terça-feira, 8 de dezembro de 2020

ENTREVISTA COM CLÁUDIA KALAFATÁS

CLÁUDIA KALAFATÁS


 1.        Conte um pouco de cada um dos livros que você publicou...

Cláudia: Meu primeiro livro, chamado Dilemas, Reticência – Poemas, eu publiquei em 2015, se não me engano. Quando eu mandei o material para a revisão e para a gráfica, ainda tinha sobrado material para quase que um segundo livro. Ele veio em um momento em que eu achei que tinha uma doença grave e achei que, talvez, não me restasse muito tempo de vida. E pensando nas coisas que já fiz, que coisa faltaria fazer, antes de eu desencarnar, eu pensei nos meus poemas. Essa foi a mola propulsora. Graças à Deus o diagnóstico de câncer na coluna, pelo jeito (RISOS) foi só para que a clínica que fez o laudo do exame, não fosse posteriormente acusada de não ter sequer suspeitado que poderia haver um câncer de coluna. No final, pelo jeito, foi uma grande hérnia extrusa entre a L4 e a L5 e o câncer não se configurou. O segundo livro nasceu pelo feedback que eu recebi do primeiro livro. O primeiro livro eu não me preocupei com capa, com página de dedicatória, com nada. Não me preocupei em pedir para alguém fazer uma crônica, colocar uma opinião no prefácio, então todos estes cuidados eu tive no segundo livro chamado Harpa Inerte. Com todas as poesias que não couberam no primeiro livro. E no segundo livro eu me preocupo mais com rima, com estrutura dos poemas... É claro que também houveram poemas que eu escrevi durante a concepção do segundo livro. Mas eu posso arriscar que sessenta por cento do livro era dos manuscritos, dos rabiscos, fragmentos de poesia, que datam desde os meus dezoito, dezenove anos de idade, então eu tinha muita coisa para poder lançar o segundo. O segundo livro, se não me engano, eu lancei em novembro de 2018. E muito embora meu terceiro livro não tenha sido publicado ainda, oitenta por cento dele já está no computador. Ele vai se chamar A Sala. E nesse livro eu me preocupo mais ainda com a métrica.

 

2. As publicações foi você quem pagou ou foi com alguma editora?

Cláudia: A primeira e a segunda fui em quem pagou e pelo jeito, a terceira também vai ser.


3. Seus livros vendem bem?

Cláudia: Os meus livros vendem bem no lançamento, na noite de autógrafos, depois não vendem bem. Depois a gente tem que ir atrás de feira de artesanato... Agora eu vou deixar vinte exemplares do Harpa Inerte em um bazar de natal, no Ribeirão da Ilha.

 

4. Onde seus livros podem ser encontrados?

Cláudia: O livro Dilemas, Reticências – Poemas, até um tempo atrás, eu tinha deixado cinco exemplares na Livraria Catarinense. O livro Harpa Inerte eu não me movimentei muito, porque eu o lancei no final de 2018 e 2019 foi um ano muito conturbado para mim e, 2020 eu não preciso falar nada (RISOS). Em relação à poesia eu não fui muito proativa em relação ao meu trabalho.

 

5. Qual a pior parte: escrever, publicar ou vender?

Cláudia: Escrever sempre é a melhor parte de qualquer produção literária. Publicar dá um certo “trabalhinho” porque, na minha segunda obra eu tive que mudar palavras por causa de concordância e essas palavras eram importantes. Eu queria fazer um jogo, uma brincadeira com as palavras, porém não era correto eu utilizar daquela forma. Eu não gostei, me senti aprisionada até onde as regras gramaticais da língua portuguesa podem interferir ou não. Nesse meu terceiro livro eu vou utilizar a licença poética e não vou aceitar esse tipo de interferência no que eu escrevo. Mas mesmo assim, publicar não foi ruim. Sem dúvida alguma, vender é sempre a atividade mais desafiadora, complexa e ainda misteriosa.

 

6. As palavras a seguir foram retiradas de um livro seu: “o tempo esclarece dúvidas, mas questiona minhas certezas”. Quais as dúvidas que você tem e que o tempo ainda não esclareceu e que ainda te incomodam?

Cláudia: Esse trecho, quando eu o concebi, representa o quanto oscilam as nossas dúvidas. O que hoje, o que para mim é uma dúvida, amanhã com a minha experiência, com a minha vivência, ou com um simples insight com as coisas que acontecem ao meu redor, eu tenho essas dúvidas esclarecidas. Quanto mais a gente domina um assunto, quanto mais a gente mergulha na vida, nas emoções, quanto mais a gente amadurece, nos seus mais diversos papéis, a Cláudia companheira, a Cláudia mulher, a Cláudia amiga, a Cláudia irmã, a Cláudia filha, a Cláudia profissional, quanto mais a gente evolui em cada um desses papéis, mais surgem questões. Talvez a minha alma seja mais inquisidora mesmo, seja mais de ficar questionando as coisas. Por isso que o tempo também questiona as minhas certezas. O que hoje é uma certeza para mim, em função da minha experiência, amanhã com uma outra experiência eu posso me enveredar por um outro caminho. Porque aquela experiência que me serviu ontem para que eu tivesse algum tipo de conceito, hoje a experiência é outra e está me afetando de uma outra forma, então eu posso mudar. Um dúvida que o tempo ainda não esclareceu e que ainda me incomoda é como é complexo um relacionamento entre as pessoas. Seja de ordem afetiva, seja de ordem profissional, de ordem familiar; e nesse período de pandemia, nesse período de guerras de narrativas, no que se refere ao nosso cenário político, isso está cada vez mais sensível. Para mim, sem dúvida, essa é a pergunta que ainda me incomoda muito.


7. Você tem algum ritual de preparação para escrever?

Cláudia: Eu tenho vários rituais para escrever, tenho uns pré-requisitos. O primeiro é o silêncio; se eu não tiver silêncio, pode, no máximo, estar tocando uma musiquinha calma. De preferência um Madredeus, Enya, pode ser Sara Mc Lachlan, enfim, músicas para interiorização; nada de músicas de baladas para fazer faxina, isso não funciona. Fora isso, eu tenho percebido que quando eu tomo uma cerveja ou um vinho, esse estado que a gente fica, que é um estado de leveza, um estado em que a tua observação fica mais aguçada, os teus sentidos também ficam mais aguçados, isso ajuda bastante. Às vezes, assistir um filme que tem uma mensagem bonita, daquelas que te tocam profundamente no âmago, isso é um start, um pontapé inicial para eu criar uma frase e com base nessa frase e no filme que assisti e naquilo que ele deixou em mim, latejando, e ali eu posso conseguir um bom resultado de escrita. Acho que para mim o pior pré-requisito é quando a gente está passando por um momento de dor – dor afetiva, dor emocional, dor na alma, Eu descobri também que essa é uma forma de eu trabalhar esta tristeza é através da escrita. Mas, infelizmente, essa é aquela de custo-benefício pior para mim. De qualquer forma, acho que é uma maneira válida da gente trabalhar o que está doendo dentro da gente, colocando no papel.


8. Você tem alguma meta de escrita, seja diária, semanal, ou escreve quando “bate” a inspiração?

Cláudia: Não. Não tenho. John Steinbeck é que tinha; eu li a biografia dele e ele tinha meta diária. Eu não sou disciplinada, eu prezo pela qualidade daquilo que eu estou escrevendo e não pela quantidade de letas e palavras, enfim... Às vezes eu fico meses sem escrever uma linha e aí em uma madrugada eu escrevo cinco, sete poemas; inacabados, sempre! É raro escrever um poema que se fecha por si só, no momento da inspiração. Mas tem momento em que muito material chega.

 

9. Quando você tem uma ideia, você a deixa incubando ou escreve imediatamente?

Cláudia: Às vezes eu deixo a ideia matutando na cabeça, para eu extrair dessa ideia uma frase, que seja o título ou o coração do poema. Então eu fico remoendo aquela ideia até que ela se materialize e eu possa escrever. E às vezes, dependendo do lugar que eu estou, se eu estou em um local que eu não consiga escrever, aí eu baixo imediatamente a ideia crua, a ideia que será fonte de inspiração. Tem momento para cada uma das duas situações.

 

10. Você escreve seus rascunhos à mão ou no computador? Justifique sua resposta...

Cláudia: Sempre escrevi meus rascunhos à mão; sempre. Na minha bolsa, até no porta luvas do meu carro, tem sempre um caderno pequeninho, no estilo moleskine; e caneta eu sempre carrego na bolsa. A digitação é para quando eu vou colocar esses poemas no livro, no arquivo do livro. Sempre escrevo o rascunho à mão.

 

11. De acordo com Fernando Pessoa: “Boa é a vida, mas melhor é o vinho. O amor é bom, mas é melhor o sono.” E para você, qual é a ordem de importância entre a vida, o vinho, o amor e o sono? Justifique...

Cláudia: Eu coloco na ordem: a vida, o amor, o sono e por último, o vinho. A vida porque sem ela não tem como amar. O amor, para mim é o chão, é a sustentação de cada um de nós enquanto seres que se relacionam com outros seres, sejam seres humanos, natureza, sejam os animais, seja a espiritualidade, enfim... Então o amor é peça fundamental da nossa existência. Sono, porque o sono restaura tudo: o sono restaura um dia ruim, o sono restaura um rompimento afetivo, o sono restaura o corpo físico, o sono restaura as dores da alma, o sono é tudo de bom. E o vinho porque ele tempera a vida, tempera o amor, embala o sono... Nossa!  Falar sobre o vinho daria, no mínimo, uma poesia

 

12. O que você diria a si mesmo se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?

Cláudia: (RISOS) Em momentos intempestivos, não jogue nada fora (RISOS). Eu joguei algumas coisas fora do que eu escrevi. Hoje, talvez, eu tivesse maturidade para retrabalhar uma coisa que eu criei há trinta anos atrás. Acho que era isso que eu diria para mim.

 

13. Na tua apresentação, você afirma que a música colabora com a tua inspiração. Onde é possível perceber a influência de Guilherme Arantes, RPM, Zizi Possi, Simone e de outros artistas, na tua poesia?

Cláudia: Guilherme Arantes cantou muito o amor nas suas diversas manifestações, Guilherme Arantes colocou amor na melodia das suas músicas. Zizi Possi também, Simone também. RPM, naquela música em particular... (Cláudia começa a cantarolar): “Havia um tempo em que eu vivia um sentimento quase infantil”... Não me lembro agora o nome da música, mas era uma música que me aquietava muito, para que eu me interiorizasse e pudesse falar de amor. O amor permeia a grande maioria das minhas escritas, então é nesse sentido. Como eu respondi anteriormente, a música ajuda muito a me interiorizar e chegar nesse estado de leveza, para que eu possa escrever. Explicitamente, nenhum deles estão nas minhas palavras, mas sem dúvida eles foram pano de fundo, mas eles tiveram o papel de conduzir a minha mente para um estado amoroso, afetivo e talvez até, passional. E uma vez nesse estado, muita coisa foi escrita aos embalos das melodias deles.

 

14. Rubem Alves disse em uma entrevista que: “leitura é algo que se deve fazer por prazer, de forma vagabunda, sem nenhuma obrigação”. E a escrita, também deve ser feita desta forma? Justifique....

Cláudia: Esta pergunta é um tanto quanto intrigante. Os jornalistas são obrigados a escrever, eles tem editoriais em jornais, em sites, então eles são obrigados a fazer, a produzir escrita. A minha escrita, ela sempre foi feita de forma prazerosa, sem nenhuma obrigação, de forma vagabunda (RISOS) – eu não gosto do adjetivo vagabunda, então eu vou deixar este trecho, para o Rubem Alves depois se explicar... Eu acho que o processo de escrita tem que ser prazeroso, tem que ser leve, a gente não pode receber nenhum tipo de pressão.

 

15. Você acredita que os jovens, atualmente, estão lendo muito, pouco ou quase nada?

Cláudia: Eu precisaria ter dados para poder afirmar, não gosto de “chutômetro” e eu não tenho filho; tenho um afilhado que está com quatorze anos. Do pouco que eu tenho observado, eu acho que eles estão lendo muito pouco, mas muito pouco mesmo – o que é uma pena. Mas como eu te disse, eu não tenho fundamentação, eu não tenho pesquisa, eu não tenho nada. É só um certo senso de observação, em relação aquilo que está ao meu redor.

 

16. Você quando era adolescente, lia muito?

Cláudia: Quando eu era adolescente eu lia o suficiente para passar de ano. A partir do livro do Visconde de Tanay – Inocência, e de um outro – Cinco Minutos, do José de Alencar, que eu gostei muito de ler. Eu comecei a ler medianamente, mas nada se compara a partir dos meus vinte e cinco, trinta anos de idade, quando eu comecei a ler bastante.

 

17. “Escrevo na urgente necessidade de compartilhar o que sinto, escrevo minhas verdades, meias verdades, minto”. Essas são palavras suas retiradas do livro Dilemas, Reticências: Poemas”, de sua autoria. Você escreve mais mentiras, verdades ou meia-verdades?

Cláudia: Eu escrevo muito mais verdades e meias verdades. Já aconteceu de eu ter que mentir numa situação para achar uma palavra que rimasse (RISOS), é um absurdo isso. Mas hoje eu tiro isso como uma licença poética. Eu já menti, mas graças a Deus, isso não é nem três por cento do que eu escrevo. Todos os meus livros são autobiográficos. As meia verdades eu colocaria como aquelas situações confusas que eu precisei resolver internamente, mas que eu nunca tive certeza se procederam desta forma para outra pessoa, ou não; são só inferências minhas. Graças a Deus, a mentira eu precisei usar para rimar, vê se pode... (RISOS). Tem poema que a narrativa é de um homem e não de uma mulher, então isso não deixa de ser uma mentira. Tem mais do que um poema em que eu tive que incorporar um narrador masculino, mas é que dessa forma eu tinha riqueza nas rimas, na história. Foi dessa forma que eu consegui as minhas rimas, então esse é um tipo de mentira. Hoje eu colocaria como uma licença poética e não como uma mentira, porque se o imaginário não tem limites, então porque que o autor tem que ser mulher, porque que ele não pode ser um homem. Por que que a gente não pode vestir a ótica do outro gênero? Qualquer tentativa, qualquer troca, qualquer experiência na hora de produzir poesia, que possa chegar em um resultado bacana eu acho que é válida.

 

18. É possível escrever bem, sem que a pessoa leia muito? Justifique...

Cláudia: Eu acho que sim. Ela pode escrever muito bem, se ler muito. Mas isso no âmbito da poesia, por exemplo. Eu não leio muita poesia, porque se é que eu tenho algum estilo de escrita, ele é meu. Quando se lê muito, outros autores, você acaba absorvendo o estilo dele, porque gostou; a métrica da poesia porque achou bacana, divertida e quer fazer isso também... Então a gente recebe influência e acaba replicando as influências no nosso trabalho. Eu já não gosto... Eu gosto de... sei lá, eu gosto de explorar as diversas formas de criação e a partir disso, tentar estabelecer um estilo de escrita que seja meu. Acho que eu ainda não tenho um estilo de escrita, porque a minha preocupação é escrever e de vez em quando, brincar com as palavras, com o formato... A poesia Quarenta e Dois S, do meu primeiro livro, ela foi assim: eu acordei um dia, tinha uma grande amiga minha que estava fazendo quarenta e dois anos de idade e eu pensei: “vou tentar fazer uma poesia com quarenta e duas palavras, daí eu percebi que as palavras com “s” são mais fáceis da gente conseguir um fluxo, uma leitura em fluxo coerente, discernível, compreensível. E o grande desafio é que a poesia, ao se ler, faça sentido, desde o primeiro “s” até o último.

 

19. Você se sente realizada, frustrada ou está parcialmente satisfeita sendo uma escritora?

Cláudia: Eu me sinto parcialmente realizada. Estou realizada porque tem trabalho meu publicado; se amanhã eu vier a falecer, no meu computador está lá o terceiro livro, com título e tudo mais. Então nesse sentido eu estou bastante satisfeita. A questão é: espaço para a gente conversar sobre poesia, espaço para a gente declamar poesia, espaço para a gente vender as nossas obras. Ainda está faltando muito para que eu me sinta realizada. Mas, talvez, o que esteja faltando para mim tenha mais a ver com auto estima, vaidade e questões financeiras. Eu até devesse olhar para essa questão de uma forma mais literária e não comercial, não sei. Mas sendo bastante sincera, eu me sinto parcialmente realizada hoje.

 

20. As palavras a seguir são suas: “escrevo para proclamar um desejo. Escrevo para dar vazão a uma inquietude interna. Pelo visto, os motivos que te levam a escrever são vários... Quais os mais recorrentes?

Cláudia: O desejo que eu falo ali era o desejo de me posicionar afetivamente, reclamar uma paixão escondida – reclamar no sentido de manifestar. Escrevo para dar vasão a uma inquietude interna. Não é só uma inquietude, nós temos muitas, principalmente quando tem uma segunda pessoa envolvida. Então eu diria que os motivos mais recorrentes que impulsionam a minha escrita seriam o equilíbrio afetivo e amoroso entre duas pessoas, assim como, de que forma manter esse equilíbrio no decorrer dos meses, dos anos, das décadas. De que forma você faz parte do casal, tentando preservar a tua individualidade enquanto pessoa. Como é que a gente elabora esta equação, como a gente coloca em prática esta equação. Isso é possível ou isso é utópico? Mas as inquietudes são mais nesse sentido afetivo, sem dúvida.

 

21. “É tão difícil as pessoas razoáveis se tornarem poetas, quanto os poetas se tornarem razoáveis”, Essa frase é de Pablo Neruda; você, por ser uma poetisa, é uma pessoa que não é razoável? Justifique...

Cláudia: Eu não sei qual foi o intuito que o Pablo Neruda utilizou a palavra razoável, nem de que forma foi feita esta tradução. Mas, ao ler, eu imagino que o razoável que ele esteja se referindo seja no sentido de mediano, normal, razoável no sentido ne normal. Pessoas normais, na minha leitura, dificilmente se tornam poetas e os poetas jamais serão pessoas normais. Porque o olhar é diferente, a sensibilidade é diferente, a compreensão e o entendimento das coisas que estão ao nosso redor é diferente. Não que nós estejamos em algum pedestal literário ou cognitivo, de inteligência... De forma alguma, não é isso. A lente que enxerga as coisas, o mundo, é diferente. Nesse sentido nós jamais seremos normais, razoáveis. Nós estamos fora da curva. E respondendo a pergunta, eu não sou uma pessoa normal, não sou uma pessoa mediana. De novo, não é no sentido de se autoproclamar, de se auto-vangloriar, de forma alguma. É em relação a lente, que pode estar no olho, que pode estar nas coisas que a gente ouve, pode estar na pele, na sensibilidade, pode estar na alma. A lente não é normal.

 

22. Há na literatura, um livro ou um poema que você gostaria de ter escrito? Se sim, qual seria?

Cláudia: Tem. É um poema maravilhoso. Acho que é do Carlos Drummond de Andrade. É inclusive, uma forma de escrita, metrada, que eu pretendo ainda produzir alguma coisa, nos moldes dessa estrutura.

 

23. Quando alguém te indica uma obra, autor ou autora que você não conhece, você procura informações sobre ele/ela, ou isso não te interessa?

Cláudia: Sempre que alguém me indica uma obra, um autor ou uma autora, o que vai definir se eu vou atrás, para pesquisar e depois adquirir a obra é, sem dúvida, a pessoa que está me indicando. Eu tenho inúmeros amigos poetas e dependendo de quem me indica, eu nem vou pesquisar. Agora, por outro lado, se é uma pessoa na qual eu tenho afinidade, em termos de gosto literário, aí sim. Pode ser que eu nem pesquise, pode ser que eu anote o título da obra, o nome do autor/autora e vá direto para a aquisição. Tem essas coisas que a gente precisa considerar.

 

24. Quem ou o que é que te inspira e te motiva a escrever? Onde você busca a sua fonte de inspiração?

Cláudia: As questões humanas são o que me inspiram e me motivam a escrever. Eu imagino que meu anjo da guarda é coautor da grande maioria das coisas que eu escrevo. Tem inspiração extra-física, sem dúvida. E eu acho que aquele momento em que a gente se recolhe em silêncio, de nós mesmos e que a gente analisa com bastante lucidez, aquilo que nos aconteceu e de forma mexeu conosco, de que forma a gente reagiu; como nos encontramos em função do que houve. A tentativa em explicar todas essas situações é o grande desafio da minha escrita.

 

25. Você já está preparando o próximo livro, ou ainda é cedo para pensar sobre isso?

Cláudia: Sim. Já tenho oitenta por cento do terceiro livro - que se chamará A Sala – pronto. A capa do livro será uma foto da sala da minha casa, que foi palco de muita – (Nossa Senhora) – de muita escrita. E ali na sala tem as coisas que eu te falei, tem silêncio, tem a televisão com aparelho de som conectado. Ali eu coloco as minhas músicas. É uma sala próxima da cozinha e eu consigo pegar minha cerveja, meu vinho, enquanto eu estou ouvindo música, no meu silêncio. Às vezes acendo uma velinha ou um incenso, às vezes não precisa...

 

 

 

 

 

CLÁUDIA FERRO KALAFATÁS

 


Nasceu em maio de 1966. Florianopolitana, é descendente de gregos e italianos. Concluiu mestrado em Administração e Gerência em 2008.

Escreve poemas desde 1991 e recebeu muita influência das obras de Ida Katzap, Neimar de Barros, Fernando Pessoa e Pablo Neruda. Atualmente lê André Ramos, Pablo Casals, Alice Ruiz e Cláudio Schuster, dentre vários outros.

A música em muito colaborou para a inspiração da poetisa. Assim, desde Genesis, Vangelis, Supertramp, passando por Fleetwood Mac, Eurythmics e Madredeus, até os mais recentes como Sarah Brightmann e The Corrs. As inspirações nacionais transitam entre Guilherme Arantes, Simone, RPM, passando por Zizi Possi, Oswaldo Montenegro, Renato Russo, Adriana Calcanhotto e Tribalistas.

Publicou seu primeiro livro em setembro de 2015 intitulado Dilemas, reticências: poemas. A segunda edição foi lançada em dezembro de 2015.

Co-editou Garimpo de palavras em 2007, Narrativas e Poéticas II em 2008, Elos & Anelos volume I em 2008, Microcosmos em 2009, Literatum & Poeticum volume II em 2009 e Labirintos e Palavras em 2010, todos através da Editora Guemanisse (RJ).

Em 2007 recebeu de seu poema intitulado 42 ésses, menção honrosa no Concurso de Contos e Poesia Guemanisse (RJ).

Em novembro de 2018 lançou seu segundo livro intitulado Harpa Inerte.

Em 2018 foi convidada a integrar a Antologia Poetas da Ilha, lançada em novembro daquele ano.

A autora é membro da Confraria do Pessoas, nome alusivo aos inúmeros heterônimos de Fernando Pessoa.

Em março de 2019 publicou poemas na revista eletrônica Escritores do Brasil.

Atualmente vem publicando poemas na revista literária eletrônica, de triagem trimestral, chamada A Ilha.

Sua terceira obra poética, provisoriamente intitulada A Sala, encontra-se em fase de criação. A autora pretende publicá-la em 2020.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

FUI ENTREVISTADO...

 

RENATO MÜLLER


1.         Fale um pouco dos livros que você publicou...

RENATO: Meu primeiro livro foi lançado em 2014, com o título Não Sou Escritor, com poemas e um conto. Foi um livro que eu publiquei e ao mostra-lo para minha mãe, lembro que ela ficou emocionada, pois este era um sonho que ela tinha e não conseguiu realizar. Sem saber disso e por acaso, eu acabei realizando o sonho dela.  

No ano seguinte, em 2015, publiquei o livro infantil A História de Lí, direcionado às crianças em fase de alfabetização, com direito a ilustrações para ser pintado/colorido. Mas que eu recomendo que a pessoa adulta também deve ler, pois ele tem uma mensagem direcionada aos leitores que são pais, mães, tios, tias, avós....

Em 2016, empolgado pela arte da escrita, eu publiquei dois livros, que foram lançados de forma simultânea: Um Vale de Versos Diversos e também, Poucas Palavras. Ambos com poemas e contos.

No ano de 2017 publiquei um livro coletivo, onde além de ser o organizador, fui um dos autores. Esta experiência foi interessante e o aprendizado foi grande, pois tive que lidar com o ego, desejo, vontade das pessoas envolvidas, além de ter paciência com uma situação desagradável que ocorreu com um dos autores, após a publicação e o lançamento do livro. O título do livro foi Eu Conto! Tu poemas! A escolha deste título se deve a dois motivos: o primeiro é que cada autor/autora deveria escrever pelo menos um conto e um poema. O segundo motivo é uma brincadeira com as palavras: conto e poema. Lembrei de Mário Quintana que escreveu Poeminha do Contra e resolvi brincar com as palavras, assim como o poeta Quintana. Sei que foi atrevimento meu, mas considero o título que escolhi como uma singela homenagem.

Em 2018 voltei a publicar de maneira individual e o título foi: Lembranças Que Trago Comigo; novamente com poemas e contos.


2.         As publicações foi você quem pagou ou foi com alguma editora?

RENATO: Eu sempre arquei com a publicação e com as demais despesas do livro e de seus lançamentos.


3.         Seus livros vendem bem?

RENATO: Não, não, não, não, não e não (cada não representa um livro publicado). Estou longe de ser um sucesso de vendas.


4.         Onde seus livros podem ser encontrados?

RENATO: Diretamente comigo.


5.         Qual a pior parte: escrever, publicar ou vender?

RENATO: Vender, sem a menor dúvida!


6.         O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longos destes anos em que você publica livros?

RENATO: Inicialmente eu escrevia poemas e sempre tentava encontrar rimas perfeitas. Ao longo do tempo comecei a escrever com rimas cruzadas, imperfeitas, sem ter muita preocupação em buscar a perfeição.

Outra mudança foi o fato de eu começar a escrever contos, o que para mim foi, inicialmente, difícil, pois eu tinha que criar uma história, sequência de fatos, diálogos.... Foi uma tarefa diferente, porém, de certa forma, interessante e surpreendentemente aprazível.


7.         Você acha que a escrita fica mais fácil à medida que envelhece ou a idade nada tem a ver com a escrita?

RENATO: Não acredito que a facilidade para escrever tenha relação com a idade. Tem relação sim, com a questão da prática, da leitura e do conhecimento de técnicas que existem e que são possíveis de aprender em oficinas e mini cursos literários, como foi o meu caso.


8.         Qual dos seus textos deu mais trabalho para escrever?

RENATO: Foi o poema que escrevi para meu irmão – Roberto. Quando tive a ideia de escrever o poema para ele, tentei muitas vezes, mas não conseguia escrever algo que me agradasse. Começava e desistia, sempre sem sucesso. Foram várias tentativas frustradas e uns cinco ou seis meses nessa situação. Sempre que eu tentava e me concentrava para escrever para e sobre meu irmão, eu fracassava. Eis que, uma certa noite, ao tentar mais uma vez, o poema saiu de uma maneira fácil e suave, sem que fosse necessário realizar muitos ajustes, como normalmente eu faço.


9.         Quando inicia um texto, você sabe exatamente como ele vai terminar?

RENATO: Não. Já comecei um texto pelo fim, pela última frase.... Também teve situações em que eu pensava em terminar de uma maneira e o fim foi escrito de forma totalmente diferente. As coisas podem ter uma ideia ao começar a escrever, mas é no ato de escrever e de criar que vou direcionando o texto do jeito que eu achar melhor. Não fico engessado com o que penso inicialmente. Mudo constantemente.


10.     O seu primeiro livro tem como título: “Não sou escritor”. Você tem seis livros publicados; você já se considera um escritor?

RENATO: Não! Sou apenas o autor daquilo que escrevo. No primeiro poema, do meu primeiro livro, eu explico o motivo pelo qual eu não me considero um escritor.


11.     O grande escritor Carlos Drummond de Andrade disse uma vez “Minha poesia é cheia de imperfeições. Se eu fosse crítico, apontaria muitos defeitos. Não vou apontar. Deixo para os outros.” Quais são as imperfeições na tua poesia?

RENATO: Muitas! Várias! Assim como Drummond, eu deixo para outras pessoas a tarefa de apontar minhas imperfeições. Aliás, o ser humano tem por hábito a facilidade de criticar os outros, então, que as pessoas me critiquem e apontem os meus defeitos e falhas.


12.     Existe algum assunto ou tema que você não escreveria ou não escreve?

RENATO: Não tenho o hábito de utilizar “palavrões”, ofensas ou qualquer tipo de crítica naquilo que eu escrevo. Prefiro escrever de um jeito leve, descontraído e alegre.


13.     Há uma frase atribuída ao poeta cubano José Martí que diz o seguinte: "Há uma coisa que um homem deve fazer na sua vida: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro." Você já fez essas três coisas?

RENATO: Sim! Então, partindo deste raciocínio, minha vida está completa e eu já posso morrer... Mas, sinceramente, quando penso na minha morte, espero que ela demore um pouco mais para chegar, pois ainda quero escrever e publicar um pouco mais.


14.     E a morte, te assusta? Como você gostaria de morrer?

RENATO: A morte é uma certeza para qualquer pessoa. O que me preocupa um pouco é a forma que eu morrerei. Que seja rápida e que venha quando eu não tiver mais lucidez e começar a dar trabalho para outras pessoas.


15.     Sei que você gosta do escritor JG de Araujo Jorge... Ele escreveu: “Talvez seja o tempo...a vida...a idade... mas a gente vai aprendendo a renunciar a tanto que se quis...” Quais as coisas que você renunciou ao longo dos anos, no que diz respeito à escrita?

RENATO: Não considero uma renúncia, mas um adiamento..... Quando meus textos estão prontos para publicar e por “detalhes financeiros” e tenho que adiar a publicação e o lançamento de um livro.


16.     Qual a influência da tua família no teu gosto pela leitura e pela escrita?

RENATO: Direta e imensa. Mesmo tendo sido um aluno sofrível, nos meus tempos de colégio, eu gostava de ler. Iniciei com gibis e posteriormente livros infanto-juvenis. Minha mãe e meu pai, sempre que possível, compravam para mim, meu irmão e minha irmã, gibis que foram fundamentais para incentivar o hábito pela leitura. Passei a gostar de escrever somente depois dos trinta e tantos anos de idade e ao mostrar meus textos para meus pais, eles sempre me incentivaram.


17.     Dentre os livros que você publicou, um deles foi coletivo, onde além de ser um dos autores, você foi o organizador. Um livro coletivo é mais fácil de publicar do que um livro individual, pelo fato de não seja necessário escrever todo o conteúdo?

RENATO: Não, pelo menos, na experiência que tive. Pois alguns problemas ocorreram e me ensinaram muita coisa. Organizar um livro coletivo, apesar de não ter o trabalho e a necessidade de escrever todo o conteúdo, na minha opinião, é mais difícil e desgastante.


18.     Você tem intensão de organizar e publicar outro livro coletivo, ou descarta esta possibilidade?

RENATO: Apesar dos perrengues que passei no livro coletivo que organizei e que me trouxeram incomodação e dor de cabeça, eu pretendo sim, organizar novamente, outro livro coletivo, pois a alegria em reunir várias pessoas e compartilhar a emoção de publicar um livro, com certeza é maior que a chateação que possa existir.


19.     Quem mais na sua família escreve e tem livro publicado?

RENATO: Meu avô materno escrevia muito e escrevia bem: cartas e outros textos, pelo menos é o que dizem... Mas, infelizmente, não se guardou nada do que ele escreveu.... Minha mãe, por ser professora, bibliotecária e ler muito, escreve bem, mas não publicou livro. De meu pai eu tenho a lembrança, da minha infância, quando ele pedia a nossa ajuda para datilografar cartas e ofícios, quando ele foi Diretor de Relações Públicas, do Clube Náutico Riachuelo. Ele ditava o texto e eu ou meu irmão que datilografávamos. Na época eu achava aquilo chato, mas hoje eu consigo lembrar de alguns detalhes que utilizo nos dias de hoje.


20.     Você já está preparando o próximo livro, ou ainda é cedo para pensar sobre isso?

RENATO: Tenho um livro individual que está pronto para ser publicado, mas esperando eu ter dinheiro e finalmente, publicá-lo. Além disso, há um projeto de outro livro coletivo, cujo trabalho inicial de contato com alguns autores e autoras para fazer parte da obra, já começou e teve algumas confirmações. Por enquanto, é isso!

 

 

RENATO LISBÔA MÜLLER

 




Nasceu em Florianópolis em 1968. Em 2001 foi morar na cidade de Rio do Sul.

Possui formação acadêmica na área do turismo: é guia regional, bacharel, tem especialização e mestrado.

Publicou seis livros e apesar disso, continua a afirmar que não é escritor.

Gosta de escrever poemas para cidades, exaltando as características que julga que sejam positivas para o turismo.

Seus textos também partem do imaginário beirando o impossível, como Briga na Feira, Futebol de Bichos e Briga de Insetos.

No mais, seus textos possuem a leveza de quem escreve sem a obrigação de agradar os críticos literários de plantão.

ENTREVISTA COM LAURA FLORES

 

LAURA FLORES

 

1.         Quantos livros vocês publicou? Em que anos eles foram publicados? Quais os títulos destes livros?

Laura: Eu já publiquei dois livros. O primeiro deles foi o livro Dança das Flores - a bailarina que perdeu o equilíbrio, no ano de 2013. E o segundo: Dança das Flores – Inspirando Vidas, em 2018.

 

2.         A publicação foi você quem pagou ou foi com alguma editora?

Laura: A edição, impressão do livro eu tive apoio, porque o primeiro livro eu fiz pelo projeto de crownfounding – Catarse, consegui arrecadar um bom valor, só que não supriu todos os gastos, muita coisa eu tive que bancar. E o segundo livro eu consegui um apoio de várias empresas que me apoiaram no lançamento, como com salgadinhos, a parte de impressão foi paga por alguém, cabelo para o lançamento, tudo isso eu tive apoio e acabou dando tudo certo.

 

3.         Seus livros vendem bem?

Laura: Sim. A primeira obra minha vendeu muito bem; na época eu ainda tinha a escola de dança em Florianópolis e por todo o movimento do lançamento acabou tendo uma repercussão muito grande. Vendeu a edição completa – foram quinhentos livros. Nem todos foram vendidos, muitos foram doados para pessoas que participaram da edição, mas vendeu bastante. Já o segundo foi uma edição de mil livros e não vendeu tão bem assim; vendeu... sei lá, nunca fiz contagem de quanto vendeu, mas deve ter vendido uns quatrocentos, talvez.

 

4.         Onde seus livros podem ser encontrados?

Laura: Os meus livros podem ser encontrados diretamente comigo, tanto pelo Instagram, quanto Facebook: Laura Flores Inspirando Vidas, por mensagem, ou então, pelas minhas redes sociais Laura Flores Inspirando Vidas, que é o caminho mais fácil; eu envio diretamente para as pessoas.

 

5.         Conte-nos um pouco sobre seus livros, o que eles abordam?

Laura: O primeiro livro é A Bailarina que Perdeu o Equilíbrio, é toda a história inicial, com as perdas que eu tive, foi muito focado nas perdas, na biografia mesmo, de contar a minha história registrada, que esse era o meu objetivo, quando eu escrevi o livro. E graças à Deus eu consegui. Já, o segundo livro, que foi o Inspirando Vidas, eu consegui fazer com outra abordagem. Eu estava em outro momento, de renascimento, de adaptação a essa nova vida, aonde eu conquistei várias coisas e é isso que ele aborda. Claro que todos os livros tem depoimentos de pessoas que participaram da minha história e que só vem a enriquecer a nossa obra.

6.         Qual a pior parte: escrever, publicar ou vender?

Laura: Deixa eu pensar.... mais dificultosa, eu acho que é escrever. Tem toda a construção, estruturação, tem que ser tudo elaborado pra sair uma boa obra. Hoje eu me enxergo uma escritora completamente diferente, hoje eu me enxergo uma escritora mais profissional. Na minha primeira obra eu era uma escritora completamente amadora. Eu fiz tudo com a ajuda de pessoas, muitos auxílios vieram até mim e eu consegui. Aí eu era como um polvo, como eu costumo dizer, tinha vários braços e eu ia pegando várias ajudas. Mas escrever é uma parte bem dificultosa. Eu acredito que a publicação a gente se vira! Hoje tem muito recurso, tem muita opção de gráfica, tem opção da publicação e-book, tem muitas opções. E vender, talvez seja a pior parte, porque a concorrência é muito grande. A gente tem que aprender a “se virar nos trinta”, fazer bananeira para chamar a atenção e conseguir chamar a atenção do leitor.

 

7.         Quem são as primeiras pessoas a ler seus escritos, antes de enviá-los para a publicação?

Laura: As primeiras pessoas a lerem os meus livros, são sempre da família. Quando eu morava com meus pais, eram os meus pais que sempre me apoiavam e liam. A minha mãe, que é muito mais da parte literária, me apoiava bastante e, hoje, mais o meu marido e novamente a minha mãe – eu peço muito para ela, ainda. São as pessoas mais próximas a mim. Tem uma pessoa que eu sempre tenho pedido para me apoiar nos meus projetos, que é a Juliana Germann. Ela até participou aqui das entrevistas também e ela é uma pessoa muito humana, muito carinhosa e muito atenciosa e me ajuda bastante também.

 

8.         Elogie a sua escrita, ou seja, o que você mais gosta nela?

Laura: Eu gosto na minha escrita, a espontaneidade dela, a forma visceral que ela nasce e que ela depois é lapidada. Tudo dessa forma, geralmente comigo é assim. Eu não consigo ser diferente, infelizmente não dá para ser completamente técnica. Se eu não estou inspirada, se eu não tenho sentimento eu não consigo escrever. Tem que ser..., tem que ter muita inspiração para começar uma obra ou texto ou qualquer coisa que seja, na parte da literatura.

 

9.          A técnica é tudo, nada ou meio caminho andado? Aliás, com quem e onde você aprendeu?

Laura: Eu acho que a técnica é um grande apoio para nós escrevermos. Hoje eu descobri que tem muitas técnicas para escrever e estou, inclusive, fazendo um curso de escrita on line, e está sendo de um conhecimento absurdo. E além, disso, na própria internet tem muita coisa de forma gratuita e isso nos apoia muito. Claro que se eu tivesse feito um curso de jornalismo ou um curso de letras, eu teria uma base muito maior. Mas a técnica ajuda muito, mas eu não tive esta base, então eu tive que me virar como eu podia e hoje eu venho buscando novos apoios para a minha escrita.

 

10.    Você passou e ainda passa, por um problema grave, com a doença que é a Síndrome de Susac, que limitou seus movimentos e atrapalhou a sua carreira de dançarina. Conte-nos um pouco dessa doença e a sua história, a partir do momento em que os sintomas começaram a surgir...

Laura: Com certeza eu ainda passo por problemas relacionados à Síndrome de Susac, a doença de Susac, que eu tive no ano de 2005 e ainda traz muitas sequelas para mim. Tanto na parte motora, que meu equilíbrio é completamente alterado – eu só consigo dançar segurando na parede, por exemplo, ou usando um andador, o que eu acho maravilhoso ter essa opção; ou deitada no chão ou me apoiando em outra pessoa. Tem outra opção, mas não é da mesma forma que eu dançava. Esse é o enfoque que eu tenho nessa minha nova obra, de fazer diferente, de fazer o mesmo mas de uma outra forma. Me adaptando e transformando no melhor do que podemos ser. Além dessa questão física, eu tenho questões cerebrais bem presentes, que eu tento fugir e eu sofro muito ainda, por não conseguir ser da mesma forma que eu era. Eu tenho um apoio terapêutico, que eu não largo há quase quinze anos, ou mais de quinze anos. Pois assim que eu tive a doença, eu comecei a me tratar com ela e eu não largo porque ela ajeita a minha cabeça de tal forma que eu consigo seguir. Na semana passada me deu um desespero, uma tristeza... eu não lembro exatamente o que eu não consegui fazer. Aí eu pego, mando uma mensagem par ela, desabafo e depois, na nossa sessão a gente conversa. Se não for assim, eu não consigo, eu preciso desse apoio. Além da questão cerebral, vou resumir, para poder pontuar: a questão da memória ainda “pega bastante”, a questão da organização ainda “pega bastante”, deixa eu ver o que mais.... se eu faço muita coisa, eu começo a ficar cansada, não é que eu queira, eu começo a ficar cansada. E aí eu tenho que parar, tenho que relaxar, tomar café, tomar uma água e seguir. É óbvio que eu não sou da mesma forma que eu era, até porque hoje eu tenho quarenta e dois anos e quando eu tive a doença de Susac eu tinha vinte e sete anos; eu estava na “flor da idade”. As coisas vão mudando, a gente tem que se adaptar a nova realidade da nossa vida.

 

11.    Sua memória e lembranças foram afetadas?

Laura: Sem dúvida alguma que foram afetadas! A minha terapeuta, geralmente fala assim: “Laura, tu tens tudo, só que tudo em velocidade menor”! Isso é uma coisa lógica; é só me ver caminhando, que a pessoa consegue entender. Vou dar um exemplo prático: ontem eu estava vendo um filme, o Karatê Kid, com meu marido, - foi um filme que eu vi, um filme forte na minha juventude, eu era apaixonada por aquele menino do filme... Com certeza eu lembrava de tudo; quando nós vimos ontem, eu não me lembrava de nada, nada, nada! Só do rapaz, do sr. Miagui, por exemplo, mas detalhes, como ele lembrava e falava: “Agora vai começar a acontecer tal coisa...” Eu falava: “Meu Deus, como é que tu lembra disso? Eu não me lembro”! E ele viu, da mesma forma que eu. A minha memória ficou afetada sim, com certeza absoluta. Só que, eu tenho que seguir, tenho que me adaptar e conseguir outras formas de fazer. Hoje se eu não tenho as coisas anotadas, eu fico ferrada, pois eu não tenho como fazer sem anotar. Aliás, quando eu era muito nova, eu anotava tudo também. Eu pego meus cadernos, minhas coisas do passado e está tudo anotado. Agora eu vou querer não anotar? Daí não dá, né! Tem que anotar (RISOS). Tem que se apoiar nas estratégias que a gente tem.

 

12.    De que forma a escrita ajuda você a enfrentar e a superar os desafios e obstáculos que surgem no teu dia a dia, que são gerados pela doença?

LAURA: A leitura foi um pouco prejudicada. A escrita me ajuda quando eu consigo me concentrar e finalizar uma página, duas páginas; é tudo devagar. Mas a escrita me auxiliou e muito, eu tenho que ter muita inspiração, tem que vir aquela mensagem interna para eu começar a escrever alguma coisa e eu escrevo. Ou quando eu tenho objetivo pré-definido, algum planejamento pré-determinado, daí eu consigo fazer. Então, me auxiliou e muito, de verdade. Quando dá aquela tristeza, aquela depressão que ainda não se instalou, mas está para vir. A gente escreve e fica tudo muito melhor.

 

13.    Lendo uma reportagem feita contigo, há uma fala sua de que após o diagnóstico da sua doença você “começou a dançar com as palavras e que renasceu em flores”. Fale mais sobre este fato, por favor...

LAURA: Eu comecei a dançar com as palavras e de fato isso aconteceu. Eu danço hoje com as palavras, é um baile legal, porque a gente começa a dançar e tudo fica mais tranquilo. E eu consigo renascer suavemente, por isso que eu uso as flores numa metáfora bem cabível, no momento. Eu consegui renascer tranquilamente. E claro que, fujo de qualquer outro problema ou qualquer outra doença pré-existente que esteja por parecer, a gente tenta driblar e através da escrita, através da leitura de pequenos textos, que é o meu ritmo, não por escolha, mas por opção da vida, eu consigo fazer os meus bailes.

 

 

14.    São palavras de Machado de Assis no poema Livros e flores:

Teus olhos são meus livros.

Que livro há aí melhor,

Em que melhor se leia

A página do amor?

 

Flores me são teus lábios.

Onde há mais bela flor,

Em que melhor se beba

O bálsamo do amor?

 “Flôres é um dos seus sobrenomes... Qual a flor que você mais gosta de receber ou a flor que você acredita que tenha mais a ver com a tua pessoa? Justifique....

LAURA: Flores lindas, flores perfumadas, flores que nos acalmem, como as tulipas, por exemplo, adoro também as violetas, adoro as orquídeas, adoro as rosas, adoro todas as flores. Não tenho muita preferência, mas as tulipas me encantam bastante.

15.    Cora Coralina escreveu: “Fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores”. A sua vida tem sido assim: removendo pedras e plantando flores. Quais as pedras mais difíceis de remover em teu caminho e quais as flores mais belas que você tem plantado?

LAURA: Foram muitas pedras, com certeza. Mas hoje com meu pensamento que já está mais claro e linear, nesse sentido, eu diria que foi parar de dançar. Porém, dançar daquela forma que eu dançava, e isso me doeu e muito. E tem mais uma pedrinha, que na verdade é um “pedrão” que é ter que parar de dirigir, foi muito dolorido. E as flores mais bonitas que eu encontrei pelo caminho foram:A a sensação de poder andar de uber, de táxi, de carona, de ônibus, enfim, como for... E foi realmente quando eu me redescobri e também descobri que eu posso continuar dançando, de outra forma, mas continuo dançando.

 

16.    No meio da noite lhe vem uma ideia; você deixa para pensar no dia seguinte ou levanta para anotar?

LAURA: De forma alguma eu deixo para anotar no dia seguinte. Eu acordo e anoto nas notas do meu celular. Até às vezes, meu marido acha que eu sou meio doida, quando ele ainda está acordado e eu estou quase dormindo e eu: “Tenho que escrever uma coisa”. Eu vou lá e escrevo.

 

17.    Inspirando Vidas é o título de um livro seu e, com certeza, sua história, garra, energia e luta inspiram muitas vidas; mas, o que é que inspira a vida de Maria Laura de Carvalho Flores?

LAURA: Com certeza e não é que eu sigo à risca tudo o que ela faz..., mas é a minha mãe. Ela me inspira dia após dia, me inspira nos erros dela, nos acertos dela, no aprendizado dela, no ensinamento dela, na história dela, em tudo!

 

18.    Neste livro, constam as seguintes palavras: “Laura é uma pessoas cujas ideias não cabem na cabeça”. Isso foi escrito por Giovanna Aritigiani. Quais as ideias que você tem e que não cabem na sua cabeça?

LAURA: Nunca vi uma frase tão correta para mim. Frase da minha querida terapeuta ocupacional, a Giovanna e tem muito a ver comigo. Eu penso milhões de coisas e eu tenho que, hoje em dia, conseguir segurar, organizar e dosar esse meu pensamento para não entrar em curto circuito novamente. E tenho que me segurar! E ela me ajuda muito nisso, ainda hoje, graças à Deus!

 

19.    No seu livro você menciona sobre o “ponto de virada”, quando você começou a aceitar a doença e a se adaptar a nova realidade, procurando novas formas de dançar. Como isso aconteceu e o que mudou na sua vida com esta “aceitação” da nova realidade?

LAURA: A minha aceitação da realidade foi quando da minha aceitação e começar a viver novamente, de uma outra forma, mas consegui viver. Não é fácil, os desafios são gigantescos, a tristeza vem, bate e me assombra, mas eu dou um jeito de fugir dela. A comparação com a Laura antiga está presente, quase diariamente. A comparação com outras pessoas também é muito presente, mas eu consegui me redescobri de verdade e foi no ponto da virada que tudo mudou, quando eu compreendi que podia ser boa, da forma que eu sou. Fazer o bem, da forma que eu sou, que é possível. Eu não posso ir até um lar fazer boa ação para as pessoas, mas eu consigo ir em eventos pontuais, fazer boa ação. É um exemplo que eu dei, mas são vários exemplos que eu consigo fazer essas adaptações na minha vida.

 

20.    Eu retirei do seu livro as seguintes palavras que foram escritas sobre a tua pessoa: “sua superação é um exemplo para todas as mulheres desse Brasil. Laura é forte, guerreira, batalhadora. E o que mais admiro nela: nunca desiste dos seus sonhos, independente de qualquer obstáculo que apareça em seu caminho.” Essa declaração foi feita pela sua sobrinha Gisele Flôres. Como é a sua relação familiar e qual o maior ensinamento que sua família lhe deu ou lhe dá?

LAURA: Foi muito forte ler aquele capítulo sobre mim. Quando ela me entregou de presente, eu não sabia o teor daquele capítulo. Quando eu tive oportunidade de ler eu chorei, chorei, chorei e quando eu vi que ela me considerava – (eu não posso chorar agora quando eu falo.... calma!) – que ela me considerava uma pessoa forte, que não desistia dos sonhos e, independente de qualquer obstáculo... porque realmente sou eu. A Gisele e eu temos uma conexão muito forte, até achavam que eu era a mãe dela, lá no começo... Eu fui tia da Gisele com dezessete anos, bem novinha, então tem uma história muito marcante na nossa trajetória e é muito lindo ela poder falar isso sobre mim e eu me orgulho de poder permitir que ela sinta isso de mim. E eu tenho certeza, daquela frase que falam para a gente: “será que a Lura criança se orgulharia da Laura de hoje? Eu tenho certeza que sim, ela se orgulharia sim. Assim como a minha sobrinha se orgulha, graças à Deus”!

 

21 Conte-nos sobre os lançamentos do seu livro; primeiro, onde eles foram lançados e como tem sido a receptividade?

LAURA: O meu primeiro livro eu ainda tinha a minha escola de dança. EU estava fechando a minha segunda escola de dança, fechei para sempre para me dedicar a esses projetos e foi um lançamento que foi com um espetáculo, foi um lançamento que foi na Fundação Franklin Cascaes, no centro. Teve convidados, teve coquetel, foi um lançamento show, foi muito lindo. O meu segundo livro; esse meu primeiro livro tem edição esgotada – graças à Deus! O segundo livro foi feito na Fundação Badesc, no centro, veja que interessante: quando eu lancei o primeiro livro eu botei na cabeça: “Eu vou fazer o lançamento do próximo livro aqui”, e foi lá que aconteceu. Eu dancei, eu caí na hora que eu dancei; eu caí, me espatifei no chão, mas eu consegui fazer um lançamento maravilhoso. Foi muito bonito, muito forte. Graças à Deus a repercussão foi bem boa. Os livros da segunda edição ainda estão nas livrarias, tem comigo para venda ou direto no Instagram, por mensagem no Facebook, pelo próprio whats up, que é mais barato comigo – é dez reais mais barato ou então nas livrarias.

 

22. E os próximos lançamentos, onde e quando serão?

LAURA: Os próximos lançamentos eu não sei como serão, estamos em um momento muito indefinido na nossa história, na história da humanidade, como um todo e estamos ainda estudando, no planejamento, no projeto, da próxima obra minha. Com certeza já está na minha cabeça, tenho duas obras na minha cabeça, só que não sabemos se será em e-book apenas, se será em áudio livro, se será livro físico... De que forma será o próximo livro, não sabemos. E os lançamentos a gente vai desenrolando no andar da carruagem e a nova dança que virá ninguém sabe quando será, mas certamente será linda.

 

23.O show não pode parar! Você é um show de inspiração e simpatia, que merece nossos aplausos. Por falar em show, tem algum show ou espetáculo que você está preparando para 2020 e que pode nos adiantar alguma informação?

LAURA: Pois então, o próximo show... Eu estou doida para dançar, por enquanto eu estou dançando somente em casa. Os vídeos estão no aplicativo, pela internet e estou fazendo o que é possível por conta da pandemia. Eu optei por me manter segura e para manter seguro meus pais, que eu mantenho muito contato com eles, meu marido e nos mantemos seguros. Assim que a pandemia passar eu já tenho alguma coisa planejada na minha mente, de dança de salão. Já tenho o parceiro, mais ou menos, desenhado, escolhido. Vamos ver o que o universo manda para mim. Mas, vai ter! Estou começando a bolar...

 

24. Você já está preparando o próximo livro, ou ainda é cedo para pensar sobre isso?

LAURA: Ele já está no caminho. Tenho bastante material no computador, agora estou na fase de organização inicial do material, para depois partir para as próximas etapas. Mas ainda é cedo para falarmos sobre isso; é um momento muito instável da nossa história. Eu prefiro me manter no aguardo.

 

LAURA FLORES



 

Nasceu em 5 de dezembro de 1977, em Florianópolis.

Aos 17 anos profissionalizou-se em dança de salão, É formada em Educação Física pela UDESC.

Sua trajetória artística tem destaque na dança. Como bailarina profissional, participou de escolas de danças, academias, mostras, festivais, congressos e eventos em todo o território nacional.

Em 2005, foi diagnosticada com Síndrome de Susac, uma doença autoimune rara que afeta o sentidos como visão e audição.

“Foi neste período que comecei a dançar mais com as palavras”, relembra Laura, que é escritora desde 2012.  “O enredo de minha vida levou-me a vivenciar este período de luto e posteriormente, renasci em flores”, conta.

O diagnóstico foi feito pelo médico neurologista Fernando Freitas. Na época, ela era uma das 80 pessoas do mundo e a primeira em Santa Catarina portadoras da rara Síndrome de Susac.

A doença que tem maior prevalência em mulheres jovens afetou suas atividades diárias. Os olhos não enxergam mais a profundidade dos objetos, assim como o corpo, que se move apenas com o auxílio de um andador.

Mas Laura segue a vida, ensaiando seus passos, e tendo a certeza de que o show não pode parar!

CASA DA LITERATURA CATARINENSE

https://ndmais.com.br/cultura/inaugurada-em-florianopolis-a-casa-da-literatura-catarinense/ CASA DA LITERATURA CATARINENSE Inaugurada, em...