquisa, eu não tenho nada. É só um certo senso de observação, em relação aquilo que está ao meu redor.

 

16. Você quando era adolescente, lia muito?

Cláudia: Quando eu era adolescente eu lia o suficiente para passar de ano. A partir do livro do Visconde de Tanay – Inocência, e de um outro – Cinco Minutos, do José de Alencar, que eu gostei muito de ler. Eu comecei a ler medianamente, mas nada se compara a partir dos meus vinte e cinco, trinta anos de idade, quando eu comecei a ler bastante.

 

17. “Escrevo na urgente necessidade de compartilhar o que sinto, escrevo minhas verdades, meias verdades, minto”. Essas são palavras suas retiradas do livro Dilemas, Reticências: Poemas”, de sua autoria. Você escreve mais mentiras, verdades ou meia-verdades?

Cláudia: Eu escrevo muito mais verdades e meias verdades. Já aconteceu de eu ter que mentir numa situação para achar uma palavra que rimasse (RISOS), é um absurdo isso. Mas hoje eu tiro isso como uma licença poética. Eu já menti, mas graças a Deus, isso não é nem três por cento do que eu escrevo. Todos os meus livros são autobiográficos. As meia verdades eu colocaria como aquelas situações confusas que eu precisei resolver internamente, mas que eu nunca tive certeza se procederam desta forma para outra pessoa, ou não; são só inferências minhas. Graças a Deus, a mentira eu precisei usar para rimar, vê se pode... (RISOS). Tem poema que a narrativa é de um homem e não de uma mulher, então isso não deixa de ser uma mentira. Tem mais do que um poema em que eu tive que incorporar um narrador masculino, mas é que dessa forma eu tinha riqueza nas rimas, na história. Foi dessa forma que eu consegui as minhas rimas, então esse é um tipo de mentira. Hoje eu colocaria como uma licença poética e não como uma mentira, porque se o imaginário não tem limites, então porque que o autor tem que ser mulher, porque que ele não pode ser um homem. Por que que a gente não pode vestir a ótica do outro gênero? Qualquer tentativa, qualquer troca, qualquer experiência na hora de produzir poesia, que possa chegar em um resultado bacana eu acho que é válida.

 

18. É possível escrever bem, sem que a pessoa leia muito? Justifique...

Cláudia: Eu acho que sim. Ela pode escrever muito bem, se ler muito. Mas isso no âmbito da poesia, por exemplo. Eu não leio muita poesia, porque se é que eu tenho algum estilo de escrita, ele é meu. Quando se lê muito, outros autores, você acaba absorvendo o estilo dele, porque gostou; a métrica da poesia porque achou bacana, divertida e quer fazer isso também... Então a gente recebe influência e acaba replicando as influências no nosso trabalho. Eu já não gosto... Eu gosto de... sei lá, eu gosto de explorar as diversas formas de criação e a partir disso, tentar estabelecer um estilo de escrita que seja meu. Acho que eu ainda não tenho um estilo de escrita, porque a minha preocupação é escrever e de vez em quando, brincar com as palavras, com o formato... A poesia Quarenta e Dois S, do meu primeiro livro, ela foi assim: eu acordei um dia, tinha uma grande amiga minha que estava fazendo quarenta e dois anos de idade e eu pensei: “vou tentar fazer uma poesia com quarenta e duas palavras, daí eu percebi que as palavras com “s” são mais fáceis da gente conseguir um fluxo, uma leitura em fluxo coerente, discernível, compreensível. E o grande desafio é que a poesia, ao se ler, faça sentido, desde o primeiro “s” até o último.

 

19. Você se sente realizada, frustrada ou está parcialmente satisfeita sendo uma escritora?

Cláudia: Eu me sinto parcialmente realizada. Estou realizada porque tem trabalho meu publicado; se amanhã eu vier a falecer, no meu computador está lá o terceiro livro, com título e tudo mais. Então nesse sentido eu estou bastante satisfeita. A questão é: espaço para a gente conversar sobre poesia, espaço para a gente declamar poesia, espaço para a gente vender as nossas obras. Ainda está faltando muito para que eu me sinta realizada. Mas, talvez, o que esteja faltando para mim tenha mais a ver com auto estima, vaidade e questões financeiras. Eu até devesse olhar para essa questão de uma forma mais literária e não comercial, não sei. Mas sendo bastante sincera, eu me sinto parcialmente realizada hoje.

 

20. As palavras a seguir são suas: “escrevo para proclamar um desejo. Escrevo para dar vazão a uma inquietude interna. Pelo visto, os motivos que te levam a escrever são vários... Quais os mais recorrentes?

Cláudia: O desejo que eu falo ali era o desejo de me posicionar afetivamente, reclamar uma paixão escondida – reclamar no sentido de manifestar. Escrevo para dar vasão a uma inquietude interna. Não é só uma inquietude, nós temos muitas, principalmente quando tem uma segunda pessoa envolvida. Então eu diria que os motivos mais recorrentes que impulsionam a minha escrita seriam o equilíbrio afetivo e amoroso entre duas pessoas, assim como, de que forma manter esse equilíbrio no decorrer dos meses, dos anos, das décadas. De que forma você faz parte do casal, tentando preservar a tua individualidade enquanto pessoa. Como é que a gente elabora esta equação, como a gente coloca em prática esta equação. Isso é possível ou isso é utópico? Mas as inquietudes são mais nesse sentido afetivo, sem dúvida.

 

21. “É tão difícil as pessoas razoáveis se tornarem poetas, quanto os poetas se tornarem razoáveis”, Essa frase é de Pablo Neruda; você, por ser uma poetisa, é uma pessoa que não é razoável? Justifique...

Cláudia: Eu não sei qual foi o intuito que o Pablo Neruda utilizou a palavra razoável, nem de que forma foi feita esta tradução. Mas, ao ler, eu imagino que o razoável que ele esteja se referindo seja no sentido de mediano, normal, razoável no sentido ne normal. Pessoas normais, na minha leitura, dificilmente se tornam poetas e os poetas jamais serão pessoas normais. Porque o olhar é diferente, a sensibilidade é diferente, a compreensão e o entendimento das coisas que estão ao nosso redor é diferente. Não que nós estejamos em algum pedestal literário ou cognitivo, de inteligência... De forma alguma, não é isso. A lente que enxerga as coisas, o mundo, é diferente. Nesse sentido nós jamais seremos normais, razoáveis. Nós estamos fora da curva. E respondendo a pergunta, eu não sou uma pessoa normal, não sou uma pessoa mediana. De novo, não é no sentido de se autoproclamar, de se auto-vangloriar, de forma alguma. É em relação a lente, que pode estar no olho, que pode estar nas coisas que a gente ouve, pode estar na pele, na sensibilidade, pode estar na alma. A lente não é normal.

 

22. Há na literatura, um livro ou um poema que você gostaria de ter escrito? Se sim, qual seria?

Cláudia: Tem. É um poema maravilhoso. Acho que é do Carlos Drummond de Andrade. É inclusive, uma forma de escrita, metrada, que eu pretendo ainda produzir alguma coisa, nos moldes dessa estrutura.

 

23. Quando alguém te indica uma obra, autor ou autora que você não conhece, você procura informações sobre ele/ela, ou isso não te interessa?

Cláudia: Sempre que alguém me indica uma obra, um autor ou uma autora, o que vai definir se eu vou atrás, para pesquisar e depois adquirir a obra é, sem dúvida, a pessoa que está me indicando. Eu tenho inúmeros amigos poetas e dependendo de quem me indica, eu nem vou pesquisar. Agora, por outro lado, se é uma pessoa na qual eu tenho afinidade, em termos de gosto literário, aí sim. Pode ser que eu nem pesquise, pode ser que eu anote o título da obra, o nome do autor/autora e vá direto para a aquisição. Tem essas coisas que a gente precisa considerar.

 

24. Quem ou o que é que te inspira e te motiva a escrever? Onde você busca a sua fonte de inspiração?

Cláudia: As questões humanas são o que me inspiram e me motivam a escrever. Eu imagino que meu anjo da guarda é coautor da grande maioria das coisas que eu escrevo. Tem inspiração extra-física, sem dúvida. E eu acho que aquele momento em que a gente se recolhe em silêncio, de nós mesmos e que a gente analisa com bastante lucidez, aquilo que nos aconteceu e de forma mexeu conosco, de que forma a gente reagiu; como nos encontramos em função do que houve. A tentativa em explicar todas essas situações é o grande desafio da minha escrita.

 

25. Você já está preparando o próximo livro, ou ainda é cedo para pensar sobre isso?

Cláudia: Sim. Já tenho oitenta por cento do terceiro livro - que se chamará A Sala – pronto. A capa do livro será uma foto da sala da minha casa, que foi palco de muita – (Nossa Senhora) – de muita escrita. E ali na sala tem as coisas que eu te falei, tem silêncio, tem a televisão com aparelho de som conectado. Ali eu coloco as minhas músicas. É uma sala próxima da cozinha e eu consigo pegar minha cerveja, meu vinho, enquanto eu estou ouvindo música, no meu silêncio. Às vezes acendo uma velinha ou um incenso, às vezes não precisa...

 

 

 

 

 

CLÁUDIA FERRO KALAFATÁS

 


Nasceu em maio de 1966. Florianopolitana, é descendente de gregos e italianos. Concluiu mestrado em Administração e Gerência em 2008.

Escreve poemas desde 1991 e recebeu muita influência das obras de Ida Katzap, Neimar de Barros, Fernando Pessoa e Pablo Neruda. Atualmente lê André Ramos, Pablo Casals, Alice Ruiz e Cláudio Schuster, dentre vários outros.

A música em muito colaborou para a inspiração da poetisa. Assim, desde Genesis, Vangelis, Supertramp, passando por Fleetwood Mac, Eurythmics e Madredeus, até os mais recentes como Sarah Brightmann e The Corrs. As inspirações nacionais transitam entre Guilherme Arantes, Simone, RPM, passando por Zizi Possi, Oswaldo Montenegro, Renato Russo, Adriana Calcanhotto e Tribalistas.

Publicou seu primeiro livro em setembro de 2015 intitulado Dilemas, reticências: poemas. A segunda edição foi lançada em dezembro de 2015.

Co-editou Garimpo de palavras em 2007, Narrativas e Poéticas II em 2008, Elos & Anelos volume I em 2008, Microcosmos em 2009, Literatum & Poeticum volume II em 2009 e Labirintos e Palavras em 2010, todos através da Editora Guemanisse (RJ).

Em 2007 recebeu de seu poema intitulado 42 ésses, menção honrosa no Concurso de Contos e Poesia Guemanisse (RJ).

Em novembro de 2018 lançou seu segundo livro intitulado Harpa Inerte.

Em 2018 foi convidada a integrar a Antologia Poetas da Ilha, lançada em novembro daquele ano.

A autora é membro da Confraria do Pessoas, nome alusivo aos inúmeros heterônimos de Fernando Pessoa.

Em março de 2019 publicou poemas na revista eletrônica Escritores do Brasil.

Atualmente vem publicando poemas na revista literária eletrônica, de triagem trimestral, chamada A Ilha.

Sua terceira obra poética, provisoriamente intitulada A Sala, encontra-se em fase de criação. A autora pretende publicá-la em 2020.

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