domingo, 7 de junho de 2020

DICAS PARA ESCREVER - WILLIAM FAULKNER

William Faulkner, que colaborou no aprendizado de muitos jovens escritores na Universidade de Virgínia.




Eu acredito que o escritor, como já disse antes, é completamente imoral. Ele se apropria do que precisar, de onde precisar e o faz de forma aberta e honesta, porque ele espera fazer algo bom o suficiente para que outras pessoas depois dele se apropriem de sua obra e ele permite isso de bom grado, assim como acredita que os seus antecessores permitiram que ele se apropriasse da obra deles também.

Não tenha medo de se inspirar e se espelhar em outros autores. O seu caminho é único e não pode ser percorrido por mais ninguém. Aprender com os grandes apenas ajudará você a consolidar todo o potencial que já existe no interior.


FONTE: https://bibliomundi.com/blog/dicas-de-grandes-autores-para-iniciantes/

DICAS PARA ESCREVER - ERNEST HEMINGWAY

Em diversos textos diferentes com dicas para escritores, encontramos as palavras de Hemingway. O premiado escritor e jornalista americano tinha muito o que dizer não só através de suas obras, mas também sobre elas e sua ética de trabalho.




Hemingway era capaz de organizar a escrita com disciplina e empenho, características de um bom profissional. Seus conselhos mais valiosos não procuram ditar qual tipo de autor você deve ser, nem o estilo de seu trabalho, mas o caminho para você produzir de forma criativa e eficiente.

O melhor caminho é sempre parar quando você está indo bem e sabe o que acontecerá em seguida. Se você fizer isso todos os dias enquanto escrever um romance, você nunca vai enfrentar um bloqueio.

Quando eu escrevia, era necessário ler o que eu havia escrito. Se você pensar demais sobre isso, você perde aquilo que estava escrevendo antes de poder continuar no dia seguinte. É necessário se exercitar, cansar o corpo, e é muito bom fazer amor com quem você ama. É melhor do que qualquer coisa. Mas, depois, quando estiver vazio, é necessário ler para não pensar ou se preocupar com o trabalho até poder trabalhar de novo. Eu aprendi a nunca esvaziar a fonte da minha escrita, mas sempre parar quando ainda havia algo lá no fundo da fonte e deixá-la se preecher com a água das nascentes que a alimentavam durante a noite.

Em resumo, você deve preservar sua criatividade. Escreva todos os dias e pare quando souber o que acontecerá a seguir. Depois que parar, descanse e esqueça do trabalho. Quando voltar, lembre-se de onde parou, o que acontecerá a seguir e deixe a imaginação fluir.


FONTE: https://bibliomundi.com/blog/dicas-de-grandes-autores-para-iniciantes/

DICAS PARA ESCREVER - EDGAR ALLAN POE

O autor americano, conhecido pelos poemas e contos macabros, valorizava muito a “unidade” da obra.

Isto é, para ele, era importante que seus trabalhos pudessem ser lidos de uma só vez e que tivessem um tom e conceito consistentes. Para isso, ele considerava essencial saber o final da história antes de começar a escrever.

Segundo ele, “todo enredo digno deve ser elaborado até o desfecho antes de se tentar fazer qualquer coisa com a caneta”. Ninguém é obrigado a seguir essa dica, mas existem muitas vantagens nesse estilo de escrita.

O gênero em que Poe escrevia, mistério e terror, se beneficiam muito dessa perspectiva. Nas palavras de Poe, sempre levar o final em consideração contribui para que o enredo tenha um “ar indispensável de consequência”.

Desde às tragédias gregas, nas quais o herói tem um destino inevitável, até o desenvolvimento de um senso de responsabilidade do protagonista, sempre existiu algo que movia a história até o final. Um enredo bem trabalhado mostra esse caminho de maneira que faça sentido.

Uma estratégia muito associada a essa noção é o foreshadowing, em português, “prenúncio”. São indícios deixados ao longo da obra que indicam possíveis desfechos. A ideia não é estragar o final, mas permitir que leitores ávidos percebam determinados sinais que explicam mais sobre a obra do que o óbvio.

Muitas vezes os sinais do foreshadowing só são percebidos ao se reler a obra e podem render excelentes discussões entre leitores que ainda não concluíram o livro ou série.





FONTE: https://bibliomundi.com/blog/dicas-de-grandes-autores-para-iniciantes/

sábado, 6 de junho de 2020

DICAS PARA ESCREVER - STEPHEN KING

Nada melhor para aprender a escrever bem do que ouvir as dicas de grandes autores, não é mesmo? Então, prepare-se. Separamos algumas das melhores sugestões de Stephen King, renomado autor americano que já publicou mais de 50 livros e vendeu mais de 350 milhões de cópias.




1.     Desligue a TV e vá ler um livro

Se você costumava assistir MTV, já deve ter ouvido essa propaganda algumas vezes. Pois é, vale como um conselho para todos nós, mas é particularmente útil para um escritor. Segundo Stephen King, a televisão é como um veneno para a criatividade, e a cura para esse veneno é a leitura constante.

Carregue um livro com você para aonde quer que vá (ainda bem que existem os ebooks, não é mesmo?). Leia antes de dormir, no transporte, no intervalo do trabalho, até enquanto come. E com essa leitura, pense criticamente, inspire-se e escreva muito também.

2.     Desconecte-se de tudo quando for escrever

Além de desligar a TV, você também deve desligar o celular, desconectar-se das redes sociais e de basicamente qualquer distração que possa atrapalhar seu processo criativo. Até mesmo uma janela aberta pode atrapalhar.

Segundo Stephen King, você deve escrever com a porta fechada e reescrever com a porta aberta. A escrita é um trabalho que exige total privacidade. O ato de escrever o primeiro rascunho deve ser puro e íntimo, como se a própria história estivesse se despindo na sua frente. Ou seja… feche essa porta e não deixe ninguém entrar!

3.     Não tente agradar os outros, mas a si mesmo

Para ser um bom escritor, você deve ser verdadeiro consigo mesmo. De acordo com Stephen King, isso envolve deixar de lado certas convenções sociais enquanto você escreve livros. Como consequência, é provável que você receba algumas críticas negativas em relação ao conteúdo dos seus livros. O próprio Stephen King já foi considerado até mesmo um psicopata por leitores insatisfeitos.

Depois de um tempo, ele percebeu que essas críticas eram inevitáveis e as aceitou. O conselho dele é simples: deixe suas preocupações para trás e, se alguém reclamar do que você escreveu, apenas deixe para lá.

O propósito da escrita, segundo Stephen King, é trazer felicidade e satisfação ao escritor. E é por esse motivo que King escreve, e é por isso que ele conseguiu escrever tantos livros por tantos anos.

4.     Escreva sobre aquilo que é difícil de falar em voz alta

Tudo o que realmente importa é difícil de ser dito em voz alta. São assuntos que deixam você envergonhado. É como se as palavras não fossem o suficiente. (Ou pelo menos é assim que Stephen King pensa).

Sob a perspectiva de Stephen King, a escrita é como um pensamento polido. E as melhoras obras da escrita abordam assuntos que exigem horas e horas de reflexão.

Ao escrever, você deve enxergar sua história como uma relíquia arqueológica, que precisa ser encontrada, escavada e interpretada. Cave as profundezas da sua mente, revire assuntos difíceis e você escreverá uma história memorável.

5.     Não seja pretensioso na sua escolha de palavras

Escrever e publicar livro sobre assuntos e temas difíceis não significa que você precisa usar palavras difíceis. Na verdade, isso apenas atrapalha a compreensão do leitor. Para Stephen King, essa é uma das piores atrocidades que um escritor pode cometer. E é basicamente brega.

Em nosso artigo Menos é mais: aprenda a reduzir seu texto ao necessário, nós ensinamos que tipo de palavras você deve evitar e como você pode se comunicar com o leitor de maneira simples e direta.

6.     Evite advérbios e escreva parágrafos curtos

Os advérbios podem parecer seus amigos, mas não são. Inclusive, Stephen King afirma que “a estrada para o inferno é pavimentada com advérbios”. Pesado, mas faz sentido. A maioria das vezes que um autor usa advérbios em textos narrativos, ele poderia ter transmitido a ideia com apenas um verbo ou adjetivo. Por exemplo, em vez de dizer “muito assustador”, você pode dizer “aterrorizante”.

É bom também prestar atenção no tamanho dos seus parágrafos, pois eles definem o ritmo da história e tem um papel crucial na fluência do texto. Afinal, parágrafos muito longos costumam desanimar os leitores. Segundo Stephen King, a estética dos parágrafos é quase tão importante quanto o seu conteúdo.

7.     Não dê tanta importância para a gramática

De acordo com Stephen King, a escrita se trata de sedução, não precisão. O objetivo de uma história de ficção é envolver o leitor e contar uma história, e isso não tem nada a ver com gramática.

Embora seja importante seguir a norma culta até certo nível, existem diversas estruturas gramaticais que são usadas popularmente. Às vezes, escrever “certo” significa escrever de um jeito que não vai agradar os leitores. O objetivo de uma narrativa é ser tão fluida que o leitor vai se esquecer que está lendo um livro.

8.     Não dê informações demais

Existe uma diferença entre dar uma aula sobre os assuntos que seu livro aborda e usar esse conhecimento para enriquecer sua narrativa. Segundo Stephen King, você só deve mencionar as informações que contribuem para o desenvolvimento do enredo e o engajamento do leitor.

É importante pesquisar antes de escrever um livro, mas essa pesquisa não deve ofuscar a história. Os detalhes que você aprendeu devem ficar lá no fundo, tão apagados quanto possível. Sim, é normal ficar fascinado quando você estuda um assunto, mas o que realmente interessa os leitores é a sua história. Se eles quisessem informações, eles leriam não ficção.

9.     Não tente copiar a voz de outro autor

Imitar o estilo de outro autor pode até ser uma boa técnica para treinar a escrita, mas não deve ir além disso. Quando você for escrever e publicar ebook, é hora de se levar a sério e usar a própria voz. Só assim você terá uma identidade única.

Lembre-se que não é possível reproduzir de maneira idêntica a vivência de outra pessoa. Portanto, você também não pode replicar sua voz e identidade. Faça isso e você será nada mais do que uma imitação barata, sem personalidade.

10.Escreva histórias autênticas

Não, isso não significa que você tem que escrever apenas sobre fatos reais, mas que suas histórias devem ser sinceras, verossímeis e reproduzir a verdade.

Segundo Stephen King, os livros ruins costuma ser escritos por autores que se recusam a contar histórias sobre personagens autênticas, que agem como pessoas de verdade. Por exemplo, um assassino pode ajudar uma velhinha a atravessar a rua.

4 MOTIVOS CIENTÍFICOS PARA COMEÇAR A ESCREVER MAIS

4 motivos científicos para começar a escrever mais:

.https://revistagalileu.globo.com/Life-Hacks/noticia/2017/02/4-motivos-cientificos-para-comecar-escrever-mais.html




1 - Escrever pode literalmente te curar

Em pesquisa conduzida pela Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, um grupo de pessoas entre os 64 e 97 anos escreveu sobre seus problemas pessoas durante três dias seguidos. Duas semanas depois, uma biópsia foi feita em seus braços e um acompanhamento foi feito durante 21 dias: 76% daqueles que escreveram sobre seus sentimentos já haviam se curado totalmente no 11º dia, em comparação com apenas 42% do grupo que não fez nada. Os pesquisadores acreditam que a prática ajuda a acalmar o indivíduo, reduzindo os hormônios ligados ao estresse no corpo, melhorando o sistema imunológico

2 - Escrever ajuda você a lidar melhor com seus problemas

Um estudo que acompanhou engenheiros em situação de desemprego mostrou que aqueles que escreviam sobre as dores do fracasso conseguiram achar um novo trabalho mais rapidamente. Após oito meses, em torno de 48% deles já estavam empregados em comparação com apenas 19% dos que não tinham esse hábito. Segundo a pesquisa, os profissionais relataram sentir menos raiva em relação ao chefe antigo, além de beberem muito menos.

3 - Usar sua letra cursiva te ajuda a reter melhor a informação

Em um experimento realizado na Noruega, um grupo de adultos precisou aprender um novo alfabeto. Aqueles que aprenderam a nova língua a partir de escrita manual se saíram muito melhor do que aqueles que utilizaram um teclado. Os especialistas acreditam que isso acontece por causa do tempo e esforço dispensados na escrita manual, o que facilita a fixação da memória.

4 -  Fazer uma lista de coisas pelas quais você é grato pode melhorar sua qualidade de vida

Cinco frases simples, uma vez por semana. Essa é a receita para dormir melhor, ser mais otimista, ter menos problemas de saúde e até mesmo ter mais vontade de fazer exercícios físicos. É o que indica um estudo na Universidade da California. Os resultados não foram só observados pelos participantes, mas também por suas esposas e maridos, que notaram grande melhora na qualidade de vida dos parceiros.


terça-feira, 2 de junho de 2020

SOCIEDADE PETALÓGICA

https://www.revistamuseu.com.br/site/br/noticias/nacionais/4898-15-06-2018-em-livro-professor-da-fafich-investiga-sociedade-do-seculo-19-que-mentia-aos-mentirosos.html

MINAS GERAIS, Belo Horizonte - Na segunda metade do século 19, o tipógrafo Francisco de Paula Brito era dono de uma livraria no bairro do Catete, no Rio de Janeiro.

Foto: divulgação/ Editora UFMG

O local foi o berço da polêmica Sociedade Petalógica que, sob o mote de ‘contrariar os mentirosos, mentindo-lhes’, semeou um debate público cético e jocoso de inédita liberdade.

Nas reuniões da Petalógica, personalidades que constituíam a elite intelectual e política da época – do Barão do Rio Branco ao jovem Machado de Assis –encontravam-se com uma massa de anônimos.

Esse contexto é retratado no livro Corpo sem cabeça: o tipográfo-editor e a Petalógica, do professor Bruno Guimarães Martins, do Departamento de Comunicação da Fafich. Na obra, publicada pela Editora UFMG, ele faz uma análise dos primórdios da inauguração do espaço letrado no Brasil Império, com base na trajetória do editor pioneiro Francisco de Paula Brito, que viveu de 1809 a 1861.

Corpo sem cabeça será lançado neste sábado, 16, às 11h, na Quixote Livraria e Café, que fica na Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi. O livro tem apresentação de Karl Erik Shøllhammer, prefácio de Emílio Maciel e posfácio de Ana Utsch.

Editor da voz
Na obra, Paula Brito é apresentado como 'editor da voz', ao observar a curiosa sociedade que praticava uma espécie de performance ficcional. Para trazer ao leitor contemporâneo esse ambiente cômico e literário da Petalógica, o livro apresenta transcrições das reuniões e rico acervo iconográfico de impressos e imagens da época.

A partir de uma perspectiva de história material da mídia, Corpo sem cabeça também analisa a intersecção entre o sistema oral fortemente consolidado e as possibilidades de uma nova dinâmica gráfica que, alavancada pelo avanço da tipografia, demarcou o lugar e a particularidade da dimensão literária no desenvolvimento da imprensa no Brasil.

Bruno Guimarães Martins é doutor em Literatura pela PUC-Rio e professor do Departamento de Comunicação Social da UFMG. É autor de Tipografia popular: potências do ilegível na experiência do cotidiano (2007) e pesquisador em história dos meios de comunicação no Brasil, historiografia, memória, cultura gráfica, estética e processos criativos.

Livro: Corpo sem cabeça: o tipógrafo-editor e a Petalógica
Autor: Bruno Guimarães Martins
Área: História
Coleção: Origem
Preço: R$54

Fonte: UFMG e Editora UFMG

segunda-feira, 4 de maio de 2020

A VOLTA DO EDITOR LIVREIRO

https://mobile.publishnews.com.br/materias/2019/09/12/a-volta-do-editor-livreiro

Em artigo, o sociólogo Sergio Silva analisa a história do mercado editorial brasileiro para discorrer sobre o jeito de ser livreiro no Brasil

Interior da Livraria Garnier da Rua do Ouvidor, no centro do Rio de Janeiro | Reprodução
Interior da Livraria Garnier da Rua do Ouvidor, no centro do Rio de Janeiro | Reprodução
Na gênese do mercado de livros no Brasil, os impressores-editores-livreiros nasceram juntos, mais ou menos como primos próximos. Naquele momento, quando a impressão deixa de ser proibida no início do século XIX, eles detinham a totalidade do processo de fabricação e venda de um livro, desde a escolha do original, as soluções técnicas e estéticas, até as decisões comerciais da época. Geralmente, estava tudo concentrado nas mãos de um único imigrante, são exemplos: Baptiste Louis Garnier, o irmão mais novo da tradicional família de livreiros e editores franceses, ou ainda os irmãos portugueses Francisco e Evaristo da Veiga. Apenas mais adiante, em meados do século XIX, vimos surgir pessoas como Paula Brito, um dos primeiros editores brasileiros, por sua vez, um negro de família recém alforriada, autodidata que rompe com as barreiras sociais de seu tempo e chega a ser um dos principais impressores dos documentos do império.

O processo de especialização técnica, principalmente o avanço da qualidade dos prelos, transformou os impressores mais dedicados em industriais. O caso da Cia Melhoramentos é exemplar, pois a empresa sustentou por muito tempo o slogan “do pinheiro ao livro”, mas, na prática, para além dos livros, ela se tornou uma das maiores indústrias do ramo de papéis para diversas finalidades. Em paralelo ao desenvolvimento tecnológico, a ascensão da grande mídia jornaleira e seu modelo de distribuição em bancas, movimento bem aproveitado por Monteiro Lobato, permitiu que a união das três figuras perdesse seu primeiro laço já no início do século XX. Ou seja, os impressores foram deixando para os editores-livreiros o contato com a rede de autores e comercialização dos livros. Foi assim que os impressores se assumiram verdadeiramente como uma “fábrica”, trazendo para seu cotidiano as dinâmicas da indústria e deixando de lado a dinâmica dos escritores e intelectuais.

Paula Brito, o primeiro editor brasileiro | Reprodução
Paula Brito, o primeiro editor brasileiro | Reprodução
O fato é que, entre meados do século XIX até a metade do XX, emergiu com vigor a figura do editor-livreiro, um tipo de comerciante que fornecia dentro de sua loja uma espécie de palco para os epicentros de difusão cultural. Vale lembrar que Machado de Assis foi um dos vendedores e participante da famosa Sociedade Petalógica na livraria de Paula Brito, mas que, ao mesmo tempo, teve boa parte de sua obra publicada pelo francês Garnier. O ponto é que ficou nas mãos do editor-livreiro a capacidade de unir e articular a rede de (autores-editores-livreiros-leitores), marcando a ordem da sequência produtiva que seguimos desde então. Inclusive, parece haver um consenso entre os profissionais do livro de que o maior ídolo do mercado foi o José Olympio, exatamente por ter constituído uma consagrada “casa” que foi um templo de cultura e sociabilidade do mundo das letras.

Ao longo do tempo aconteceu um processo que levou a uma passagem de um modelo de livraria que atendia ao propósito de vender, e, ao mesmo tempo, o desejo de ser um espaço de sociabilidade, para um novo modelo que descrevo a seguir. No início o mercado girava em torno e para uma pequena fração da elite, e é apenas na segunda metade do século XX que se dedica ao entretenimento de massa. Tal mudança reconfigurou novamente a morfologia do mercado, mudando também as posições de poder das figuras da cadeia. Por exemplo, um acervo de livros organizado à maneira de José Olympio, reconhecidamente um bibliófilo e comerciante à moda dos intelectuais dos anos 1920–30, é certamente diferente de um acervo organizado por Oswaldo Siciliano 40 anos mais tarde, um dos livreiros mais conectados com o crescimento do mercado para além das elites, o que viria ser o futuro das grandes livrarias.

Resumindo de maneira mais simples, podemos dizer que o impressor-editor esteve centrado na oficina até meados do século XIX, enquanto o livreiro-editor centrou-se na loja. A partir dos anos 1920-30, o editor “autônomo”, começa escolher o escritório para o exercício de suas funções deixando gradualmente a loja. Logo, se houve um tempo em que emergiu o “editor, simplesmente” e seu modo de edição, essa separação também condicionou um “livreiro, simplesmente” com seu modo de comercialização.[1]

A partir de um longo processo de especialização que foi separando as funções de imprimir, editar e vender entre os agentes da cadeia, o trabalho de edição se emancipou do comércio da livraria com o qual antes se confundia, pelo menos do ponto de vista simbólico. Na segunda metade do século XX, os editores foram se desligando da figura do “editor que tinha uma livraria”, ao passo que os livreiros, já relativamente autônomos dos editores foram expandindo-se em redes de lojas, e se profissionalizando sob uma lógica bastante diferente da configuração anterior. É nesse momento da história que começa uma “nova era”, a era dos livreiros de um lado e dos editores do outro. Ora, lembremos que a Livraria Saraiva, que foi uma editora-livreira até pouco tempo, vendeu o braço editorial para o grupo Somos Educação somente depois de mais de 100 anos de vida, e embora, na prática, a livraria e a editora já tivessem dinâmicas internas separadas, seu declínio é um exemplo icônico dos efeitos da separação do par editor.

Voltando atenção aos editores, caminhando com o processo mais geral de massificação dos produtos brasileiros na segunda metade do século XX, as livrarias foram condicionando as editoras a criarem distinções entre si. Um dos exemplos que levanto para reflexão é que as livrarias passaram classificar as editoras de acordo com o tempo que o livro dela demorava para vender. Deste modo, fortaleceu-se um tipo de comércio de giro rápido das mercadorias, e para que isso fosse possível, também foi necessário que uma parcela das editoras também estivesse interessada em produzir para tal modelo. Este processo reconfigurou todo o ecossistema, aumentando a venda em exemplares de livros únicos, mas tirando a força da bibliodiversidade, basicamente afastando os livros que demoravam mais para vender.

O fato é que, quando alguns editores declararam sua “independência” dos livreiros, e as grandes redes decidiram caminhar para a sua “profissionalização” ligando-se ao modelo de gerenciamento dos grandes grupos financeiros, fazendo a crítica sistemática do modelo anterior, chamando o passado de “pouco profissional” e passando a seguir os novos manuais de marketing e administração, quase sempre avessos ao tempo de produção necessário para criação de uma obra artística ou acadêmica, é perceptível que aconteceu não apenas uma cisão econômica ou empresarial dos negócios, mas também uma de caráter simbólico. Parece que o conjunto dos afetos, das afinidades, e o caráter quase mágico da representação de pequena livraria e editora, como foi a “casa” de José Olympio, também mudam no século XXI.

A história mostrou que a parte da cadeia que se ajustou mais rapidamente aos grandes conglomerados, foi aquela que se manteve dentro das lojas seguindo os novos padrões comerciais. Jean-Yves Mollier tem razão ao afirmar que “os gestores, os financistas, os analistas formados nas escolas de marketing substituíram os caçadores de talentos, os leitores vorazes de pequenas revistas” por uma nova figura hegemônica na rede, “como escreveu André Schiffrin: a edição escapa cada vez mais dos editores”[2]. O que os autores franceses nos mostram é que ao escapar dos editores ela ficou bastante dependente dos grandes livreiros. É claro que não foram todos, e falaremos mais das exceções a seguir, mas a maior parte das editoras acabaram “presas” na oferta ajustada ao entretenimento e ao giro rápido. Foi assim que assistimos o século XXI reger uma certa predominância dos grandes livreiros sobre os editores. Como exemplo, podemos citar que até os anos 1980, vários profissionais relatam que o desconto médio dos editores para os livreiros girava em torno de 30% sobre o preço de capa, e sabemos que atualmente apenas alguns nichos do mercado, como os didáticos, conseguem manter margem semelhante.

Já no século XXI, com a era digital e a continuação da fragmentação do processo produtivo, ou seja, com a separação processual das figuras ao longo dos séculos, o livreiro, agora um “grande comerciante”, está cada vez mais desligado dos autores e dos intelectuais, ou seja, mais interessado na circulação e na distribuição da mercadoria. Enquanto isso, o editor aparece solitariamente conectado entre autores e intelectuais, embebecidos de um modo de produção que se apresenta em muitos casos como livre expressão artística, mas esbarram num circuito de (re)produção organizado pelo capital financeiro, em outras palavras, são muitos autores e editores fazendo mais do mesmo para entrar nas regras das livrarias.

Não podemos esquecer que a vanguarda sempre existiu, foram e ainda são aqueles que se colocam contra o modelo hegemônico do momento, e se antes havia uma certa predominância dos grandes editores-livreiros sobre os pequenos, hoje, aconteceu uma mudança nas negociações comerciais que tem a ver com uma mudança no perfil do mecenato.

O investimento que alavancava os livreiros e editores do passado tinha um perfil parecido com o mecenato de outras obras de artes, por exemplo, o mercado da pintura e do teatro. Enquanto muitas livrarias do passado foram financiadas pela oligarquia tradicional brasileira, o jeito de fazer livros ainda tinha fortes ligações com o perfil da sociabilidade das diversas elites nacionais. Ao passo que as grandes redes passaram a receber financiamento de grupos financeiros transnacionais, o perfil do empreendimento também mudou assemelhando-se ao jeito de ser e fazer daqueles que colocavam o dinheiro.

Ora, até mesmo os livreiros e editores que hoje levantam a bandeira de independentes também necessitam de financiamento para começar, então o novo mecenato disposto a contrapor os conglomerados financeiros têm se posicionado no espaço de disputa, logrando para si o todo capital cultural acumulado na história dos editores-livreiros, de certa forma, chamando de volta a energia social que a rede produzia quando esteve mais integrada, ou seja, retomando como marca de distinção a sociabilidade e a bibliodiversidade negligenciada pelos grandes conglomerados. Um exemplo interessante é a nova Livraria Leonardo da Vinci, que tem retomado uma parte fundamental da sua história ao reconectar autores e editores independentes no seu entorno.

Ainda refletindo sobre a vanguarda, é nos anos 1990 que acontece outra mudança significativa na lógica do mercado, numa outra ponta do espaço livreiro foram surgindo as feiras universitárias que operavam sob novas premissas comerciais em pelo menos dois sentidos: primeiro ao reconectar os editores e os leitores, principalmente os editores que não tinham os best-sellers. Segundo, por vender os livros pela metade do preço da livraria, funcionando de modo parecido ao editor-livreiro do passado, transferindo a margem de lucro do intermediário em desconto direto para o cliente final, o leitor. Assim, se observarmos as feiras com atenção, percebemos um evidente desconforto de alguns polos dominantes, por exemplo, a pressão dos grandes editores em relação à Festa da USP, que ao longo de seus 20 anos escancarou ao leitor como funciona o atual jogo do mercado das letras, apontando suas distorções que colocaram algumas editoras dentro do ecossistema das grandes livrarias, lançando pequenas empresas para fora da história do livro.

Concordo com os estudos do sociólogo José Muniz, ao entender que atualmente os independentes se chamam assim por se colocar na lógica das contraposições, na qual um tipo de livreiro e editor vai se distinguindo do outro, marcando-se pelo emprego de métodos artesanais de produção, liberdade para experimentos estéticos, e de modo geral, acabam emergindo como portadores de um discurso contra-hegemônico.

Até mesmo a Bienal vem mostrando que com a crise das grandes redes estamos diante de uma espécie de volta do editor-livreiro, embora ela venha mudando de perfil ano a ano, e aparentemente se desligando da velha rede do livro por conta de seu alto custo para os pequenos e médios editores, a feira tem se resumido como um dia em que o editor vira livreiro, exatamente como no início do século XX, pois ele pode montar o estande a sua semelhança e não a semelhança da grande rede. É o dia em que todo o mercado, inclusive aqueles autores, editores e livreiros que não tem estandes, desfilam pelos corredores com o objetivo de se encontrar.

Resumidamente, é claro que falo aqui de modos hegemônicos em cada período, ou seja, sempre existiram os impressores, editores e livreiros separados, mas os tipos ideais, aqueles que lembramos duzentos anos depois, parecem ter migrado de um “jeito de fazer livro” integrado em uma pessoa, seja na prática ou simbolicamente, para três sub-comportamentos distintos: os impressores, mais próximos do jeito dos industriais; os editores do jeito dos intelectuais; e o livreiro do jeito dos administradores do mercado financeiro.

Seja lá em qual modelo comercial e de edição o futuro desemboque, já está claro que, com a crise das grandes livrarias, estamos assistindo à volta exponencial do editor-livreiro, do editor que volta a ter livraria, da livraria que volta a editar e reconectar a rede, do booktuber que ocupa o velho papel da indicação de livros, ainda que todo o esforço seja apenas online ou dependente de feiras, clubes de leitura e outros modelos que hão de surgir.

[1] Esta perspectiva é baseada nos estudos do francês Roger Chartier e do pesquisador brasileiro Aníbal Bragança, ambos propõem uma sistematização da história do livro “modos de edição”. Para eles é como se cada “modo de edição” fosse aos poucos exercendo uma certa hegemonia em seu tempo.

[2] Mollier, Jean-Yves. O dinheiro e as letras, um comercio delicado. Revista Escritos, ano 5, n.5. 2011. p29


  • * Sergio Eduardo Sampaio Silva é sociólogo da cultura e pesquisador da história social do livro e da leitura no Brasil. Bacharel pela Universidade de São Paulo e Mestre pela Universidade Federal de São Paulo. Atuante no mercado de livros desde 2007, com experiencias em vários setores do mercado, passando pela Livraria Cultura, Livraria Saraiva e Siciliano, Thomson Reuters e atualmente na Editora Zahar.


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